Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Gatos não são causadores de esquizofrenia

Apesar da esquizofrenia ter relação com a toxopasmose, os gatos não causam nenhuma das duas doenças

Postado em: 15-12-2023 às 17h26
Por: Larissa Oliveira
Imagem Ilustrando a Notícia: Gatos não são causadores de esquizofrenia
Foto: iStock

Os gatos, mais uma vez, foram alvo de fake news. Nesta terça-feira (12), o O Globo publicou uma matéria extremamente duvidosa e questionável, além de desnecessária. Isso porque o título não condizia com o conteúdo da notícia, sendo puramente sensacionalista. O jornal afirmou que ter um gato dobra o risco de desenvolver esquizofrenia. Entretanto, essa afirmação não tem nenhum embasamento científico de qualidade. Além disso, apenas incita aos maus-tratos de animais que só causam amor.

Os estudos aos quais o O Globo se refere trazem a esquizofrenia como uma consequência da contaminação por toxoplasmose. Isso porque existem estudos que apontam que a infecção com o parasita Toxoplasma gondii, causador da doença, provocam nos indivíduos infectados diversas alterações neurológicas semelhantes ou próprias da esquizofrenia. Porém, os gatos não causam toxoplasmose. Logo, também não causam esquizofrenia. Essa relação causal simplesmente não existe.

Gatos não causam toxoplasmose

De acordo com a médica veterinária Marcella Maris, essa matéria é “um sensacionalismo irresponsável e mesquinho”. A especialista em cuidado animal explica que, na verdade, o grande causador da toxoplasmose é a ingestão de carne crua ou mal cozida e água contaminada. “Não é o gato! Você se infecta com o parasita se ingerir os osteócitos dos protozoários que podem ser encontrados nas fezes de um animal contaminado. Mas esse animal muitas vezes não é o de estimação”, orienta.

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Ainda segundo a especialista, apenas gatos que não ficam dentro de casa e que não comem somente ração podem possivelmente ingerir o parasita. Contudo, apenas se os felinos caçarem e comerem animais menores que talvez estejam infectados com o Toxoplasma gondii. “Você só se contaminará por meio de um gato infectado se tiver contato com as fezes desse animal. Mas se você ainda não entendeu, vou resumir: não come o cocô do gato”, enfatizou a médica veterinária Marcella Maris.

Pesquisas inconclusivas

Na notícia, o jornal O Globo afirmou categoricamente que ter um gato de estimação pode potencialmente duplicar o risco de uma pessoa desenvolver distúrbios relacionados à esquizofrenia. De acordo com a matéria, essa informação é baseada em 17 estudos de pesquisadores do Centro de Pesquisa em Saúde Mental de Queensland. Vale ressaltar que Queensland é um estado da Austrália, país que estuda limitar o número de gatos selvagens, por conta do comportamento altamente predatório.

Aliás, o país considera até permitir a caça de felinos a fim de reduzir o número desses animais lá, conforme o próprio O Globo publicou em setembro deste ano. Portanto, os estudos pelos quais o jornal se pautou se referem aos gatos selvagens e não de estimação de uma país cujo contexto político, ambiental e de saúde é completamente distinto do Brasil. Além disso, a própria notícia informa que essas pesquisas foram todas inconclusivas e que os resultados foram inconsistentes entre os estudos.

Além disso, a notícia também expõe que essas pesquisas são de baixa qualidade. “Há necessidade de mais estudos de alta qualidade, baseados em amostras grandes e representativas, para melhor compreender a posse de gatos como um candidato a fator modificador de risco para transtornos mentais”, escreveram os autores desses estudos. Portanto, não existe uma conclusão sólida que realmente comprove que ter gatos duplica a possibilidade de desevolver esquizofrenia.

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