Raro, infecção de HIV e aids em crianças preocupa especialistas

A principal forma de infecção do vírus em crianças é a transmissão vertical, quando a mãe passa para o filho, segundo especialistas

Postado em: 06-12-2023 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
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O lentivírus que está na origem da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, uma condição em seres humanos | Foto: Agência Brasil

Na série histórica de 2018 a 2023, foram registrados 16 casos de Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) em crianças menores de 13 anos em Goiás, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde. De 2007 a 2020 esse número foi de 24 notificações e 55 casos de Aids em menores de 13 anos de idade. Para o mesmo período foram registrados no portal Sinan, 19 casos de HIV e 34 casos de Aids em menores de 5 anos. Em relação ao número de casos  em gestantes, o total foi 1.783 no mesmo período.

O infectologista Marcelo Daher, diz que uma mulher que tem o Vírus da imunodeficiência humana (HIV), ao engravidar, corre o risco de transmitir a doença para o seu filho. Esse tipo de transmissão – quando a gestante infectada passa o vírus para a criança – é denominada de transmissão vertical, segundo Daher. “Quanto maior a carga viral da mãe, maior a chance de transmissão do vírus para o seu filho. Então, se a mãe não está tratando, se ela descobriu a doença recentemente, os riscos são maiores”, explica.

A infectologista do Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), Lian Pavodez, acrescenta que a transmissão também pode ocorrer a partir de casos de violência sexual, onde a criança  pode contrair o HIV ao ser estuprada, e também por meio do aleitamento materno.

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O lentivírus que está na origem da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, uma condição em seres humanos na qual a deterioração progressiva do sistema imunitário propicia o desenvolvimento de infeções oportunistas e cancros potencialmente mortais.

Para evitar que essa infecção ocorra, a gestante recebe um medicamento na hora do parto ou cerca de duas horas antes do procedimento. Além disso, após o nascimento a criança deve passar por um período de tratamentos, onde recebe os medicamentos antirretrovirais – remédios que impedem a multiplicação do HIV no organismo – durante quatro semanas – antirretrovirais. “O medicamento que a criança vai receber varia de acordo com o risco”, pontua.

No caso da gestação de baixo risco – quando a mãe está com a carga viral controlada -, quando nascer, a criança deve tomar um único medicamento, durante quatro semanas, uma vez que o risco de transmissão é pequeno, segundo o especialista. “As crianças de alto risco, que são aquelas que a mãe teve carga viral positiva no terceiro trimestre ou iniciaram o tratamento tardiamente, precisam tomar três medicamentos para diminuir a chance de infecção pelo HIV”, afirma.

O banho logo após o nascimento é outro cuidado que precisa ser tomado para diminuir os riscos de infecção na criança, segundo Lian. “O banho logo após o nascimento serve para retirar fluidos corporais e sangue da mãe que pode estar ali no recém-nascido da mãe.

Diagnóstico e tratamentos

Os medicamentos são os mesmos usados nos tratamentos em adultos, porém, com uma variedade menor “porque a gente tem que usar só os medicamentos aprovados para uso em criança”.

O diagnóstico é feito com exames de rotina, onde é realizado um procedimento chamado de carga viral, segundo o infectologista. “Essa criança precisa ser dosada à carga viral, após 15 dias, com seis semanas e com 12 semanas”, detalha. No caso de algum desses exames testar positivo para o vírus da Aids, outro exame precisa ser feito com rapidez para uma segunda confirmação. A partir do diagnóstico, os tratamentos precisam ser iniciados.

Assim como em adultos, os sintomas da doença em crianças variam ou não aparecem em alguns casos, podendo se apresentar de formas mais graves também, causando a morte do recém nascido logo após o parto. “É uma doença que pode ser grave para criança, sim, vai depender da quantidade de vírus e outros fatores, mas o tratamento é o mesmo. A criança vai receber remédio”, explica.

Além disso, existem casos em que o surgimento dos primeiros sintomas pode demorar meses e até anos, de acordo com Lian Pavodez e ao longo desse tempo, a criança está suscetível a várias consequências. “Ela pode ter atraso do desenvolvimento, dificuldade no crescimento, quadros de infecções recorrentes, infecções graves, linfonodos que são aquelas famosas ínguas pelo corpo de tamanho aumentado, febre recorrente, aumento do baço do fígado, alterações no exame de sangue como anemia, os leucócitos baixos, que são as células da imunidade e também diarreia recorrente”, detalha a médica.

Transição para a fase adulta

Como a doença não tem cura, após o nascimento, a criança passa a receber o remédio que fará parte da sua vida pelo restante da sua existência. Esse medicamento deve ser ajustado à medida que esse menor vai crescendo, de acordo com o peso até chegar na fase adulta onde deve tomar a dosagem. “O que a gente quer com o tratamento é que o vírus pare de se reproduzir, de se replicar, e a partir disso, que esse paciente consiga atingir uma carga viral indetectável”, pontua a infectologista.

Padovez ressalta ainda que, quando o menor tem um diagnóstico precoce e a família tem uma boa adesão ao tratamento, ou seja, comparece sempre as consultas, faz todos os exames regularmente e faz o uso correto das medicações, essa criança vai ter uma boa qualidade de vida, um desenvolvimento normal e uma vida normal na vida adulta. Além disso, segundo a infectologista, no caso dos adultos, quando estão com uma boa adesão ao tratamento, não transmitem o HIV. “Essa pessoa pode ter relações sexuais, se casar, engravidar, ter filhos, trabalhar, estudar, tudo de forma normal. A única diferença é que ela precisa sempre manter um acompanhamento regular com as consultas, exames e uso das medicações”, salienta.

Com os tratamentos adequados o vírus, que antes poderia ser identificado pelo exame de sangue, torna-se indetectável, segundo Lian. “Ao realizar um exame de sangue a gente vê que o vírus não está ali se replicando, ele está indetectável. A pessoa tem o HIV, mas aquela infecção está controlada”, salienta.

No caso das crianças que por alguma razão específica não fazem os tratamentos, podem enfrentar sérios problemas. “A gente sabe que o HIV, a longo prazo, vai fazer com que a nossa imunidade fique muito baixa. Com isso, é uma criança que pode adoecer com muita frequência, inclusive com infecções graves que necessitem de internação e causar os outros prejuízos relacionados ao desenvolvimento neurológico e ao crescimento”, alerta.

Os medicamentos utilizados no tratamento da  aids  são administrados via oral. “Nos últimos anos tivemos muitos avanços em relação aos medicamentos para HIV, que hoje, além de funcionar muito bem, têm menos efeito colateral, são mais bem tolerados, principalmente nas crianças”, destaca Padovez. As crianças costumam ter menos efeitos colaterais em relação aos adultos.

Outra opção de remédio para os pequenos são os xaropes e comprimidos que podem ser dissolvidos na água. Todos os tratamentos são oferecidos unicamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e não estão disponíveis para comprar em farmácia. A especialista destaca ainda que todos os remédios utilizados no tratamento do HIV são seguros e efetivos.

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