A história da mulher que plantou mais de 12 mil árvores em Goiânia

Baiana, Luzia é apaixonada pela natureza desde a infância e, ao se mudar para Goiânia, colocou em prática o dom de plantar as mudas que cultivava onde encontrasse um espaço

Postado em: 18-12-2023 às 10h30
Por: João Victor Reynol de Andrade
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Baiana, Luzia é apaixonada pela natureza desde a infância e, ao se mudar para Goiânia, colocou em prática o dom de plantar as mudas que cultivava onde encontrasse um espaço | Foto: Leandro Braz/O Hoje

Qualquer pessoa que tenha andado pelas diversas ruas da capital goiana se depara com os mais variados tipos de árvores plantadas em calçadas ou nos mais de 30 parques públicos. Embora Goiânia tenha sofrido com a sistemática diminuição de população de espécimes de árvores – são arrancadas, envenenadas, cortadas por muitos motivos -, a Capital ainda é lembrada como, quiçá, a mais arborizada do País com um total de mais de 900 mil plantas de mais de 400 espécies diferentes.

A cidade tem, inclusive, uma personagem que trava uma batalha para  deixar a coroa de cidade mais arborizada em Goiânia. Ela tem nome, idade, endereço e uma história. Há pelo menos 17 anos Luzia Alves de 70 anos plantou mais de 12 mil árvores.

Para entender como tudo começou, lá em 2006, a reportagem do jornal O Hoje acompanhou um dia na vida da aposentada, que, ainda em casa, demonstra a paixão pelas árvores no Jardim Dom Fernando. O terreiro dela é um microuniverso com muitas árvores e mudas enfeitando o espaço aberto de seu jardim, claro, prestes a ser plantadas. Foi possível ver desde as plantas menores como Aruba, Alecrim, Erva Cidreira, Rosa, Lumina às árvores frutíferas que perfuram a altura de sua casa como Mamoeiro, Mangueira, Jaqueira e Laranjeira.

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Com isso, Luzia conta que sua paixão pelo verde começou desde cedo quando ainda morava no interior da Bahia na casa de seus pais. “A gente morava numa fazenda na Bahia e desde os sete anos de idade eu amava andar na mata. Eu olhava os pássaros, as flores, as folhas e eu chegava a desenhar e costurar elas com uma linha para enfeitar o meu quarto. A partir daí eu sempre gostei de plantar e continuo plantando” responde ela com nostalgia dos tempos mais simples, como assim ela diz.

Este apreço pela natureza também é uma tradição familiar de longa data, como conta a filha do meio de Luzia, Marisa Alves. “A minha avó conhecia de quase tudo quanto é planta, e em específico as medicinais. Teve até que uma vez ela curou com um remédio caseiro nosso irmão Luciano, que teve uma doença de ouvido que havíamos gastado muito dinheiro”, a família até hoje se mantém unida com os três filhos de Luzia mantendo a tradição familiar.

Dito isso, o motivo para iniciar uma carreira no plantio de árvores, por assim dizer, foi para prover um sombra na movimentada Avenida Anhanguera. “Eu comecei a levar a sério o plantio em setembro de 2006 quando andava de moto com meu filho na Avenida Anhanguera. Tava aquele sol forte e pensei, ‘vou plantar uma mangueira aqui para aliviar’. Porque se ficarmos pensando ‘a fulano tem que fazer’ nunca teremos nada”.

Conta como esse começo simples a levou para uma jornada que hoje a faz “mãe adotiva” de pouco mais de 12 mil árvores espalhadas por Goiânia, e preza a segurança e a saúde de cada uma. Para se ter noção, até os dias de hoje possui uma carteira da Organização Não Governamental (Ong) Guardiões do Verde em Goiânia que busca o ativismo para a preservação do meio ambiente na Capital e em Goiás. 

A paixão é tanta de Luzia que até hoje se cerca de pessoas que compartilham a mesma visão, desde amigos como o ex-presidente da Associação dos Moradores de Dom Fernando Rabelo, que a acompanhou durante a reportagem e pode mostrar suas próprias plantações. A influência foi tamanha que sua filha Marisa que, influenciada pela mãe, é bióloga formada pela Universidade Federal de Goiás. 

Por causa disso, é fácil encontrar as plantas crescidas ou ainda em mudas, ao redor do setor Dom Fernando. Para alcançar justamente isso, a equipe de reportagem andou com Luzia em volta de seu bairro para mostrar à equipe o seu serviço público aos moradores locais. “Acho que eu plantei de quase e em tudo quanto é lugar aqui, na frente das escolas, nas ruas, nas três praças daqui”, disse Luzia. 

Neste momento, ela andava junto a equipe na Rua Padre Pedro Josino carregando consigo um carrinho de pedreiro com uma pá, enxada e uma muda de abacate mostrando as suas plantas. Foi possível ver de perto as árvores que Luzia lembrava de ter plantado como Jambo Japonês, Oiti, Ipê Branco, Jatobá. Durante a caminhada, ela compartilha a história da força para preservar até as plantas mais antigas. “Ver que alguém derrubou uma árvore que eu plantei é que nem eu perder um pedaço de mim, um filho, então eu sempre tento cuidar e ensinar os outros porque hoje tem menos árvores aqui do que tinha antes”.

No fim da caminhada, Luzia abriu um espaço na terra com uma enxada na mão para repousar a mais nova e pequena muda de abacate dentro da Praça do Conquista na Avenida 23 de Janeiro, que no futuro poderá servir de alimentação para todos. Neste mesmo local, ela conta que junto com Rabelo tinha sido plantado diversas plantas que não se encontram no cerrado, mas que podem ter este mesmo uso público como Amoreira, Tangerina, Algodão, Café e Goiabeira. 

Apesar de ser um trabalho longo e árduo, ela diz que mantém a esperança de um dia Goiânia ser ainda mais verde, mas tem um longo trabalho pela frente para a preservação do que já existe de verde na cidade. “Muitas pessoas não respeitam as plantas, cortam elas e a matam porque tem preguiça de varrer a rua ou porque não gostam do visual dela, uma pura ignorância. Um exemplo foi uma Gameleira centenária cortada na entrada da Vila Pedroso”.

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