Antiga construção da Estação Ferroviária é revitalizada

Revitalização da Estação Ferroviária segue em conjunto com análises históricas. Estudos determinam detalhes da construção, que já possui quase 70 anos

Postado em: 19-09-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Revitalização da Estação Ferroviária segue em conjunto com análises históricas. Estudos determinam detalhes da construção, que já possui quase 70 anos

Gabriel Araújo*

A restauração da Estação Ferroviária descobre detalhes sobre antiga construção em estudos realizados durante a obra. De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), intervenções passadas alteraram o prédio original, que conta com 68 anos desde a inauguração. A obra, que teve início em meados do último mês de janeiro deve ser concluída até o final de 2018. A restauração está orçada em R$ 5,8 milhões e contempla a recomposição da estrutura original a partir de dados históricos coletados pelo Instituto.

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De acordo com o órgão, diversas partes do prédio foram alteradas, desde a disposição das janelas, altura do piso, cor e telhado tiveram mudanças constatadas. Em visita na tarde de ontem, a equipe do O Hoje foi informada que a construção realizada durante o governo de Mauro Borges passou por diversos estudos para a definição de um projeto e que, pesquisas continuam para que local possa ser reestruturado sem perder a essência cultural e histórica.

A atual restauração é realizada a partir de três linhas de atuação. Primeiramente foram realizadas as análises que levaram as definições do projeto inicial e, com isso, foram iniciados os trabalhos de restauro artístico, no caso, a primeira etapa da restauração dos dois murais pintados pelo Frei Confaloni. “Essas obras sofreram bastante com a infiltração e com o musgo causado pela água, precisando de uma intervenção dos restauradores e, agora, só precisamos definir a saturação das obras”, afirmou a coordenadora técnica do Iphan, Beatriz Otto Santana. Outra linha de atuação é a restauração do próprio edifício, que ainda está sendo estudado para a definição das formas de trabalho. O local estava abandonado e tem como principal problema a infiltração da água acumulada nas lajes, o que chegou a afetar as estruturas de concreto. “As calhas estavam entupidas e isso gerou o acúmulo de água, já fizemos um tratamento químico para por um fim a oxidação e agora vamos reforçar a estrutura”, completou a Beatriz, que é arquiteta.

A última etapa da obra é a requalificação do entorno, que também faz parte do projeto. Neste caso, primeiro foi realizado um estudo arqueológico do local. “É praxe em obras do Iphan os levantamentos e estudos. Aqui na Estação fizemos uma análise arqueológica para entender melhor alguns pontos da própria história do local, além de estudar o próprio prédio para descobrir quais foram as cores originais e os tipos de materiais utilizados”, conta.

Segundo a coordenadora, por existirem mudanças sociais entre o período de construção e o atual foi preciso fazer algumas alterações no local. “Devido a questões de segurança, a área aberta da Estação será fechada com vidro. Temos também uma das paredes da área principal, que era aberta, em que fechamos e colocaremos azulejos”, lembra.

A ordem de trabalho que deu início às obras foi assinada em dezembro de 2017 pelo atual prefeito de Goiânia, Iris Resende (MDB), e contou com a participação de representantes do Iphan, responsável pelo financiamento da reforma. Na época, a presidente do Instituto, Kátia Bogéa, afirmou que os investimentos na cidade já chegavam à casa dos R$ 50 milhões, todos em obras históricas na Capital. “Goiânia tem o maior patrimônio Art Déco do Brasil, e a Estação é um dos elementos artístico desse grande patrimônio”, afirmou. De acordo com o Instituto, os trabalhos estão concentrados na intervenção de restauração estrutural do edifício e dos dois afrescos de Frei Nazareno Confaloni, além dos serviços de paisagismo e implantação de equipamentos urbanos no entorno do prédio. O local estava abandonado e era utilizado por usuários de drogas e moradores de rua. Segundo Beatriz, um dos principais aspectos da restauração é o uso dado ao local. “O projeto contempla a instalação de um espaço para exposição, Centro de Atendimento ao Turista (CAT), além de um Atende Fácil e do escritório da Divisão de Requalificação Urbana e Patrimônio da prefeitura”, afirma. “Portanto, uma pessoa pode, ao utilizar um dos atendimentos da prefeitura, visitar a exposição”, completa.

A antiga locomotiva, conhecida como ‘Maria Fumaça’ mudará de local e será colocada sobre os antigos trilhos da Estrada de Ferro. “Existe um projeto da prefeitura de colocar pequenos carros sobre os trilhos para funcionarem como cafés”, finaliza Beatriz.

Estação Ferroviária

A estação foi inaugurada em 1950, mas só passou a receber trens de cargas e passageiros da Estrada de Ferro Goyaz no ano de 1952. O local funcionou até a década de 1980, quando a área férrea da Capital passou para o município vizinho de Senador Canedo. A Estação é considerada um dos mais importantes edifícios representativos do acervo arquitetônico e urbanístico Art Déco de Goiânia, tombado pelo Iphan desde 2002.

Antiga estrada de ferro foi uma das principais vias ferroviárias de Goiânia 

A Estrada de Ferro Goiás foi uma das principais linhas de movimentação ferroviária do Estado durante grande parte do século 20. As tentativas de se instalar ferrovias começaram ainda em 1873, quando o imperador autorizou a implantação de uma linha que ligasse a capital do Império, Rio de Janeiro, à margem do Rio Vermelho. Apesar do apoio e investimento, o projeto não pode ser concluído e uma nova tentativa teve início em 1886.

Na época, foi liberada uma concessão à Companhia Mogiana de Estrada de Ferro para a ampliação das linhas do Rio Paranaíba ao Rio Araguaia, mas os trilhos só começaram a chegar em 1890 e, apesar disso, a cidade de Araguari foi definida como ponto inicial para a estrada de ferro e a Cidade de Goiás como ponto final apenas em 1904.

A ferrovia foi fundada, então, em três de março de 1906 e já era considerada uma solução para o escoamento e chegada de produtos no Estado. Inicialmente chamada de Estrada de Ferro Alto Tocantins, era uma empresa de capital privado que foi autorizada a explorar trechos em Goiás. Em maio de 1911, dois anos após o início da implantação do marco zero da ferrovia, os trilhos começaram a ser instalados no Estado de Goiás e, já em 1920, o Governo Federal assumiu a administração da ferrovia. Com os anos, a linha Araguari-Roncador, com 234 quilômetros de extensão, foi incorporada à nova Estrada de Ferro Goiás e, já em seu auge, a Estrada de Ferro Goiás já contava com todos os seus 480 quilômetros de extensão. Em Goiânia, o principal ponto da Estrada de Ferro é a estação ferroviária. Inaugurada em 1950, o local só passou a receber trens de cargas e passageiros da Estrada de Ferro Goyaz no ano de 1952. A estação funcionou até a década de 1980, quando a área férrea da Capital passou para o município vizinho de Senador Canedo.

Foi a partir do início da década de 1970 que a decadência do setor de transporte ferroviário chegou à Capital. A falta de investimento e de uma melhor estrutura contribuiu para a queda na utilização de locomotivas e resultou na diminuição do transporte de passageiros. A antiga Estrada de Ferro Goyaz perdeu sua importância para o mercado e população, acabando aos poucos e já teve trilhos retirados e a estação de Campinas fechada em 1972. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

 

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