Sem hábito de procurar especialistas, brasileiros sofrem com problemas de visão

Prevenção e diagnóstico precoce evitam agravamentos e problemas futuros nos olhos, segundo especialistas

Postado em: 18-12-2023 às 09h09
Por: Ronilma Pinheiro
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Prevenção e diagnóstico precoce evitam agravamentos e problemas futuros nos olhos, segundo especialistas | Foto: Alexandre Paes/O Hoje

A estudante de ensino médio, Letícia Carvalho Gimenes, de 15 anos, usa óculos desde os 6 anos de idade, quando descobriu a miopia – distúrbio visual cuja principal característica é a dificuldade de ver de longe -. “No início eu comecei a ficar com a visão embaçada, não conseguia enxergar nada de longe, de perto enxergava mais ou menos também”, conta.

A adolescente conta com o Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar as consultas médicas e fazer os tratamentos contra a doença. Ela costuma ir ao especialista a cada dois anos devido à espera por uma consulta no SUS. “Depende do horário que passam para eu consultar o médico”, relata.

Sempre que chega o período de trocar as lentes, Letícia começa a ter dificuldades para enxergar. “Quando está na hora de trocar as lentes, aí sim começo a enxergar meio embaçado de longe”, explica.

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Diferente de Letícia, uma pesquisa do Instituto Datafolha-AbbVie, mostra que 58% dos brasileiros não têm o hábito de consultar o oftalmologista pelo menos uma vez ao ano. Esse índice é alarmante quando outros dados mostram que metade da população brasileira possui dificuldade para enxergar. Além disso, a pesquisa do Datafolha aponta que 34% das pessoas fazem uma consulta a cada dois anos ou mais e um terço dos não tem o costume de procurar um especialista de forma regular.

O oftalmologista João Victor Godinho relaciona o fato de a grande maioria negligenciar os cuidados com a saúde dos olhos, ao “achismo”, onde muitos acreditam que enxergam bem e que não têm restrição para enxergar, seja de longe ou de perto. “Eu sempre reposto para os meus pacientes o seguinte: que o exame do óculos é apenas uma parte da consulta oftalmológica”, comenta.

Durante a consulta oftalmológica são feitos diversos procedimentos, além da verificação do grau do paciente, segundo o especialista, como medida da pressão e avaliação do segmento anterior. Neste último, é possível avaliar se há a presença de possíveis inflamações na córnea, como por exemplo o uveíte – inflamação em qualquer lugar do revestimento interior pigmentado do olho, conhecido como úvea ou trato uveal -. “Na avaliação do fundo do olho é possível saber também se algumas doenças sistêmicas, como por exemplo pressão alta e diabetes estão controladas”, explica. “Isso pode ser uma referência para nós no quadro geral, como um todo, que isso acaba tendo acometimento de outros sistemas”, acrescenta.

As principais doenças oftalmológicas são aquelas que causam as alterações de graus, como a miopia, hipermetropia, o achimpatismo e a presbiopia, segundo o especialista. Além dessas, existem outras como a catarata, o pterígio, que é aquela carninha que cresce na parte externa do olho, glaucoma, ceratocone, retinopatia diabética, retinopatia hipertensiva, degeneração macular relacionada à idade.

Além disso, o Ministério da Saúde, destaca também a glaucoma, conjuntivite e astigmatismo, como as principais doenças oculares, responsáveis pela maior parte dos atendimentos feitos no Brasil pelos oftalmologistas. Enquanto os exames oftalmológicos essenciais incluem acuidade visual, teste de refração, fundo de olho e pressão intraocular.

Como a maioria das doenças, quando diagnosticadas precocemente, as doenças oftalmológicas, podem ser melhor tratadas. Godinho destaca alguns benefícios que os cuidados precoce com a visão, podem trazer, como a detecção precoce de algumas doenças silenciosas, como, por exemplo, glaucoma, alguma retinopatia diabética, uma degeneração macular relacionada à idade – de forma que você consegue atuar antes que essas doenças levem a alguma perda de visão. “Considerando até que a perda de visão relacionada a muitos desses casos é ligeira e muitas vezes tem um caráter irreversível”, pontua.

Sendo assim, é importante que a pessoa procure um especialista mesmo antes do surgimento de sintomas, uma vez que algumas doenças oftalmológicas demoram para acometer a acuidade visual. “ Uma vez que a gente consegue ter essa detecção precoce, podemos interferir no curso da doença para evitar danos maiores”, salienta. O médico afirma que por mais que existam algumas doenças que não têm cura, se tratadas ainda no início, é possível ter uma prevenção. “Muitas vezes uma prevenção de dano visual e fazer com que essa doença progrida talvez em uma taxa mais devagar, mais lenta, de forma que o paciente possa viver a vida toda sem que ele fique cego ou deficiente visual” , destaca.

Após descobrir a enfermidade, o paciente precisa ter uma vida de tratamentos feitos periodicamente. “Usualmente a gente recomenda uma avaliação oftalmológica uma vez por ano, mas para alguns pacientes que têm alguma comorbidade, que têm algumas alterações, a periodicidade pode ser outra”, explica o oftalmologista. Isso porque existem casos em que o paciente indo uma vez a cada ano é o suficiente, já que não tem problemas mais graves. “Agora, se o paciente tem alguma queixa aguda a recomendação é uma avaliação oftalmológica a cada três meses, ele precisa de alguns exames complementares para nos auxiliar no controle e no manejo dessa doença”, pontua.

No caso dos pacientes com retinopatia diabética, que são considerados casos mais graves, eles podem precisar de uma periodicidade mensal de três meses também. Pacientes com acometimento da diabetes no fundo do olho, mas em situações não avançadas, devem ir ao médico a cada seis meses.

Cuidados

Existem alguns cuidados diários que podem evitar problemas de visão, segundo o especialista. Dentre eles estão: o uso de um óculos solar, que é importante para a prevenção, uma vez que diminui a quantidade de luz e radiação UVA, UVB, que podem atingir os olhos, causando doenças como o pterígio; evitar o tabagismo pode diminuir os riscos de cataratas e também a predisposição para uma deslocação macular relacionada à idade.

Ficar muito tempo na frente das telas também pode causar sérios problemas na visão. “Então a gente sempre recomenda, para cada período de uma hora, que o paciente pare pelo menos um minuto e tente focar num ponto distante, seria pelo menos seis metros, para que favoreça com que o músculo do olho consiga relaxar”, orienta.

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