Servidores entram em greve e deixam crianças ociosas

Segunda greve no ano dos servidores da Educação do município de Senador Canedo mantém mesmas reivindicações antigas

Postado em: 18-09-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Segunda greve no ano dos servidores da Educação do município de Senador Canedo mantém mesmas reivindicações antigas

Gabriel Araújo*

Os servidores da Educação municipal de Senador Canedo iniciaram ontem (17), uma nova greve cobrando mudanças na administração pública da cidade, o que deixa as crianças ociosas. De acordo com grevistas, que preferiram não se identificar devido ao medo de retaliações, a greve segue por tempo indeterminado até que o município atenda às reivindicações.

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Dados do movimento constatam que mais de 30 unidades educacionais estão com as aulas suspensas, o que afeta mais de 25 mil alunos. Em nota, no início da tarde de ontem (17), a prefeitura informou que reuniões estavam sendo realizadas para a finalização da greve. “A lista de reivindicações da categoria foi respondida detalhadamente pela administração, entre elas as melhorias constantes nas instituições, formação profissional e reuniões para composição do Plano de Cargos e Salários. Reiteramos o compromisso com nossos alunos e a manutenção sempre do diálogo com nossos servidores”, completou a nota.

Enquanto isso, a população tem sua rotina completamente alterada. Segundo a dona de casa Maísa Lopes, de 27 anos, ela tem dois filhos e não pode sair de casa com as crianças sem aulas. “Meu [filho] mais velho fica estressado, não tem nada para fazer e ele tem toda essa energia. O jeito é ficar aqui fora com eles”, afirma.

Os profissionais reivindicam mudanças na forma de gerenciamento da Educação no município. Conforme informado por eles, falta plano de carreira e de materiais nas escolas e CMEIs como papel para impressão, materiais de higiene e limpeza. Segundo eles, ainda faltam funcionários e que os professores e agentes são forçados a comprar do próprio bolso materiais básicos. Outra reivindicação da classe é a falta de titularização, triênio, quinquênio, piso e condições básicas para exercerem as funções.

De acordo com o atual prefeito de Senador Canedo, Divino Lemes (PSD), as negociações estão caminhando e um acordo depende somente da classe. “Nós temos tratado isso desde janeiro de 2017, com todas as categorias e não importa com qual sindicato ou associação estamos lidando, queremos resolver isso”, afirmou em entrevista ao O Hoje.

Em relação à falta de materiais nas escolas, como papel para impressão e materiais de higiene e limpeza, ele foi enfático e afirmou serem casos pontuais. “É uma situação operacional, temos uma situação difícil que é a lei de licitação e parece que já vamos resolver, faltando somente questões legais”, conclui.

Outra mãe reclama da falta de aulas e dos problemas enfrentados pelos educadores. Claudinete Lucena, de 26 anos, trabalha como atendente e precisou faltar para cuidar do filho João Lucas, de 3 anos. “Eu apoio a paralisação, pois eles [professores] enfrentam diversos problemas aqui. A questão maior é que toda a rotina muda já que eu não tenho com quem deixar ele e tudo acaba virando uma bagunça”, lembra.

Segundo o prefeito, existe uma discussão no modo de operar as mudanças e atender as reivindicações. “Uma das grandes reivindicações é o piso do professor, nesse caso tem uma categoria intermediária que reivindica um valor a mais. Estamos conferindo a legislação para saber como proceder”, completa.

Divino afirma ainda que tem buscado apoio no legislativo da cidade para melhorara as determinações legais quanto às reivindicações. “Temos as progressões temporais, como triênio e quinquênio, em que temos oito leis sobre o assunto e precisamos unificar”, afirma.

O CMEI professor Juraci Fonseca está de portas fechadas e ainda não foi definido a volta às aulas. “A gente entende as reivindicações, eles estão no direito deles, o que a gente não entende é como a prefeitura deixa as coisas faltarem e tudo nessas condições”, completou Claudinete.

Gestão da Educação é marcada por denúncias e greves 

No último mês de maio, cerca de 90% dos servidores da Educação de Senador Canedo entraram em greve, o que afetou mais de 25 mil alunos. Na época, as reivindicações estavam ligadas às condições de trabalho e a falta de reajuste salarial. 

O então porta-voz da Associação Municipal Dos Servidores da Educação de Senador Canedo (Amsesc), Edielson Cantão, afirmou que o grupo apresentou uma carta de reivindicações e cobrou solicitações antigas. “O secretário conversou com a categoria e estabeleceu algumas datas para dar respostas em relação às reivindicações. Nós cobramos outras solicitações feitas em ações anteriores, já que o nosso grupo vem atuando há cerca de um ano na Educação de Senador Canedo”, explicou na época a um veículo da Capital.

Corrupção 

Em janeiro, o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) abriu inquérito para investigar denúncia de corrupção nas indicações para gestores de escolas no município de Senador Canedo. A denúncia partiu de um grupo de ex-diretores escolares de Senador Canedo após a prefeitura da cidade indicar novos gestores para 13 das 44 unidades escolares. 

Segundo os profissionais no período, o Poder Executivo Municipal deveria ter iniciado processo eleitoral para escolha de novos gestores em novembro de 2017, que é o estabelecido pela legislação atual.

De acordo com a denúncia, o atual prefeito de Senador Canedo, Divino Pereira Lemos, não garantiu poder de decisão democrático ao preencher os cargos com indicações. Os servidores ainda afirmam que não houve oficialização do ato administrativo e nem comunicação aos gestores que, até a substituição, estavam em exercício.

As investigações seguem enquanto a classe reivindica mudanças na gestão da educação municipal. De acordo com os profissionais, as solicitações estão baseadas no artigo 56 da Lei municipal 9.384 de 1996. “As instituições públicas de educação superior obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a existência de órgãos colegiados deliberativos, de que participarão os segmentos da comunidade institucional, local e regional”. 

Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian

 

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