Javalis se tornam problema para produtores rurais e piora com proibição da caça

Os riscos vão desde impactos ambientais, agropecuários e sanitários

Postado em: 17-11-2023 às 08h00
Por: João Victor Reynol de Andrade
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Animal, que se tornou problema a produtores rurais, flagrado tentando adentrar plantação de milho | Foto: Reprodução

Uma única espécie desperta medo em órgãos ambientais e da agricultura por todo território nacional, o javali. O animal de médio porte, robusto e resistente prolifera possui uma forte presença no estado goiano. A sua população, por outro lado, não é exatamente estimada. Mas podem ser milhares. Para isso, há uma discussão do controle de sua população. Uma medida, no entanto, proibiu a caça em julho pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e preocupa autoridades rurais.

Por mais que haja fiscalização, ainda não há estimativas exatas dos seus números, um dado mais recente do presidente da Associação Brasileira de Caçadores, Rafael Salerno, sugere que podem haver mais de 3 milhões de javalis em todo o Brasil. Apesar disso, seus impactos ambientais e danos na agricultura são sentidos em todos os ecossistemas brasileiro, inclusive dentro do estado goiano, mais recentemente no município de Silvânia como a Floresta Nacional no entorno de Brasília. 

Um dos principais riscos do javali são dentro da fauna e flora nativas, pois não possui um predador natural pelo fato de ter sido levado ao Brasil para criação comercial para abate. Por ser um animal social, se envolve com outros javalis e cria um bando que se move e degrada a vegetação por onde passa. “Se alimenta de matéria vegetal, folhas, frutos, raízes, e semente, mas predam pequenos animais. Já se expandiu por quase toda região do Brasil e já está entrando na Amazônia e algumas regiões da Bahia”, diz Marco Freitas, mestre e doutor em zoologia e biologia do ICMBio de Alagoas.

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Outro risco ambiental citado por Marco é a destruição das nascentes pelo comportamento social de procurar as bacias hídricas e causar uma elevada sentimentalização podendo destruir e infeccionar rios e lagos.  

Ainda de acordo com Marco, um outro alvo são os produtores rurais, principalmente as plantações de milho. “Causa um impacto gigantesco na produção de grãos, sobretudo milho, porque comem e destroem as plantações, além de oferecer um risco às pessoas e animais domésticos”, relata Marco.

O jornal O Hoje também entrou em contato com Daniel Terra, presidente de Goiânia da Associação Nacional de Caça e Conservação (ANCC), um dos motivos que põem o animal como risco é a sua fácil adaptabilidade ao ecossistema brasileiro. “O que o javali tem no Brasil que não tem em sua terra natal é fonte de comida durante o ano todo. Outro fator é a sua rápida proliferação parindo mais de 15 filhotes em 3 meses”.

Apesar disso, desde julho deste ano as novas autorizações de caça ao animal foram suspensas pelo Ibama a partir da data do mandato. “As pessoas que ainda possuem o aval têm um prazo de 6 meses, terminando todas as possibilidades de controle em dezembro, e as pessoas que ainda têm a autorização não fazem por medo de represália” afirma Daniel.

Outro risco citado pelo entrevistado é em relação às possíveis doenças que o animal carrega. “Javali é transmissor de febre aftosa e suína, a última vez que o estado teve um surto de febre aftosa foi há 20 anos, com tantos possíveis transmissores soltos algo tem que ser feito”. 

Com objetivo de combater a população crescente do bicho, a Câmara dos Deputados Federais entrou com uma comissão para voltar com a caça, tornando ineficaz a suspensão, citando os possíveis danos como preocupação. Livia Martins disse, durante uma comissão na Câmara, a diretora de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas do Ibama, comentou a necessidade de criar uma nova alternativa. “O Simaf (Sistema de Informação de Manejo de Fauna) é antigo e está defasado, precisamos de um novo”, diz membro do órgão público, mas sem dar previsão para a entrega de uma solução.

Outro entrave enfrentado pela tentativa de encontrar o animal em meio à vegetação, o uso de cães, também foi proibido. A decisão ocorreu em 2016. A pretensão, no entanto, era a proteção dos cães que, segundo o deputado que foi autor do projeto, sofriam maus-tratos durante a caça dos javalis espalhados por todo o país. 

Um dos municípios goianos que mais sofrem com a invasão dos bichanos, Silvânia, têm registros de reclamação de fazendeiros. Para Renato Flano, biólogo do ICMBio da Floresta Nacional da cidade, os animais têm invadido as terras, destruindo tudo o que veem pela frente, sobretudo em terras agrícolas.

Ainda de acordo com ele, em 2019 uma ação já foi feita em conjunto com o Ibama e com órgãos não-governamentais de controle populacional para reverter a situação. “Já fizemos ações de controle com a ANCC para reduzir o número de javalis na nossa área”.

Renato contou à reportagem do jornal O Hoje que, inclusive, a proprietária de uma fazenda tem sofrido prejuízos com a invasão de javalis em plantações de milho em Silvânia. “A gente está apurando”, disse ele.

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