Casos de feminicídios em menos de 12 horas geram alerta

Dois casos feminicídios em um intervalo de 12 horas, chamam a atenção outra vez, pela covardia e brutalidade com que duas jovens são mortas pelos companheiros

Postado em: 07-11-2023 às 08h00
Por: Matheus Santana
Imagem Ilustrando a Notícia: Casos de feminicídios em menos de 12 horas geram alerta
Vítimas foram mortas em circunstâncias que deixaram sociedade embasbacada | Foto: Divulgação

O feminicídio é um ato bárbaro que tira a vida de muitas mulheres, em várias partes do Brasil. Muitas das vezes as mortes vêm pelas mãos de seus próprios parceiros, de quem essas mulheres um dia confiavam e amavam. Essa é a violência de gênero, que assume proporções alarmantes em todo o mundo e suscita intensos e importantes debates e preocupações. 

No último fim de semana, dois casos de feminicídios foram registrados pela Polícia Civil de Goiás. Um deles ocorreu no município de Aparecida de Goiânia, já o outro em Jataí. Embora esses casos tenham ocorrido em lugares diferentes, eles tiveram um intervalo de tempo muito curto.  

Até o mês de junho deste ano, já foram registrados 31 casos de feminicídio em Goiás. Comparando ao mesmo período do ano passado, o estado teve 32 casos de feminicídio, apenas um a mais que em 2023.

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Caso de Aparecida

O crime aconteceu na madrugada do último sábado (4), enquanto o casal e um amigo voltavam de um forró. Segundo o suspeito, ele e a esposa começaram uma discussão no estabelecimento. Por conta desse desentendimento, eles decidiram voltar para a casa a pé.

No caminho para a casa, a discussão entre o casal se intensificou e isso gerou uma troca de agressão entre eles. Em depoimento, o amigo do casal relatou que não conseguiu entrar no meio da briga, pois ele estava protegendo o bebê.  

No momento da confusão entre o casal, o homem que estava armado efetuou dois disparos contra a esposa, que não resistiu aos ferimentos e morreu no local. O suspeito e o amigo do casal afirmam ter ligado para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (Samu), porém ninguém atendeu aos telefonemas. Em seguida, os dois rapazes fugiram da cena do crime, deixando o bebê dentro do carrinho ao lado do corpo da vítima no meio da rua.

A criança foi acolhida por moradores da região, que ouviram os disparos e saíram na rua para ver o que tinha acontecido. Após a chegada da Polícia Militar, o bebê ficou sob os cuidados do Conselho Tutelar. A identificação dos envolvidos e da vítima não foram divulgados pela Polícia Civil.  

Em Jataí

O caso de Jataí aconteceu na noite do último sábado (4), por volta da 22h. Lelly Gabriele Alves, de 23 anos, filmou a sua própria morte. Durante o corrido, a jovem filmava seu namorado, identificado como Diego Fonseca Borges, de 27 anos. No vídeo que circula pelas redes sociais é possível ver o rapaz com uma arma apontada para a mulher. Durante a gravação feita pela vítima, Diego dispara contra a própria namorada, que é atingida pelo projétil e cai no chão. Lelly chegou a ser levada para um hospital, porém ela não resistiu ao ferimento e morreu.O rapaz foi detido pela Polícia Civil. 

No primeiro momento Diego escondeu o crime das autoridades dizendo que o disparo foi feito por dois indivíduos em uma moto que passaram por eles. Devido certas contradições no depoimento do suspeito, e a apresentação do vídeo que comprova o crime, o rapaz confessou o crime, alegando não saber que a arma estava carregada e foi preso pela Polícia Civil. Segundo o delegado Thiago Saad, o autor vai responder por Homicídio Qualificado com a pena de 12 a 30 anos.

Segundo uma amiga da jovem disse à imprensa, Lelly já havia sido ameaçada por Diego, durante a breve separação do casal, há cerca de um mês. A amiga da jovem conversou com ela e aconselhou a vítima a pedir uma medida protetiva caso ele a ameaçasse novamente.

A equipe de reportagem do Jornal O Hoje conversou com o especialista em Ciências Criminais, o advogado Abrahão Camelo Pereira Viana para saber mais sobre como funcionam os crimes de feminicídio no Brasil e o porquê esses crimes ainda ocorrem com frequência.

“O feminicídio, de acordo com ART 121 §2 VI do Código Penal, prevê uma pena de reclusão de 12 a 30 anos. Porém, já tem um projeto aprovado por algumas comissões da câmara federal que pretende aumentar a pena mínima do Feminicídio de 12 para 20 anos”, diz o advogado.

Durante a entrevista, o Abrahão Viana também relatou o porquê esse tipo de crime continua acontecendo na sociedade. “A sociedade ainda é muito machista e patriarcal, muitos homens ainda acham que as mulheres são inferiores a eles. Devido a isso, eles não aceitam diversas coisas, como o término de uma relação, um divórcio, guarda ou partilha de bens”, diz Abrahão. 

“Então eles acham mais fácil matar a mulher. Esse crime bárbaro ainda continua acontecendo porque as penas são leves, e o estado permite progressão de regime aos criminosos”, concluiu o advogado.

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