A importância da preservação das ‘árvores gigantes’ de Goiânia

Símbolo de Goiânia, as Gameleiras encantam e enfrentam desafios, enquanto especialistas como Rodrigo Sousa buscam a preservação dessas árvores únicas

Postado em: 06-11-2023 às 08h25
Por: Tathyane Melo
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Símbolo de Goiânia, as Gameleiras encantam e enfrentam desafios, enquanto especialistas como Rodrigo Sousa buscam a preservação dessas árvores únicas | Foto: Tathyane Melo/O Hoje

Ao percorrer as ruas e bairros da capital goiana, é impossível não notar um dos símbolos mais marcantes da cidade: a majestosa Gameleira. Essas árvores, com aproximadamente 30 exemplares espalhados por Goiânia, contribuem para criar um cenário de “céu verde” que encanta moradores e visitantes.

A Gameleira, conhecida por diversos nomes, como Gameleira-branca e Figueira-brava, pertence ao gênero Ficus. Essas árvores são nativas do Brasil e podem atingir alturas impressionantes, variando de 20 a 30 metros, com diâmetros que ultrapassam os 2 metros. Para entender melhor o universo das Gameleiras e sua preservação, o Jornal O Hoje conversou com o engenheiro florestal e mestre em genética de plantas, Rodrigo Carlos Batista de Sousa, que esclareceu detalhes e cuidados necessários com a árvore histórica.

Rodrigo explica que a Gameleira possui uma característica única, sendo apelidada de “espécie vampira” ou “mata-pau” devido à sua capacidade de se hospedar em outras árvores e se alimentar de sua seiva, que contém nutrientes essenciais. Esse fenômeno ocorre quando as sementes da Gameleira são dispersas pelas fezes de animais que se alimentam de seus frutos, como pássaros e morcegos. Como resultado, as sementes podem ser encontradas em árvores de outras espécies, como a Sibipiruna e o Bacuri. “A Gameleira é um exemplar arbóreo que deve ser plantado em áreas com grande extensão de terras, ou seja, em áreas abertas e distantes de edificações. Por ser uma árvore frondosa e com grandes extensões de raízes, a mesma precisa de bastante espaço para seu desenvolvimento natural”, esclarece.

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Gameleira da Avenida Araguaia, em Goiânia, luta pela sobrevivência | Foto: Tathyane Melo

O engenheiro florestal conta que além de suas características únicas e marcantes, as Gameleiras também têm um valor especial em algumas religiões, como o candomblé, onde são associadas à entidade Iroko. Essas árvores são consideradas moradias de entidades ancestrais e são cercadas por “ojá,” um laço de pano branco. “Diversos terreiros impedem que as gameleiras sejam derrubadas em terrenos que lhes pertençam, pois podem causar grandes infortúnios para muita gente. Acredita-se que na antiguidade a morte de uma gameleira era pressentimento de mau agouro e era substituído imediatamente por uma nova após sua morte”, explica.

Rodrigo ressalta ainda que de acordo com os relatos religiosos em torno da Gameleira, a mesma pode chegar a viver até 200 anos. “Existem relatos que a gameleira da avenida Paranaíba é a mais antiga de Goiânia. Porém não existe uma datação correta sobre as espécies no município”, diz.

No entanto, apesar de sua beleza e grandiosidade, as Gameleiras possuem a reputação de causar danos às calçadas e até mesmo ruas, devido às suas raízes robustas. E por conta disso, a capital goiana tem sido palco de atos de vandalismo que colocam em risco as históricas árvores que fazem parte do cenário da cidade. Um exemplo ocorreu no Setor Marista, onde uma Gameleira com mais de 50 anos foi consumida por um incêndio em maio deste ano. Na ocasião, os bombeiros tiveram que empregar cerca de 26 mil litros de água para conter as chamas. No entanto, esse não foi o primeiro ataque à espécie, já que essa mesma árvore havia sido alvo de dois incêndios em 2020. O caso se soma a estatística de quatro Gameleiras incendiadas entre 2016 e 2020 em Goiânia.

Nesse contexto, Rodrigo Sousa destaca que algumas Gameleiras são protegidas pelo município por meio de tombamento, como a Gameleira na Avenida Goiás, no Setor Jardim Ipê, que foi protegida pela Lei nº 9.566, em 2015. Entretanto, o engenheiro florestal ressalta que mesmo com essa proteção, os atos de vandalismo, como incêndios e cortes irregulares, continuam a ser uma realidade. A chave para a conservação bem-sucedida dessas árvores, segundo ele, é a educação ambiental. “A melhor forma de realizar a conservação dessas espécies na cidade é o trabalho em educação ambiental com a população, ou seja, a promulgação da importância desses exemplares para a fauna, a amenização das temperaturas e contribuição na umidade do ar”, finaliza.

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