Como diagnóstico precoce salvou a vida de homem com câncer de próstata

Até o final de 2022, José Raimundo vivia sem qualquer sintoma da neoplasia maligna, que já estava se desenvolvendo em seu corpo de forma discreta e silenciosa, sem qualquer aviso prévio

Postado em: 21-11-2023 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Como diagnóstico precoce salvou a vida de homem com câncer de próstata
Ao descobrir a doença, o homem ficou com o psicológico abalado, mas se manteve firme na luta contra o câncer | Foto: Leandro Braz/O Hoje

Depois que completou 50 anos de idade, José Raimundo (nome fictício), com 67 anos atualmente, que não possuía histórico familiar de casos de câncer de próstata, começou a fazer os exames de rotina e prevenção contra a doença. “Inicialmente fazia uma vez por ano, mas agora faço de seis em seis meses”, diz ele, que prefere o anonimato muito por causa do tabu envolvendo o tipo de doença com a qual teve de conviver nos últimos meses. 

José recebeu o diagnóstico da doença em maio deste ano. Ele conta que sempre teve a consciência de que qualquer homem está suscetível a ter um câncer de próstata, por isso sempre teve muito cuidado com os hábitos alimentares e preocupações com exercícios físicos. Mas, o que o salvou de possíveis maiores complicações pelo câncer foi o hábito de fazer os exames de rotina. “Isso me proporcionou um diagnóstico precoce da doença, o que permite um tratamento com grande perspectiva de cura”, relata.

Até o final de 2022, José Raimundo vivia sem qualquer sintoma da neoplasia maligna, que já estava se desenvolvendo em seu corpo de forma discreta e silenciosa, sem qualquer aviso prévio. Ao consultar o médico no início de 2023 e fazer os exames de rotina, aquilo que poderia ser somente mais uma consulta de prevenção, mostrou uma variação no  Antígeno Prostático Específico (PSA) –  sigla que se refere aos antígenos específicos da próstata, que são moléculas produzidas por essa glândula, inclusive quando ela está saudável -, e após os exames complementares, foi constatado que José estava com câncer de próstata.

Continua após a publicidade

Ao descobrir a doença, o homem que agora precisava se submeter a uma série de tratamentos, ficou com o psicológico abalado, mas se manteve firme na luta contra o câncer. “Apesar de ficar abalado, frente à situação estabelecida não tem muito o que lamentar, o necessário é ver o que precisa ser feito e tomar decisões. Foi o que fizemos”.

Com o apoio familiar e o acompanhamento médico, o homem iniciou os tratamentos contra a doença. “Fiz a cirurgia há quase dois meses e os resultados são excelentes, conforme exames realizados após a cirurgia. Hoje não tomo nenhum remédio em razão desta doença”, comemora ele, ao alertar sobre a importância do diagnóstico precoce que salvou a sua vida. “Independente da idade e do histórico familiar, entendo que todos os homens precisam deixar preconceitos e tabus de lado e realizarem as prevenções periódicas, pois certamente poderão evitar um mal maior”, alerta José Raimundo.

O médico oncologista Adriano Augusto, diz que o câncer de próstata é uma doença silenciosa, que em sua grande maioria, não apresenta sintomas nos casos iniciais. Dessa forma, a melhor maneira de prevenir a doença, é fazendo o exame de prevenção com frequência. “Então o homem não tem que esperar ter sintoma algum para fazer o exame de prevenção, para fazer o exame de rotina anualmente”, orienta o especialista.

Quando os sinais começam a surgir, a doença já está numa fase mais avançada, e nesses casos, dificilmente há uma solução clínica para o problema, segundo o especialista. “A doença vai crescendo, vai se agravando, aí ele vai começar a ter dificuldade para urinar, afilamento de jato urinário, perde a pressão, começa a levantar várias vezes à noite, pode ter sangramento urinário, dores ósseas terríveis, emagrecimento e até evoluir para a morte, às vezes sem fazer o diagnóstico”, alerta o médico.

Os tratamentos são feitos de forma individualizada, de acordo com o agravamento do câncer e da idade do paciente. “A gente precisa saber em que fase da vida essa pessoa se encontra, como é que é a questão urinária, o tipo de tumor, se é um tumor mais agressivo, menos agressivo, então a gente considera isso tudo para determinar o tratamento”, explica. Desse modo, existem casos onde o paciente pode precisar somente de acompanhamento médico, outros precisam passar por cirurgias, serem submetidos a radioterapia ou a tratamento medicamentoso. “Quando o paciente não pode operar nós temos a radioterapia, que é um tratamento muito eficaz para câncer de próstata, e nos casos mais avançados eventualmente o tratamento com bloqueio hormonal ou com quimioterapia”, salienta.

Quando detectado em estágio inicial, o câncer pode ser curado com cirurgia ou com radioterapia. O diagnóstico é feito a partir de exames de prevenção, que consistem na dosagem de PSA, que é um exame de sangue capaz de identificar se há alterações nesta dosagem ou não. “Quando esse PSA está alterado, precisamos saber o porquê disso”. O médico destaca que nem sempre que o PSA está alterado significa que a pessoa esteja com câncer. Por isso, há outro exame que pode identificar a doença, é o exame de toque retal. “A partir dos 50 anos de idade ou a partir dos 45, se o homem for da raça negra ou tiver um histórico de câncer de próstata na família, sendo o parente em primeiro grau, deve começar a fazer o exame de prevenção”, alerta o médico.

Cultura do homem “forte” dificulta exames de prevenção de câncer de próstata, diz especialista

A psicóloga Nádia Santana afirma que a resistência ao exame de rotina que identifica o câncer de próstata se dá, de um modo geral, pela cultura. Os homens crescem ouvindo que precisam ser fortes e dar conta de tudo sozinhos, e isso faz com que haja maior dificuldade para esse homem se disponibilizar para tratamentos psicológicos e até mesmo para consultas de rotina, qualquer que sejam elas. Somado a isso, tem a questão sexual, onde muitas vezes o paciente acha que se submeter ao exame de prevenção, coloca em “xeque a sua masculinidade”.

Dessa forma, estas questões continuam sendo tabus na sociedade. Apesar disso, a psicóloga afirma que ao longo dos anos, tem observado algumas evoluções nesse sentido e em relação aos tratamentos psicoçógicos. “Nós evoluímos muito, hoje em dia a maioria dos hospitais que tratam de câncer tem uma equipe de profissionais da psicologia”, afirma.

A psicologia da saúde tem uma atuação muito importante quando se trata do câncer.  “Temos um trabalho muito importante desde o diagnóstico até os tratamentos”, pontua. Ao receber o diagnóstico, o paciente precisa de acompanhamento psicológico por uma série de razões, principalmente quando se trata de explicar para esse paciente que o diagnóstico não é uma sentença, segundo a especialista. “A gente ainda tem muito aquela visão de quando se tem um diagnóstico de câncer é um diagnóstico de terminalidade, de morte. Então a equipe de psicologia auxilia nisso e faz com que esse paciente entenda que o diagnóstico não é uma sentença”, explica.

Além disso, durante o processo dos tratamentos da doença, que são tratamentos difíceis, o apoio psicológico é fundamental. “Têm pesquisas comprovando que quando a pessoa faz um tratamento psicológico a qualidade de vida no processo do tratamento da doença até a recuperação é melhor e torna mais possível a cura”, finaliza.

No Brasil, estimam-se 71.730 novos casos de câncer de próstata por ano para o triênio 2023-2025. Atualmente, é o segundo tipo de câncer mais incidente na população masculina em todas as regiões do país, atrás apenas dos tumores de pele não melanoma. Além disso, é a segunda causa de óbito por câncer na população masculina.

A idade é o principal fator de risco para o câncer de próstata, sendo mais comum em homens a partir dos 60 anos de idade, bem como, histórico familiar de câncer de próstata antes dos 60 anos e obesidade para tipos histológicos avançados.

Veja Também