Aumento de ‘viciados’ em analgésicos preocupa especialistas

Eles podem causar alterações hepáticas no fígado, lesão renal, aumento da pressão arterial, sangramentos gástricos e outros efeitos colaterais graves, segundo médico neurologista

Postado em: 17-11-2023 às 07h00
Por: Ronilma Pinheiro
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Vendas de medicamentos analgésicos teve alta de 84% em Goiás no ano passado | Foto: ABr

As vendas de medicamentos analgésicos cresceram 42% em 2022 no Brasil, em comparação ao ano anterior, segundo um levantamento do hub de negócios da saúde e bem-estar, InterPlayers. Entre os estados da Federação, Goiás aparece em segundo lugar na lista, com uma alta de 84%, seguido por Rio de Janeiro, com salto de 53,5% e São Paulo, com 15%. O Distrito Federal lidera o ranking com um salto de 219,3%.

Grande parte desse crescimento se deve aos grandes investimentos em propagandas desses medicamentos e publicidades bem direcionadas, como é o caso do Dorflex, que se popularizou em grande escala devido às propagandas. A propaganda, por sua vez, desencadeia o famoso “marketing boca a boca”, quando o cliente voluntariamente faz a divulgação do produto.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) mostra que as recomendações de terceiros, como familiares, amigos e vizinhos alcança respectivamente 68%, 41% e 27% das vendas desses remédios.  A recomendação por parte de balconistas de farmácia corresponde a aproximadamente 48% das vendas. Isso faz com que os analgésicos sejam os remédios mais comprados em farmácias sem prescrição médica.

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Para o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos “Sindusfarma”, maior entidade representativa da indústria farmacêutica instalada no Brasil, para a grande maioria da população é comum ir às farmácias comprar analgésico ao  sentir um incômodo cotidiano, como cólicas e dores musculares.

Vale ressaltar, portanto, que o uso excessivo desses medicamentos podem acarretar em diversos problemas de saúde. O médico neurologista Marco Túlio, afirma que no Brasil há o uso indiscriminado de automedicação, principalmente quando se trata dos analgésicos. O uso desses medicamentos, muitas vezes, se tornam “um abuso”, segundo o especialista. “Há uma preferência grande por analgésicos combinados com relaxantes musculares, por ter efeito melhor no alívio da dor”, pontua.

Outro fator que leva ao uso desenfreado de analgésicos, é que não há a necessidade de receitas médicas para adquiri-los, diferentemente de outras medicações “com melhor efeito”, que necessitam de receituário com controle especial, segundo o médico. “O que não acontece com drogas como Dorflex”, afirma.

No caso dos analgésicos combinados, a possibilidade de agravamentos na saúde é ainda maior, segundo Marco Túlio, uma vez que eles tem efeitos sedativos, quando associados com relaxantes musculares ou opioides – termo utilizado para denominar várias substâncias derivadas da papoula de ópio e suas variações sintéticas e semissintéticas -.   “A associação com anti inflamatórios pode provocar lesão renal, aumento da pressão arterial, sangramentos principalmente gástricos e outros efeitos colaterais graves”, afirma o médico ao listar algumas consequências do uso e combinação desses medicamentos.

O Dorflex, por exemplo, tem metabolização no fígado, por isso uso excessivo desse medicamento pode provocar alterações graves como hepatite medicamentosa, e até mesmo a cirrose hepática, podendo levar a pessoa a necessitar de transplante. Por isso, tomar dorflex sempre que sentir uma dor de cabeça, não é a melhor opção, por esta e outras consequências, como a indução da dor, em vez de eliminá-la.

Mesmo o analgésico simples pode trazer complicações, se usado de forma excessiva. Eles podem causar alterações hepáticas no fígado, que podem causar a morte daquele que o ingere, em casos mais graves, segundo o neurologista. “O indivíduo com abuso de analgésicos tende a diminuir o limiar de tolerabilidade da dor, necessitando de doses mais altas e até associação de outras drogas “, alerta. As drogas de ação central como opioides podem causar dependência química, e em excesso, overdose e morte, segundo o neurologista.

No caso das dores de cabeça frequentes, o médico orienta que o correto é procurar um neurologista para avaliação, onde será definido o tipo de dor de cabeça, se é enxaqueca, tensional ou outras. A partir dessa avaliação, o médico irá orientar o tratamento adequado.

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