Obras do PAC travam em Goiânia

O Projeto do Governo Federal tem dezenas de obras paradas no Estado. Cortes no orçamento de 2018 se tornaram entrave

Postado em: 27-09-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O Projeto do Governo Federal tem dezenas de obras paradas no Estado. Cortes no orçamento de 2018 se tornaram entrave

Gabriel Araújo*

As obras de mobilidade financiadas pelo Governo Federal através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC Mobilidade) em Goiânia estão paradas por falta de verbas. De acordo com informações exclusivas do Ministério das Cidades, Goiânia possui 12 empreendimentos a serem construídos com verbas do PAC na área de mobilidade urbana, que depende de verba contingenciada por cortes no orçamento.

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No Estado do Goiás são 26 obras do PAC Mobilidade ao total e, apesar disso, muitas não saíram do papel. Somente na Capital, diversas obras estão previstas para ocorrer, desde a implantação de corredores preferenciais nas avenidas Independência, 24 de Outubro, 85, T-63, T-7 e T-9, até a finalização do BRT Norte-Sul, do VLT Anhanguera e ampliação do BTR até o município de Aparecida de Goiânia. 

Destas obras, apenas o BRT e o Corredor preferencial T-7 estão com homens trabalhando. Dados do Ministério do Planejamento constatam um investimento de quase R$ 530 milhões somente em obras de mobilidade urbana na Capital.

A reportagem do O Hoje percorreu a Avenida T-7 a procura de trabalhadores na construção do corredor preferencial e só encontrou sete profissionais que estavam revitalizando calçadas próximo ao Terminal Bandeiras. Além disso, O Hoje entrou em contato com a Prefeitura de Goiânia questionando o órgão sobre as obras que ainda não foram iniciadas. O órgão afirmou ser uma questão de liberação de verbas. “Sobre o corredor Independência e 24 de outubro, está com a licitação pronta e aguarda liberação da verba federal, que está contingenciada pela União até o final do ano”, justifica o órgão.

O estado de Goiás tem 88 obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) paradas. Dados coletados em auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) constatam que o Estado tem hoje 371 obras em execução, ou seja, que foram iniciadas e que ainda não estão completas, e cerca de 280 estão com trabalhos em andamento.

De acordo com informações do Ministério do Planejamento, apenas 42% das obras do PAC em Goiás foram finalizadas desde o início do programa. Atualmente constam no sistema quase 1500 obras e apenas 629 foram concluídas. 

Obras de mobilidade antigas e inacabadas prejudicam deslocamento  

Diversos projetos foram realizados para que o trânsito da Capital pudesse se tornar mais controlável. Entre eles estão a Marginal Cascavel, que completa 27 anos em 2018 ainda sem sinal de término. A obra foi concebida em 1991, com a proposta da prefeitura de interligar a Avenida Rio Verde, em Aparecida de Goiânia, à Avenida Leste-Oeste, na Capital. Foi criada a expectativa de conclusão das obras ao longo dos aos de 1990, mas somente os trabalhos entre a Avenida Castelo Branco e a Avenida T-2 foram concluídos.

A obra completa teria a construção de duas pistas com 2,2 km de extensão, além da canalização do leito do Córrego Cascavel. Na última gestão, o objetivo era fazer uma ligação entre a Avenida Castelo Branco e a Avenida Leste Oeste na Vila Santa Helena, a um custo estimado de R$ 40 milhões provenientes do Programa Aceleração do crescimento (PAC), do Governo Federal, mas a obra foi paralisada após a divulgação da Operação Monte Carlo, que denunciou o envolvimento de políticos goianos em esquemas que visavam contratos com o Governo do Estado. 

Além disso, ainda existe a construção da Avenida Leste-Oeste, que teve o primeiro projeto de construção de uma avenida com sentido leste oeste na Capital data dos anos de 1970, quando foi criado a planta do que seria chamada de Via Expressa Norte. A Avenida seria construída sobre o leito da antiga Ferrovia Goiás e já tinha um orçamento e planejamento completo. 

Quase 15 anos depois, em 1997, o projeto de construção da atual Avenida Leste Oeste foi iniciado. Partindo do prédio da Câmara Municipal de Vereadores e seguindo até a Avenida Bernardo Sayão, no Setor Fama. Até o momento o projeto não foi completo e somente o sentido oeste da via foi construído, com o tempo, construções tomaram o entorno da antiga ferrovia e se tornaram obstáculos para a conclusão da obra.

Desde o início do último semestre, a gestão municipal tenta alterar o projeto para conseguir a liberação da verba federal. A mudança estipulada faria uma parte da obra ser construída em via subterrânea e prevê, ainda, a desapropriação dos lotes invadidos no entorno da antiga ferrovia.

Mobilidade

Os grandes centros urbanos não são pensados para facilitar a mobilidade, e por isso a população enfrenta a falta de integração e opções de transporte coletivo. Além disso, existem problemas socioeconômicos como a falta de emprego em áreas distantes do centro, o que leva aos grandes deslocamentos e aos congestionamentos.

Em Goiânia, tanto o Plano Diretor quanto a legislação nacional determinam a necessidade de criação de projetos que tratem a mobilidade urbana como um sistema de transporte democrático, com baixo custo e mais segurança. Segundo o documento municipal, o órgão gestor deve buscar uma “melhoria da estruturação do sistema de mobilidade urbana, com a integração entre os sistemas de transporte coletivo, cicloviário, circulação de pedestres e rede viária, dotando-o de condições adequadas à acessibilidade universal, à segurança e a integração territorial do Município”, afirma a última edição do Plano Diretor.

Para a professora Camila Dantas, supervisora de exames do Programa Educando e Valorizando a Vida da Universidade Estadual de Goiás (EVV|UEG), os problemas de mobilidade estão conectados com diversas questões das cidades. “A expansão horizontal dos grandes centros, e mesmo vertical, não é feita com o planejamento necessário. Esse tipo de expansão acaba levando aos grandes deslocamentos e, devido à qualidade do transporte público, as pessoas acabam utilizando veículos próprios, o que gera os congestionamentos”, conta.

Somente no Plano Diretor são sete programas de estratégia que buscam a melhoria do transporte na cidade. Para especialistas, devido ao grande crescimento populacional e urbano, é preciso adequar a rede viária para que ela tenha uma maior capacidade de veículos, além de promover a integração entre os sistemas de transporto coletivos e criar programas de transporte alternativos.

Pesquisadores constatam ainda problemas na geração de emprego e estruturação dos bairros elevam a necessidade de deslocamento para certas regiões de Goiânia, o que torna ainda mais difícil os deslocamentos. “Precisamos de bairros e regiões que gerem empregos para seus moradores, não podemos ter mais bairros residenciais sem algum tipo de movimentação econômica, como supermercados e lojas”, afirma o professor Marcus Reuthen, especialista em transporte urbano do Instituto Federal de Goiás (IFG).

Conforme informado por Camila, é preciso discutir e procurar soluções para a mobilidade urbana. “Precisamos encontrar maneiras de melhorar as formas de utilização do espaço urbano. Com um transporte público em foco, melhorando a qualidade, podemos pensar a mobilidade de forma integrada e diminuir a quantidade de veículos nas ruas”, lembra. “Ainda precisamos pensar formas seguras e democráticas de transporte, além de segurança e educação no trânsito”, completa. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor interino de Cidades Rafael Melo) 

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