Concreto e falta de adaptação ao clima e solo provocam queda de árvores

Especialistas ouvidos pelo jornal O Hoje afirmam que concreto é o principal vilão dos problemas causados por quedas durante tempestades

Postado em: 24-11-2023 às 08h00
Por: Matheus Santana
Imagem Ilustrando a Notícia: Concreto e falta de adaptação ao clima e solo provocam queda de árvores
Além das quedas de árvores durante períodos chuvosos afetarem o equilíbrio ambiental, isso também causa impactos sociais e econômicos significativos | Foto: Leandro Braz/O Hoje

As árvores são uma parte essencial de nosso ecossistema, mas durante tempos chuvosos, essa beleza natural pode se transformar em uma ameaça. A queda de espécimes em períodos de chuva intensa traz consigo uma série de desafios e impactos significativos para o meio ambiente, infraestrutura urbana e a segurança das pessoas. Na primeira grande tempestade, com ventania, que ocorreu em Goiânia após meses, na última terça-feira (21), derrubou ao menos 60 espécies apenas na capital. 

A queda de árvores durante épocas chuvosas afeta diretamente o equilíbrio ambiental e ecossistêmico. As árvores desempenham um papel crucial na regulação do clima, na conservação do solo e na manutenção da biodiversidade. Sua queda resulta na perda de habitat para várias espécies e na redução da capacidade de sequestro de carbono, intensificando os efeitos das mudanças climáticas.

Além das quedas de árvores durante períodos chuvosos afetarem o equilíbrio ambiental, isso também causa impactos sociais e econômicos significativos. Danos a propriedades, veículos, linhas de transmissão elétrica e estruturas urbanas são comuns quando árvores caem. Isso pode resultar em interrupções no fornecimento de energia, fechamento de estradas e riscos à segurança pública.

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Uma árvore saudável com folhas vibrantes e densas, livres de manchas, descoloração ou deformidades, cascas intactas e sem rachaduras excessivas é um grande sinal para que ela consiga sobreviver ao período de chuvas e ventos fortes. As raízes bem fixadas no chão também são importantes para garantir que a árvore resista às tempestades. As raízes também contribuem para a estabilidade e absorção de nutrientes das árvores. Desse modo, uma árvore bem fixada no solo tem muito mais chances de sobreviver em tempos chuvosos. Por isso o risco de árvores cercadas por concreto, asfalto e muros. Sem lugar para expansão de suas raízes. Quase como se um ser humano estivesse sufocado, enterrado, sem conseguir respirar. 

Wanessa de Castro, bióloga da Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA), lembra que ventos contribuíram para o caos de quedas. “Nessas primeiras chuvas depois do calorão, as ventanias vieram muito fortes, com velocidade entre 70 e 80 km. Por conta do estado de algumas árvores, às vezes elas podem estar com algum problema ou sofrer alguma interferência por conta do que foi plantada pelo morador”, explica a bióloga.

Wanessa, contudo, afirma que existe um método de precaver prejuízos. “Para plantar árvores em calçadas, a árvore deve ter uma medida de 60 cm de distância do concreto. Quando você não respeita essa medida, o concreto não deixa a árvore fixar as raízes, na terra”.

O sufocamento das árvores por conta do concreto impede que ela seja resistente durante as tempestades. “Então isso é um dos motivos que leva a queda da árvore em chuvas mais fortes acompanhada de ventos mais intensos. A partir do momento que você não deixa o solo impermeável para essas árvores, ela não tem uma fixação firme no solo”, diz a bióloga.

Umas das árvores mais resistentes são da espécie Jambo do Pará, pois esse tipo de árvore tem um enraizamento melhor, mesmo ela não sendo uma espécie nativa da região, ela se adaptou bem ao solo e ao clima goiano. Já as espécies frágeis e com mais registro de quedas em Goiânia são a Sibipirunas e Mungubas, pois elas são árvores mais antigas. De acordo com o Engenheiro Florestal Rodrigo Carlos, as espécies Guapuruvu e Monguba são duas das mais suscetíveis à queda. “Elas não têm um desenvolvimento radicular [que não tem um bom desenvolvimento das raízes ], que favorece a queda constante que podemos observar toda vez que ocorrem chuvas em Goiânia”, explica o Engenheiro Florestal. “Além disso, essas espécies não são uma espécie nativa do cerrado, por esse motivo elas não conseguem se desenvolver corretamente”, explica Rodrigo.

Durante a entrevista ao Jornal o Hoje, Rodrigo Carlos também falou um pouco sobre quais os prejuízos que as quedas das árvores podem causar. “Existem diversos prejuízos ambientais, desde acidentes, desde prejuízos para o próprio tráfego ali no local, e a perda da espécie”, diz Rodrigo. “Outros prejuízos ambientais que podem ocorrer é o desabrigo da fauna, a possibilidade de perda de alimentação para diversas espécies de fauna que habitam aquele lugar, principalmente aves”, conclui o engenheiro florestal.

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