Trafego de veículos na Capital têm sido ‘caótico’ e desordenado

Crescimento urbano aliado à péssima qualidade do transporte coletivo força população a fazer grandes deslocamentos em veículos próprios

Postado em: 12-09-2018 às 06h00
Por: Fabianne Salazar
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Crescimento urbano aliado à péssima qualidade do transporte coletivo força população a fazer grandes deslocamentos em veículos próprios

Gabriel Araújo*

A falta de uma política de adequação do trânsito, a partir do desenvolvimento urbano, tem tornado o tráfego de veículos caótico na Capital e Região Metropolitana. Especialistas afirmam que a cidade se desenvolveu de forma desordenada, criando vias sem estrutura e nem capacidade de absorver a grande quantidade de veículos que circula atualmente.

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Os grandes centros urbanos não são pensados para facilitar a mobilidade, e por isso a população enfrenta a falta de integração e opções de transporte coletivo. Além disso, existem problemas socioeconômicos como a falta de emprego em áreas distantes dos centros, o que leva a grandes deslocamentos e aos congestionamentos.

Em Goiânia, tanto o Plano Diretor quanto a legislação nacional, determinam a necessidade de criação de projetos que tratem a mobilidade urbana como um sistema de transporte democrático, com baixo custo e mais segurança. Segundo o documento municipal, o órgão gestor deve buscar uma “melhoria da estruturação do sistema de mobilidade urbana, com a integração entre os sistemas de transporte coletivo, cicloviário, circulação de pedestres e rede viária, dotando-o de condições adequadas à acessibilidade universal, à segurança e a integração territorial do Município”, afirma a última edição do Plano Diretor.

Para a professora Camila Dantas, supervisora de exames do Programa Educando e Valorizando a Vida da Universidade Estadual de Goiás (EVV|UEG), os problemas de mobilidade estão conectados com diversas questões das cidades. “A expansão horizontal dos grandes centros, e mesmo vertical, não é feita com o planejamento necessário. Esse tipo de expansão acaba levando aos grandes deslocamentos e, devido à qualidade do transporte público, as pessoas acabam utilizando veículos próprios, o que gera os congestionamentos”, conta.

Somente no Plano Diretor são sete programas de estratégia que buscam a melhoria do transporte na cidade. Para especialistas, devido ao grande crescimento populacional e urbano, é preciso adequar a rede viária para que ela tenha uma maior capacidade de veículos, além de promover a integração entre os sistemas de transporte coletivo e criar programas de transporte alternativos.

O trabalhador autônomo, Paulo Ferreira de Lima, de 48 anos, mora em Aparecida de Goiânia e trabalha na Capital, tendo de se deslocar todos os dias utilizando o carro. Para ele, a falta de opções o de transporte gera a necessidade de usar um veículo próprio para o deslocamento. “Eu saio de casa às 5 horas da manhã e volto só depois das 21 horas, são 27 quilômetros de distância entre o meu trabalho e minha casa e, com os coletivos tão ruins, não consigo nem chegar no horário”, diz.

Lima ainda lembra que as ruas da Capital não estão preparadas para lidar com tantos carros, mas que o veículo continua sendo a melhor opção. “A gente perde muito tempo no trânsito, tem vezes que ficamos mais parados que andando. A melhor opção ficou sendo o carro, mas se eu tivesse outra alternativa, usaria”, finaliza.

Pesquisadores constatam ainda problemas na geração de emprego e estruturação dos bairros elevam a necessidade de deslocamento para certas regiões de Goiânia, o que torna ainda mais difícil os deslocamentos. “Precisamos de bairros e regiões que gerem empregos para seus moradores, não podemos ter mais bairros residenciais sem algum tipo de movimentação econômica, como supermercados e lojas”, afirma o professor Marcus Reuthen, especialista em transporte urbano do Instituto Federal de Goiás (IFG).

Seguindo Reuthen, existe ainda uma falta de preocupação quanto aos problemas de mobilidade no país. “Faz pouco tempo ainda que a legislação passou a existir de forma mais definitiva, mas ainda assim existe uma falta de planejamento para o futuro das cidades”, concluiu.

Conforme a professora Camila Dantas, é preciso discutir e procurar soluções para a mobilidade urbana. “Precisamos encontrar maneiras de melhorar as formas de utilização do espaço urbano. Com um transporte público em foco, melhorando a qualidade, podemos pensar a mobilidade de forma integrada e diminuir a quantidade de veículos nas ruas”, lembra. “Ainda precisamos pensar formas seguras e democráticas de transporte, além de segurança e educação no trânsito”, completa.

 

Obras para melhorar mobilidade estão atrasadas ou paralisadas 

Por meio de nota, a prefeitura de Goiânia afirma que a mobilidade depende das diretrizes estabelecidas no Plano Diretor em vigência no município. Atualmente o plano prevê uma cidade compacta, por isso as mudanças aprovadas em 2015 prevêem o crescimento em eixos do transporte, mas uma nova atualização está em discussão e será votada ainda neste ano na Câmara Municipal.

Vários projetos em andamento, ou em fase de início das obras, atendem a demanda por melhorias na mobilidade. A maior obra do Estado atualmente, o BRT/Norte Sul está em andamento. O corredor exclusivo de transporte coletivo terá 21,8 quilômetros de extensão interligando as regiões Sul e Norte da Capital, atendendo diretamente mais de 100 bairros de Goiânia, beneficiando cerca de 120 mil usuários por dia.

A reurbanização, canalização e conclusão da marginal do córrego Cascavel orçada em R$ 59 milhões; Corredor de Ônibus da Avenida 24 de outubro (R$ 10,8 mi); Corredor da Avenida Independência (R$ 21 mi); prolongamento de 2,2 quilômetros da Marginal Botafogo, ligando a Avenida 136 à 2ª Radial (R$ 26 milhões); todas estas obras contam com contrapartida do governo federal, que está suspenso por conta do período eleitoral e dificuldades orçamentárias da União.

Outra obra crucial para a cidade é a conclusão da parte Leste da Avenida Leste/Oeste. Orçada em R$ 70 milhões, o projeto aguarda liberação da metade do recurso que cabe ao Governo do Estado. Outro recurso que está em processo final de negociação é o empréstimo internacional com o Banco Andino de R$100 milhões que possibilitará a recuperação de 600 vias da Capital em mais de 100 bairros.

Frota

De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) a frota da Capital registrou um aumento de quase 100 mil veículos nos últimos quatro anos, passou de 1.087.756 veículos em 2013, para 1.172.723 no ano passado. Se levarmos em consideração a população da Capital, estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) com quase 1,5 milhão de pessoas, Goiânia possui mais de um carro por pessoa.

Dados oficiais do Detran indicam que a Capital possui uma frota nova, com menos de 10 anos de uso, sendo que a maioria dos carros que circula por aqui foi fabricada em 2011, quando cerca de 77 mil veículos foram fabricados. Os anos de 2013 e 2012 seguem em seguida, com 71 mil e 70 mil veículos fabricados, respectivamente. De acordo com o levantamento, veículos fabricados a partir de 2003 somam quase 176 mil unidades.

Legislação

Em 2012 foi criada a lei 12.587, que ficou conhecida como a Lei da Mobilidade. Foi a partir deste texto que surgiu a iniciativa de se pensar o transporte urbano de forma sustentável e organizada, sendo estipulado que todos os municípios com mais de 20 mil habitantes precisam debater e implantar planos locais de mobilidade urbana. “A Política Nacional de Mobilidade Urbana tem por objetivo contribuir para o acesso universal à cidade, o fomento e a concretização das condições que contribuam para a efetivação dos princípios, objetivos e diretrizes da política de desenvolvimento urbano, por meio do planejamento e da gestão democrática do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana”, determina o texto.

A Lei de Mobilidade define e classifica os modos e serviços de transporte urbano, exemplificando infraestruturas para formas mais produtivas de transportes. “Estas infraestruturas devem sempre estar interrelacionadas com um planejamento sistêmico para que produzam benefícios efetivos e proporcionais aos recursos empregados, pois apenas aumentar o investimento em infraestrutura não garante a melhoria da mobilidade urbana”, completa o texto da Política Nacional de Mobilidade Urbana.

Segundo Camila, supervisora de exames do Programa Educando e Valorizando a Vida da Universidade Estadual de Goiás (EVV|UEG), o objetivo de se discutir novas políticas voltadas para o transporte é encontrar soluções para os problemas que devem se intensificar. “Precisamos propor novas formas de transporte, como as ciclovias, por exemplo, e não somente a interligação entre o transporte público”, afirma. (*Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian).

 

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