Cemitérios de Goiânia registram visitas de familiares e fãs

Os cemitérios de Goiás ganharam vida no último 2 de novembro, enquanto as famílias se reuniram para relembrar com carinho aqueles que já partiram

Postado em: 03-11-2023 às 08h27
Por: Tathyane Melo
Imagem Ilustrando a Notícia: Cemitérios de Goiânia registram visitas de familiares e fãs
Os cemitérios de Goiás ganharam vida no último 2 de novembro, enquanto as famílias se reuniram para relembrar com carinho aqueles que já partiram | Foto: Tathyane Melo/O Hoje

No último dia 2 de novembro, goianos pararam para celebrar o Dia de Finados, uma data repleta de significado, destinada a relembrar com carinho e gratidão aqueles que já partiram deste mundo. Os cemitérios da capital goiana, tradicionalmente serenos, ganharam vida e emoção com a chegada das inúmeras visitas, entre elas para parentes próximos e até para ídolos, como é o caso da cantora Marília Mendonça, que recebeu homenagens, provando que o amor transcende o tempo e a partida.

Em meio a esse dia marcado por lembranças, o Jornal O Hoje teve a oportunidade de conversar com famílias e visitantes que compartilharam suas histórias de amor, dor e saudade. Um dos encontros revelou a história de Michele Lorrayne Ferreira Magalhães, de 22 anos, que estava no Cemitério Jardim da Paz, em Aparecida de Goiânia, acompanhada de seu irmão, Davi Victor Ferreira, de 18 anos. Michele compartilhou sua experiência comovente, lembrando seu pai, que partiu aos 37 anos vítima de câncer e cirrose hepática. Ela enfatizou a importância de prestar homenagens e afirmou: “O nosso coração está nele ainda, mesmo que ele não esteja mais em vida. Vai fazer 5 anos agora em dezembro que perdemos ele”.

Outra história comovida pela saudade foi a de Thaís Jaquindo Viandeli, uma mulher de 41 anos que visitava o Cemitério e Funerária Jardim da Paz. Thaís conta que perdeu seu cunhado há dois anos e meio, seu sogro há um ano e meio e sua avó há onze anos. Ela ressalta que essa tradição de visitar os entes queridos no Dia de Finados, assim como em datas especiais como o Dia das Mães e seus aniversários, representa uma maneira de prestar homenagem e celebrar a vida que essas pessoas significaram. Ela destaca ainda o sentimento universal que todos os visitantes parecem compartilhar: “Saudade eterna”.

Continua após a publicidade

“Sinto muita saudade da minha avó, quando venho visitar as lembranças voltam com força, ela era uma mãe pra mim, me criou”, lembra ela, que, com carinho, complementa: “Quando visito aqueles da minha família que já se foram, as lembranças são só de coisas boas, é o que fica para a gente, o legado que eles nos deixaram. Porque assim, todos os dias a saudade está aqui, ela dói, todos os dias a gente lembra, mas hoje em especial é uma saudade mais forte, tristeza não, mas saudade sim”.

Jean Carlos de Lima Borges, gestor da empresa que administra o Cemitério Jardim da Paz, descreveu o movimento do Dia de Finados, explicando que a expectativa de receber cerca de 16 mil pessoas foi alcançada mesmo com a chuva. Ele também destacou os preparativos feitos para lidar com tempestades, uma vez que o clima é historicamente instável nesta data. A missa feita durante a tarde atraiu um grande público e Jean Carlos explicou que, nos últimos anos, o cemitério havia enfatizado o atendimento humanizado e a sensibilidade com o luto para tornar esse dia mais acolhedor e significativo para as famílias enlutadas.

Em outra parte da cidade, no Cemitério Parque Memorial de Goiânia, Josélia Ferreira de Souza, uma bancária de 47 anos, revelou suas razões para visitar o túmulo de seu pai. Ela explicou que, embora o Dia de Finados seja naturalmente um dia de tristeza, é uma oportunidade de orar por seus entes queridos e manter vivas as memórias daqueles que já partiram.  “Só quem passou é que sente a perda. De lá pra cá eu tive perdas também de uma irmã e de um sobrinho. Então assim, de três anos pra cá foram três perdas muito dolorosas. A gente não manda nisso, é involuntário. O importante é ir devagar e processar tudo”, diz que demonstra maturidade para lidar com o luto. 

Josélia também destaca que é importante ver como o cemitério está bem cuidado e respeitoso com os restos mortais e com as famílias enlutadas. “Gostei das ações aqui hoje, da música tocando, da missa, eu acho que isso é importante. Tem gente que pergunta: ‘por que que vai fazer isso aqui? Por que colocar uma flor para uma pessoa que já faleceu?’”. Ela complementa, concluindo: “Eles não entendem. Nós estamos vivos, isso aí acaba sendo mais para quem perdeu o ente do que para o ente, né? Então acaba que enfeitar o cemitério é bonito e é como se acalmasse aquela dor de quem perdeu”.

A jornada de recordações e homenagens continuou ao encontrarmos Marissa Bezerra Ungarelli, uma jovem de 21 anos que visitava o Cemitério Parque Memorial de Goiânia com seus pais. Ela conta que percebeu um aumento grande de pessoas visitando o local durante este ano e explica que estava visitando sua avó, avô, tio, tia e primo que partiram, incluindo um avô que faleceu há apenas um ano. 

Viviane Ungarelli, mãe de Marissa, pontua que a família faz questão de visitar os entes queridos todos os anos no Dia de Finados, bem como em seus aniversários e datas de falecimento, porém sempre sente a nostalgia chegando. “Quando a gente vem aqui, tudo remete a tristeza de perder quem a gente ama, porque assim, o cemitério não é coisa que remete a uma coisa boa, né? Você perde quem você ama. E se eu for pensar, não era um lugar que meu pai gostaria de estar, que ele falava que ele ia viver mais de 100 anos, mas foi mais cedo, aos 83 anos”, recorda. 

Para o supervisor de vendas e serviços funerários no Cemitério Parque Memorial de Goiânia, Amarilde Francisco de Souza, o aumento gradual de movimento acontece sempre nos dias que antecedem o Dia de Finados. Como nessa data é comum esperar um grande volume de visitantes, todas as preparações incluíram a cobertura lateral nas tendas para lidar com o clima imprevisível. “Ontem já tivemos uma visitação expressiva, hoje está bem movimentado, amanhã talvez a gente também possa ter uma movimentação, mas o dia 2 é o dia, não é? Como a movimentação no cemitério começa, as pessoas vão circulando, porém aqui você não consegue ter aquela aglomeração por ser bem espaçoso, tem o período da manhã que ganha um número bastante expressivo de pessoas e é sempre o maior destaque de visitações”. 

Amarilde contou ainda sobre a visão de que um cemitério deve ser um lugar que reflete respeito e cuidado tanto para os que partiram quanto para as famílias que vêm prestar homenagens. Ele destaca que a saudade é uma presença constante para as famílias e que a memória dos entes queridos nunca se apaga, por isso priorizam a atenção em cada detalhe para o conforto dos visitantes.

Veja Também