Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Projeto Salva: uma década de compromisso e proteção aos animais em Anápolis

Gustavo Rafael, coordenador e voluntário, compartilha desafios, sucessos e o futuro do Projeto Salva

Postado em: 11-12-2023 às 10h30
Por: Luana Avelar
Imagem Ilustrando a Notícia: Projeto Salva: uma década de compromisso e proteção aos animais em Anápolis
Gustavo Rafael, coordenador e voluntário, compartilha desafios, sucessos e o futuro do Projeto Salva | Fotos: Arquivo pessoal/Projeto Salva

Ser abandonado pela própria família foi um episódio vivenciado por Raimundo, o cachorro idoso que recebeu uma nova chance de viver graças aos esforços da equipe do Projeto Salva. Raimundo foi encontrado em estado grave na Pedreira Anápolis, em Goiás. “Ele estava com cinomose e abandonaram ele lá, ele já é um cachorro idoso, um cachorro porte grande”, relata Gustavo, o coordenador voluntário do projeto. 

Situações como a de Raimundo são recorrentes e, muitas vezes, não acabam em finais felizes. O caso acima foi resolvido com sucesso: Raimundo, após quase um ano de espera, conseguiu um lar adotivo responsável. No entanto, quantos gatos e cachorros não contam com o mesmo destino?  

Preocupado em resgatar animais abandonados e em situação de maus tratos, Gustavo Rafael, de 38 anos, coordena o Projeto Salva em Anápolis, que teve início em 2013 como “Bicho Não É Lixo”, uma iniciativa formada por quatro amigas. Formalmente estabelecido como Projeto Salva em 2014, a organização celebrou uma década de compromisso este ano, destacando seu crescimento além do resgate inicial, concentrando-se na castração como medida fundamental para enfrentar o problema dos animais de rua.

Continua após a publicidade

Gustavo, voluntário há 6 anos, apoia eventos, doações e contribui de várias formas externas. Sua responsabilidade abrange a gestão financeira e o gerenciamento de um sebo dedicado a angariar fundos para a iniciativa. Criado por Gustavo, o sebo tornou-se uma fonte valiosa de recursos, obtendo doações de livros da comunidade e comercializando-os online através do Instagram.  Toda a receita gerada pelo é direcionada para financiar o projeto.

Gustavo também destaca o compromisso financeiro constante da comunidade, embora por vezes enfrentem dificuldades financeiras, mencionando que “nossa conta tinha passado de 12 mil reais lá na clínica.” A responsabilidade nas adoções e resgates é ressaltada, evidenciando o impacto da irresponsabilidade de algumas pessoas: “A gente sofre muito com essa questão, a pessoa que pede ajuda para o animal diz que vai dar lar temporário e depois inventa mil desculpas.” Essas complexidades tornam o trabalho do projeto uma batalha constante entre recursos limitados e a necessidade urgente de proteger e salvar animais em situações de risco e abandono.

Lidando com os desafios complexos dos casos de abandono e maus tratos, Gustavo destaca a abordagem educativa e informativa do projeto, reconhecendo as limitações em termos de poder de polícia: “Infelizmente para a gente é algo meio complicado, é um trabalho de educação, informativo, porque a gente não tem poder de polícia.” Diante de situações extremas, o projeto busca colaboração, incluindo o apoio de vereadoras, atuantes na causa animal, para intervenções mais eficientes. Gustavo descreve o processo de instruir pessoas sobre os canais de denúncia disponíveis, como polícia civil e OAB, fortalecendo a conscientização sobre os direitos dos animais.

O voluntário, compartilhou também as reflexões sobre casos específicos que teve contato direto, revelando a complexidade e os desafios frequentemente enfrentados. O primeiro caso citado envolveu cadelinha Floquinha, que foi resgatada no Recanto do Sol, onde a pessoa que inicialmente ofereceu lar temporário a ela acabou por devolvê-la após apresentar desculpas infundadas. “A gente levou o animal pra casa dela, chegou lá, ficou um dia e ela pôs ele na rua de novo, porque não podia ficar, que o marido não queria, inventou um milhão de desculpas e colocou o animal na rua.” Após enfrentar percalços, Floquinho encontrou um lar adotivo em Goiânia.

Além de Floquinho, “Tigresa” é outra cadelinha que também foi abandonada, dessa vez no Parque Ipiranga. Gustavo relembra o momento em que recebeu a notícia do resgate enquanto estava concentrado em concluir seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). “As meninas jogaram no grupo que tinha uma cadelinha que precisava de resgate porque ela estava jogada lá no parque” Mesmo sem carona naquele domingo à noite, Gustavo não hesitou em se envolver. “Larguei tudo aqui, corri lá no parque, peguei ela, levei para o lar.”

No dia seguinte, a equipe levou-a à clínica, onde foi constatada desnutrição, doença do carrapato e desidratação. O tratamento foi eficaz e o mesmo voluntário que ofereceu o lar temporário decidiu adotar a Tigresa. Gustavo ressalta não apenas a superação da cadelinha, mas também a importância das histórias positivas que fortalecem a motivação da equipe.

Por fim, Gustavo comentou sobre o caso de Raimundo, o cachorro idoso já falado na introdução desta reportagem. Sobre isso, o voluntário destaca a recusa em enviar o animal para propriedades rurais, visando evitar que Raimundo fosse relegado a uma vida de solidão, vigiando propriedades sem garantias de cuidados adequados.

A reviravolta na história de Raimundo aconteceu quando o patrão de Gustavo expressou o desejo de ter um cachorro no escritório. Essa coincidência abriu as portas para uma nova fase na vida do Raimundo. “Por muita sorte, o meu patrão estava procurando um cachorro para ficar lá no escritório com a gente porque sempre tem algum cachorro por lá.” O animal resgatado, após um longo período de internação, encontrou um lar amoroso e se tornou parte integrante do ambiente de trabalho. “A gente achou que ele não ia sobreviver, mas ele vingou e já fez um ano que ele está no escritório com a gente”, destaca Gustavo.

Quanto aos planos futuros, ele enfatiza a atuação focada no município, ressaltando a falta de perspectiva de extrapolar os limites de Anápolis. Apesar dos casos esporádicos em cidades distantes, o principal foco permanece local. “Não temos nenhum programa específico assim, mas temos os nossos carros chefes.” Esses carros-chefes incluem a conscientização sobre a castração, a luta contra o abandono e a promoção da adoção responsável. Quanto ao programa de voluntários, a iniciativa depende muito da boca a boca e do engajamento através do Instagram, onde diferentes frentes necessitam de apoio, desde lar temporário até a organização de eventos e captação de doações.

Veja Também