Obesidade leve pode ser tratada com procedimentos intragástricos

Cerca de 20% da população está neste estágio. Especialista explica como saber se você já chegou a esse patamar e como começar a se cuidar

Postado em: 01-12-2023 às 08h00
Por: Alexandre Paes
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“Quando fiz meus exames, veio uma verdadeira bomba. Pressão alta, pré diabetes e colesterol muito alterados”, conta Ana Paula | Foto: Arquivo Pessoal

No início do ano a Ana Paula, aos 32 anos, pesava cerca de 85kg, e por estar acima do peso, sentia muitos sintomas de doenças adquiridas devido à obesidade. “Eu sentia muita falta de ar, e quando fiz meus exames veio uma verdadeira bomba. Pressão alta, pré diabetes e colesterol muito alterado. Já estava no grau II da obesidade, e notei que precisava dar um jeito para melhorar a minha saúde”, conta o gerente comercial.

Os riscos inerentes à obesidade, todo mundo já conhece. Hipertensão, diabetes, problemas cardiovasculares, colesterol alto e dificuldades respiratórias são alguns dos males associados a um índice alto de gordura corporal. No entanto, muita gente subestima os perigos trazidos até mesmo pela obesidade leve, que podem se agravar caso associados a predisposições genéticas.

Atualmente, o método mais difundido para diagnóstico da obesidade é o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), considerado simples e eficiente, além de não ter nenhum custo. Especialistas consideram cinco faixas de classificação com base nessa metodologia: abaixo do normal, normal, sobrepeso, obesidade grau 1 (leve), obesidade grau 2 (moderada) e obesidade grau 3 (mórbida ou grave). 

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“Quanto maior o grau de obesidade, maior o risco das doenças associadas, que são as comorbidades, como pressão alta, diabetes e gordura no fígado”, explica o gastroenterologista focado em tratamentos endoscópicos para obesidade Joffre Rezende Neto. “Na maioria das pessoas, essas condições vão aparecer a partir da obesidade grau 2. Entretanto, há pessoas que já têm predisposição por outra causa de ter alguma doença. Se tem um fator genético para ter diabetes, o fato de estar um pouco acima do peso pode fazer a doença se manifestar”, complementa.

Mesmo com 20% dos brasileiros nesse patamar de obesidade, conforme levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) divulgado em março deste ano, grande parte da população continua a desconsiderar os riscos provocados pela obesidade leve. “A maioria das pessoas que hoje que estão com o IMC pouco maior que 30, ou mesmo das pessoas que estão com peso normal, mas tem alto percentual de gordura, ainda não vêem a obesidade como doença. Acham que é simplesmente um problema estético. Tentam emagrecer, mas não se dão conta de que precisam de um tratamento”, destaca Joffre.

O especialista afirma que para casos de sobrepeso e obesidade leve, o primeiro recomendado é a mudança no estilo de vida. “Os primeiros passos são praticar atividade física, reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, frituras e doces, aumentar a quantidade de vegetais na dieta e, a partir daí, com a mudança gradual, o paciente começa a controlar as quantidades também”, diz Joffre. 

Foi só depois de sofrer uma convulsão que a Ana Paula notou a seriedade de tratar o sobrepeso, e buscou ajuda médica especializada para perder peso e adaptar sua rotina em busca de uma qualidade de vida. “Sempre ouvia falar somente da cirurgia bariátrica. Mas depois de duas gestações, fiquei com medo e não queria passar por um procedimento tão invasivo. Foi quando conheci a o balão gástrico, que o médico inseriu e me ajudou no controle da fome e da alimentação”, explica.

Em casos em que o paciente não consegue êxito fazendo uma mudança no estilo de vida, o médico explica que o próximo passo são as medicações. Se mesmo com os cuidados gradativos não forem alcançados os resultados desejados, passam a ser indicados os tratamentos endoscópicos, como o balão intragástrico, o balão deglutível e a gastroplastia endoscópica. 

“Os tratamentos endoscópicos têm uma grande eficiência para quem está neste estágio e hoje existe uma grande evolução nas opções, como balão deglutível, que tem o tamanho de uma cápsula e, somente após engolido com auxílio do especialista, é inflado”, aponta o especialista.

Balão gástrico auxilia na perda de peso do paciente

Chamado de “balão intragástrico ingerível”, o método consiste na ingestão de uma cápsula, que, uma vez no estômago do paciente, será inflada por meio de um cateter com 500 a 550 ml de líquido. Como explica o gastrocirurgião Joffre, esse balão vai ocupar espaço, gerando a esperada sensação de saciedade até ser esvaziado e eliminado nas fezes em média após quatro meses.

Ele ressalta que mesmo quando há uso de medicamentos ou de tratamentos endoscópicos, os cuidados rotineiros continuam sendo fundamentais. “As medidas comportamentais são obrigatórias ao tratamento da obesidade, mas, em alguns casos, são insuficientes. Em qualquer tratamento precisa haver prática de atividade física, controle alimentar e avaliação por uma nutricionista”, conclui o médico.

“Os efeitos colaterais e a quantidade de perda de peso é semelhante, então a grande vantagem seria não necessitar das duas endoscopias. É mais prático e mais confortável para o paciente que não precisa tomar sedação”, frisa. No procedimento minimamente invasivo de inserção do balão deglutível, o paciente engole uma cápsula com um gole de água. Já no estômago, essa cápsula que contém o balão dentro é preenchida com um líquido específico, tomando o formato de elipse.

“Todo o procedimento dura em média 15 minutos e, após 16 semanas, o balão é expelido naturalmente do organismo por meio das fezes”, pontua Joffre Miranda. Além disso, o balão conta com um programa de acompanhamento multidisciplinar por seis meses, aliado com equipamentos de alta tecnologia e inteligência artificial, para ajudar ainda mais o paciente e a equipe.

O especialista explica que é de extrema importância o acompanhamento médico e multidisciplinar para o sucesso no controle da obesidade: “Essa doença é considerada crônica, grave e progressiva, que só piora caso não tratada. Por isso, é importante prevenir a sua evolução para uma fase pior que pode acarretar outros danos à saúde, como diabetes, câncer, infarto, hipertensão, dores articulares, infertilidade, entre outras 190 doenças, sem contar a baixa autoestima e libido que causa em homens e mulheres de todas as idades”, finaliza Joffre Rezende Neto.

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