Saiba porque a solidão pode se intensificar durante o fim do ano

“Se nosso bem-estar mental está comprometido, tudo ficará desequilibrado,” declara o psiquiatra Ciro Mendes

Postado em: 26-12-2023 às 08h00
Por: Rauena Zerra
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“Se nosso bem-estar mental está comprometido, tudo ficará desequilibrado,” declara o psiquiatra Ciro Mendes | Fotos: Arquivo pessoal

No mês de dezembro, muitas pessoas aceleram o ritmo e intensificam suas atividades, tentando resolver tudo o que foi deixado para trás em relação às metas estabelecidas para aquele ano. Essa atitude faz com que alguns se desanimem ou se desesperem, resultando em um aumento na incidência de doenças tanto mentais quanto físicas. 

Durante essa temporada, a solidão se intensifica, tornando-se mais notória do que em outras épocas. Além do sentimento de encerramento de ciclo, surge o desejo profundo de estar entre outras pessoas, compartilhando momentos, trocando ideias e se conectando. 

No entanto, é possível deparar-se com obstáculos, que podem estar relacionados ao próprio indivíduo, o qual eventualmente pode encontrar dificuldades em estabelecer relações interpessoais saudáveis. 

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Sendo  importante ressaltar o fenômeno da decepção, uma vez que, com a chegada do ano novo,  indivíduos criam expectativas que nem sempre são concretizadas, o que pode resultar em dor e falta de esperança, esclarece a psicóloga Adriane Garcia.

Devido à tradição de reunir-se com a família nesta época, proporciona-se às pessoas a oportunidade de recordar seus entes queridos que partiram. Além disso, é frequente ocorrer o distanciamento entre pessoas ou até mesmo a ponderação sobre o verdadeiro significado da família ou das celebrações de tempos passados.

Despertando reflexões acerca  do que se dispersou, sonhos, esperanças e coisas que frequentemente não se realizaram ou decepções que se materializaram,  ressalta o psiquiatra clínico, Ciro Mendes.

Tornando-se recorrente deixar de se concentrar exclusivamente nas relações familiares. Assim, busca-se o convívio com amigos ou até mesmo ampliar a carga horária de trabalho, o que pode trazer consequências dependendo da ocupação em questão.

Conforme a psicóloga Ana Lacerda esclarece, é  difícil estabelecer relações no final do ano, quando elas se encontram tão frágeis e voláteis, ou ainda quando se busca um ideal que nunca poderá ser alcançado. 

O também mestre e doutorando em ciências da saúde, Ciro, ressalta que aqueles que negligenciaram sua saúde mental ao longo do ano podem encarar um período preocupante. 

Segundo ele, cuidar da saúde mental é essencial, precisamente em momentos como este, que trazem desafios. “Se  nosso bem-estar mental está comprometido, tudo ficará desequilibrado.” declara. 

Para manter a saúde mental em equilíbrio, é indispensável  dedicar-se continuamente ao bem-estar psicológico, assim como se cuida do corpo. Praticar a higiene mental, exercitar-se regularmente. Estar consciente das mudanças nos pensamentos, padrões de sono, motivações e percepção da realidade, entre outros aspectos, são elementos indispensáveis ​​na busca pelo equilíbrio mental.

Ainda hoje, a sociedade persiste em classificar as doenças mentais como “loucura”. Além disso, há muito medo e negação quando se trata de diagnosticá-las. Sendo fundamental ressaltar que, assim como as doenças físicas, as doenças mentais requerem tratamento com respeito. “ Devemos temer a falta de diagnóstico e não o diagnóstico em si”, destaca Garcia.

De acordo com os profissionais, existe uma diferença entre solidão e solitude, ressaltando a relevância de possibilitar esses momentos. De acordo com eles,  durante esses ápices,  é possível confrontar uma variedade de questões, abrangendo tanto  sentimentos quanto pensamentos.

Porém, apreciar a própria companhia e evitar interações sociais são conceitos distintos. No entanto, há ocasiões em que a solitude pode se transformar em isolamento. É essencial ser capaz de discernir entre essas duas ideias. E perceber quando isso começa a prejudicar a vida cotidiana, explicam.

Não se trata apenas de socializar constantemente ou estar sempre acompanhado, é necessário ter a capacidade de desfrutar de momentos felizes, produtivos e de plenos movimentos. O ponto de desequilíbrio é quando precisamos nos esforçar muito para estarmos com o outro. Isso pode ser um sinal que o cérebro está deprimido. Esclarece a psicóloga, Adriane Garcia. 

É consenso entre os profissionais  que a família desempenha um papel crucial na promoção de uma socialização mais suave e agradável. Isso ocorre porque a família proporciona uma proteção significativa, atuando como uma rede de apoio e segurança.

Sendo importante ressaltar que famílias que praticam o autocuidado em aspectos físicos, psicológicos, sociais e espirituais têm mais probabilidade de preservar a saúde mental de seus membros. Por outro lado, isso difere das famílias onde predominam a violência, críticas excessivas, punições severas, regras rigorosas e falta de apoio nos momentos difíceis.

“Às vezes a pessoa está tão imersa em seus próprios sentimentos e no estresse diário que não percebe o que está acontecendo à sua volta. Através da família é possível alertar esse indivíduo”. Essa ênfase é destacada pela psicóloga Carlinda Braga.

É crucial destacar a importância da conscientização em relação aos cuidados mentais, abordar o tema de forma aberta nas instituições de ensino, dialogar com  entes familiares  sobre tais circunstâncias. “Podemos evitar muitas formas de enfermidades, no entanto, não estamos imunes a nenhum processo de adoecimento, tanto físico quanto mental.” finaliza, Braga.

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