Número de pacientes de cannabis cresceu 130% no Brasil

Contudo, o acesso aos medicamentos ainda é bastante desigual devido às políticas restritivas e proibicionistas

Postado em: 08-11-2023 às 16h31
Por: Larissa Oliveira
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430 mil pacientes estão realizando tratamentos com medicamentos à base de Cannabis Sativa em 2023 - Foto: iStock

Cerca de 430 mil pacientes estão realizando tratamentos com medicamentos à base de Cannabis Sativa em 2023. Isso corresponde a um aumento de 130% no número de pessoas que se beneficiam das propriedades terapêuticas e medicinais da planta. Portanto, mais uma vez, a erva se prova uma esperança para tratar diversas doenças. Contudo, como o cultivo nacional é ínfimo, a importação domina 50,93% do mercado. Portanto, as políticas restritivas e probicionistas fomentam um acesso desigual.

Os dados são da Kaya Mind, empresa brasileira especializada em dados e inteligência de mercado no segmento da cannabis, do cânhamo e de seus periféricos. A pesquisa teve como base informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De acordo com o levantamento, 219 mil pacientes fazem importação de medicamentos de cannabis no Brasil. Enquanto isso, 114 mil (26%) fazem tratamento via associações e 97 mil pessoas (22%) têm acesso aos remédios nas farmácias.

Além disso, o Sistema Único de Saúde (SUS) também disponibiliza gratuitamente fármacos à base de canabidiol e outros componentes da planta. Conforme a pesquisa, a estimativa do gasto público do SUS é de R$ 80 milhões em 2023, cerca de 10% do mercado. Ainda segundo os dados, a indústria brasileira já movimentou R$ 700 milhões ao ano e pode ultrapassar a marca de R$ 1 bilhão em 2024. Dessa forma, a perspectiva é que o setor de cannabis medicinal continue em constante crescimento.

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Cannabis medicinal

Cannabis Sativa, nome científico da planta, é composta por cerca de 500 fitocanabinoides, que são as moléculas vegetais que a compõem. Os canabinoides mais estudados e conhecidos são o Canabidiol (CBD) e o Tetrahydrocannabinol (THC). O CBD possui potencial terapêutico, sendo eficaz no tratamento de doenças crônicas pela ação analgésica que possui. O THC, por sua vez, é o componente psicoativo da planta. Porém, ao contrário do que o senso comum afirma, ele não é o composto maléfico da erva. 

Segundo a enfermeira do Instituto de Medicina Orgânica (IMO), Jennifer Marques, o tratamento com Cannabis não é com o CBD e THC apenas, é com a planta toda, pois todas as moléculas agem em conjunto. “Apesar de muitos terem medo do THC, ele não é vilão, não causa nenhuma doença neurodegenerativa e nenhum efeito colateral permanente. Pelo contrário, ele ativa neurônios que estimulam o prazer, a memória, o pensamento, a coordenação e a percepção do tempo”, pontua.

Existem inúmeros relatos pessoais sobre experiências positivas com cannabis medicinal. Ou seja, há muitos resultados satisfatórios dos pacientes que tiveram tratamentos com medicamentos à base de canabinoides. Além disso, as propriedade terapêuticas e medicinais da Cannabis Sativa se mostraram promissoras no tratamento de diversas doenças, como as epilepsias, Parkinson, Alzheimer, fibromialgia, dores crônicas, ansiedade e depressão. Portanto, os benefícios são cientificamente comprovados.

Acesso dos pacientes

Entretanto, embora o número de pacientes tenha crescido, não são todas as pessoas que possuem acesso a esses remédios. Isso ocorre porque a distribuição dos medicamentos à base de canabinoides ainda é bastante desigual no Brasil. De acordo com o levantamento da Kaya Mind, a maioria dos brasileiros que fazem tratamentos com esses fármacos se concentra em áreas próximas às grandes capitais e centros econômicos. Além disso, a quantidade de médicos prescritores é três vezes menor que a de pacientes.

Somente o estado de São Paulo retém 39% dos profissionais que prescrevem os medicamentos canábicos. Enquanto isso, o número é bem menor em outros estados como o Tocantins (0,1%), Alagoas (0,2%), Roraima (0,2%) e o Acre, que não tem nenhum. O que gera e agrava esse cenário é a atual legislação brasileira, que restringe o acesso democrático aos benefícios terapêuticos e medicinais da Cannabis Sativa. Com a descriminalização e a legalização, mais pacientes seriam beneficiados.

Conforme a pesquisa da Kaya Mind, o mercado canábico geraria R$ 26,1 bilhões à economia em quatro anos se houvesse a regulamentação do uso medicinal, industrial e adulto (recreativo) da planta. Além disso, esse cenário também possibilitaria a criação de 328 mil empregos formais no país. Por isso, cada vez mais grupos e organizações não governamentais incentivam a pesquisa com a Cannabis Sativa e lutam pela democratização do acesso aos seus recursos medicinais e terapêuticos.

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