A história da juíza goiana que ganhou prêmio nacional que homenageia colega assassinada no Rio

Erika Barbosa Gomes Cavalcante ganhou o 12º Prêmio AMAERJ Patrícia Acioli de Direitos Humanos, na categoria "Trabalhos dos Magistrados"

Postado em: 10-11-2023 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
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Erika Barbosa viu na profissão uma oportunidade de promover as causas sociais e os direitos humanos | Foto: Divulgação

Erika Barbosa Gomes Cavalcante, de 34 anos, juíza titular da Vara Criminal da comarca de Goiás, teve uma vida sem muitos recursos financeiros enquanto trilhava o caminho até a magistratura. “Eu tive que me virar com o mínimo para chegar até aqui”, afirma Érika em entrevista ao jornal O Hoje.

As dificuldades e desafios enfrentados por Erika ao longo da vida, tornaram o seu olhar mais sensível às causas sociais, o que a levou a ganhar o 12º Prêmio AMAERJ Patrícia Acioli de Direitos Humanos, na categoria “Trabalhos dos Magistrados”. A magistrada venceu a competição com o projeto “Roda Antirracista: Diálogos para a Democracia Racial”.

A magistrada conta, em entrevista exclusiva, que sempre estudou em escolas públicas. Foi no Colégio de Aplicação da Universidade Federal De Goiás (UFG) que ela desenvolveu suas aptidões pelo sistema jurídico. “Eu sou muito grata ao ensino público, por isso estou sempre lutando por essas causas sociais”, conta.

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Após terminar o Ensino Médio, logo ingressou na UFG, onde estudou Direito. Ser juíza nunca foi um sonho de Erika, mas ao longo da caminhada acadêmica, ela foi se apaixonando. “Surgiu quando comecei a entender um pouco mais sobre o sistema de justiça, o que faz cada uma das pessoas que trabalham na carreira jurídica e escolhi ser magistrada”, conta.

Quando decidiu ser magistrada, Erika viu na profissão uma oportunidade de promover as causas sociais e os direitos humanos. “ Eu esperava um judiciário humanizado, que se abrisse para essas questões sociais e para os direitos humanos. Que isso não ficasse apenas a cargo da defensoria pública”,  afirma.

Ela diz ainda que sempre achou de extrema importância que no poder de decisão, deveria ser considerada a diversidade, desigualdade social, os  traumas e cicatrizes das pessoas.

Filha da cabeleireira Maria do Rosário Gomes, 60 anos, e do vendedor Debrando Barbosa Vieira, 64 anos, muitos foram os desafios enfrentados pela juíza, para conseguir alcançar esse cargo. Logo no início da sua faculdade, o pai de Erika sofreu um acidente e precisou ficar acamado durante um ano. “Minha mãe disse: eu te dou casa, comida, energia, é só o que posso oferecer”, relembra a mulher ao falar da ajuda que recebia da família em sua caminhada acadêmica. “Eu tive muito apoio moral por parte da minha família. Eles não podiam me ajudar financeiramente, mas tive muito apoio”, afirma. “Os principais heróis são os meus pais”, acrescenta.

Depois de alcançar o objetivo de ser finalmente juíza, a mulher que viveu a infância no Água Branca, em Goiânia, conta que surgiram novos desafios. Por ser um ambiente majoritariamente masculino, é frequente casos de machismo, segundo a juíza. “ A gente sente o preconceito por ser mulher. Há um certo descrédito algumas vezes”, relata.

Na última segunda-feira (6) ocorreu a solenidade da Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (AMAERJ), no auditório do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), onde Erika recebeu o prêmio. O evento reuniu desembargadores, juízes, parlamentares, membros do Ministério Público e da Defensoria Pública, advogados, jornalistas, professores, líderes de movimentos sociais, estudantes e Ana Clara Acioli, filha da juíza Patrícia Acioli (1964-2011).

O trabalho se destacou por sua relevância, pois segundo destacou a magistrada em seu discurso, “pequenas ações educativas podem transformar a sociedade”.

O prêmio foi criado em 2012 e celebra a memória da juíza do Rio Patrícia Acioli, mulher que durante toda a sua trajetória pessoal e profissional atuou pela dignidade humana e em defesa da cidadania. Uma valorosa brasileira empenhada de corpo e alma nas questões vinculadas ao respeito aos direitos humanos no país. Patrícia Acioli foi e é um exemplo de magistrada.

Para Erika, ganhar esse prêmio tão honroso, diz muito sobre a importância de ser ouvida. “É ter reconhecida e validada uma prática importante de direitos humanos. É um reconhecimento desse trabalho que está sendo feito”, afirma.

“É esperança pra gente poder seguir em frente. É um incentivo”, afirma Erika, ao ser questionada sobre a importância da premiação, principalmente por se tratar de uma pauta racial, tema que fala sobre garantias de direitos.

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