O espetáculo colorido que esconde o drama dos animais de estimação

Questionamentos sobre a tradição de fogos de artifício ganham força, considerando não apenas os animais de estimação, mas também pessoas autistas e pacientes em hospitais

Postado em: 30-12-2023 às 11h30
Por: Luana Avelar
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Maria de Souza compartilha suas preocupações sobre como os fogos de artifício afetam emocionalmente seu cachorro idoso, Dobby. | Foto: Arquivo Pessoal

O espetáculo de fogos de artifício, apreciado por muitos em celebrações ao redor do mundo, suscita preocupações éticas, especialmente quando se considera o impacto na fauna. Os pets, notoriamente sensíveis a sons altos e repentinos, podem experimentar ansiedade e medo durante as festividades devido à intensidade dos fogos.

Estudos indicam que 49% dos cães manifestam respostas específicas a ruídos altos, sendo 96,8% desses animais apresentando sinais comportamentais de medo. A fobia de fogos de artifício afeta 83% dos cães estudados, levando a comportamentos como tremer, se esconder, fugir e latir. Surpreendentemente, apenas 4,2% dos cães se habituaram a esses sons, sugerindo que o medo persiste na maioria dos casos.

O estresse causado pelos fogos pode resultar em uma variedade de problemas de saúde, desde ansiedade até lesões fatais. A incidência de casos graves, como atropelamentos e crises cardíacas, destaca a gravidade do impacto desses eventos nas vidas dos animais.

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A sensibilidade auditiva dos animais, em especial cães e gatos, torna-os suscetíveis a se assustarem com o estrondo dos fogos de artifício. Este fenômeno é particularmente prevalente nas festas de Réveillon, quando a queima de fogos atinge seu auge. Os tutores de animais de estimação frequentemente observam sinais de desconforto em seus pets, como tremores, vocalizações excessivas, tentativas de se esconder e, em alguns casos, comportamentos destrutivos.

A aposentada Maria de Souza, compartilhou preocupações sobre o impacto emocional dos fogos de artifício em seu cachorro idoso, Dobby, de 13 anos. Maria relata: “Desde filhote, Dobby sempre manifestou grande medo de fogos, gritando, uivando e buscando abrigo, muitas vezes no colo de minha neta, que precisava segurá-lo com uma manta para acalmá-lo.”

Em um incidente, durante o Natal, enquanto o esposo de Maria estava na igreja, Dobby, em desespero, fez um buraco no colchão na tentativa de se esconder. Maria expressa sua apreensão para o Ano Novo, observando que, devido à idade avançada de Dobby, há receio de complicações, como ataques cardíacos, relacionadas ao medo persistente de fogos.

Além disso, veterinários têm oferecido orientações sobre como minimizar o impacto negativo dos fogos nos pets. Recomendações incluem a criação de ambientes seguros em casa, onde os animais possam se refugiar, o uso de abrigos antirruído e a administração de terapias calmantes sob supervisão profissional. Tais medidas visam reduzir o estresse e a ansiedade dos animais durante os períodos de intensa atividade pirotécnica.

Em entrevista, o veterinário Victor Felix destaca a complexidade do treinamento para lidar com tais situações, enfatizando a importância de técnicas adequadas, citando: “Podem ser feitas sim algumas técnicas que ajudem com barulhos, porém indicadas por profissionais na área de adestramento e comportamento animal.”

Ao abordar medidas farmacêuticas, Felix recomenda produtos como “Quetin” e “Calmavet”, além de petiscos à base de ingredientes como maracujá e passiflora. No entanto, ele observa que, em muitos casos, tais soluções podem não ser totalmente eficazes.

Quanto à criação de um ambiente tranquilo, Felix destaca a importância da companhia: “O melhor ambiente é junto com alguém, para pegar no colo, para dar um suporte afetivo, dar uma atenção especial para eles.”

Em situações de pânico, o veterinário aconselha: “Abrace ou enrole em uma coberta, lençol, algo que deixe ele calmo, tranquilo e seguro de se machucar devido à correria e euforia.”

Felix também alerta para sinais de estresse, como correr, latir e convulsões, incentivando a proteção das orelhas com toalhas ou protetores auriculares.

Sobre a rotina pré e durante as festas, o veterinário destaca a importância de evitar que os animais fiquem sozinhos: “O importante é sempre se atentar onde estará esse pet na hora e, se não tiver contigo, deixe com alguém quem realmente ficará junto!”

Para atenuar o som dos fogos, Felix sugere playlists específicas para animais disponíveis em plataformas como Spotify e YouTube. No entanto, ele adverte sobre o perigo para animais idosos, destacando a possibilidade de ataques cardíacos, especialmente em cardiopatas e raças com predisposição genética.

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