Irrigação por gotejamento pode ser alternativa para enfrentar mudanças climáticas

Diante das adversidades climáticas enfrentadas nos últimos anos, a irrigação tem se mostrado uma importante ferramenta na agricultura

Postado em: 04-12-2023 às 10h30
Por: Alexandre Paes
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Diante das adversidades climáticas enfrentadas nos últimos anos, a irrigação tem se mostrado uma importante ferramenta na agricultura | Foto: Divulgação

A cultura da soja desempenha um papel vital na segurança alimentar global, sendo uma fonte essencial de proteína e óleo. No entanto, a crescente instabilidade climática representa um desafio significativo para os agricultores, impactando a germinação e condução eficiente da cultura. A soja é uma cultura versátil, mas sua produção está cada vez mais sujeita às flutuações climáticas. 

De acordo com o último boletim da safra de grãos divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o plantio está atrasado em relação ao mesmo período da safra 2022/23. Esse atraso é devido, principalmente, às precipitações irregulares nas regiões produtoras, sendo que muitas regiões já relatam ser o maior atraso dos últimos 5 anos. O fenômeno El Niño, que acarreta excesso de chuvas na região sul e falta delas nas demais regiões do país, tem também causado a necessidade de replantio em várias localidades, gerando prejuízos aos agricultores. 

O atraso no plantio da soja impacta também a possibilidade de realização de uma segunda safra em algumas regiões do país. Dessa forma, além de prejudicar a principal safra do produtor de grãos, pode inviabilizar a safrinha e a oportunidade de maior produção de alimentos e geração de receita. O comunicado técnico publicado pela Embrapa, referente ao programa de tecnologias para enfrentamento da seca na soja (TESS), evidenciou que a seca na safra 2021/22 desfalcou 396,7 milhões de sacas (60 kg) nos estados do RS, SC, PR, GO e MS. 

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A soja não produzida nessa safra significou um impacto de US$ 14,9 bilhões em 40% da área ocupada pela cultura da soja no Brasil (CONAB, 2022; IPEA, 2022). Nesse contexto, as soluções de irrigação, como o gotejamento subterrâneo, se encaixam perfeitamente como uma ferramenta estratégica, possibilitando que o produtor tenha a oportunidade de realizar a germinação do cultivo independentemente das condições climáticas, mantendo a umidade do solo através de ciclos de irrigação, suprindo a demanda hídrica para o pleno desenvolvimento, floração e enchimento de grãos.

A irrigação por gotejamento subterrâneo permite a aplicação de água em baixo volume e alta frequência, com alta eficiência de aplicação, pois cada milímetro é colocado exatamente na zona radicular da cultura. Os tubos, que ficam enterrados a uma profundidade de 20 a 25 cm, contam com um fenômeno físico chamado capilaridade, que através de forças de coesão, adesão e tensão superficial, possibilita a ascensão da umidade, chegando às camadas superficiais do solo e consequentemente na região das sementes para proporcionar a germinação dos cultivos. Desta forma, produtores de todo o Brasil podem aproveitar as janelas ideais de plantio, independentemente das precipitações, podendo realizar até três safras no ano dependendo da região.

Na fazenda Primavera, o produtor possui o sistema de irrigação por gotejamento subterrâneo nas áreas não irrigadas pelos pivôs centrais, somando mais de 520 hectares somente com a tecnologia de gotejamento subsuperficial. A fazenda cultiva soja, milho e feijão na terceira safra, dessa forma necessita que a germinação da soja e feijão ocorra na época seca, independente do acumulado de chuvas. 

Outro exemplo está no sudoeste do estado. O produtor aumentou sua área irrigada em 20%, chegando a irrigar 85% da área agricultável da fazenda utilizando a tecnologia de gotejamento subsuperficial integrada com os pivôs. O aumento da área irrigada da fazenda proporciona a verticalização da produção, possibilidade de realização de mais safras no ano, flexibilidade para o plantio e germinação independente das chuvas. 

Ao optarem por tecnologias inovadoras, como o gotejamento subterrâneo, os agricultores não só enfrentam os desafios impostos pelas condições climáticas, mas também fomentam uma abordagem sustentável capaz de revolucionar a agricultura. Essa escolha não apenas assegura um futuro com maior segurança para o produtor de grãos, mas também promove a robustez e a eficiência do setor agrícola como um todo”, aponta João Marcos, especialista agronômico da Netafim.

Gotejamento subterrâneo é método inovador 

Há vários tipos de irrigação, cada um com suas técnicas. A irrigação por gotejamento é uma delas, com vasto uso no meio do agronegócio. A irrigação fornece água às plantas em épocas em que a precipitação não é suficiente para manter o solo em condições ótimas para a cultura. Isso evita o estresse hídrico, que pode causar perdas de produtividade.

Muitos produtores rurais idealizam um sistema de irrigação capaz de economizar água e energia e que ainda pode ficar protegido de ataque de animais silvestres ou de acidentes com equipamentos, pois fica embaixo da terra. A boa notícia é que essa tecnologia avançada existe. Os tubos gotejadores são instalados a uma profundidade de aproximadamente 25 centímetros, e possibilitam a aplicação de água, de nutrientes e de defensivos diretamente na raiz da planta – que é a área do vegetal responsável pela absorção desses elementos. 

De acordo com o engenheiro agrônomo Elídio Torezani, a tecnologia propicia melhor absorção do que a obtida por outros métodos e ainda simplifica as operações agrícolas, facilitando o dia a dia dos profissionais responsáveis pelo manejo. Torezani, diretor da Hydra Irrigações, destaca algumas das principais vantagens do gotejo enterrado: “A eficiência no uso da água, um recurso cada vez mais escasso, é o maior ganho”, afirma.

O agrônomo explica que, ao fornecer água diretamente às raízes das plantas, o método minimiza as perdas de água por evaporação ou pelo escoamento superficial, além de evitar o consumo dela por plantas invasoras. “Essa eficiência reduz de forma significativa a quantidade de água necessária para irrigação, diminuindo os custos associados ao uso excessivo do recurso”.

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