Mulher que quer engravidar busca opções de tratamentos para endometriose

Endometriose é uma doença crônica e progressiva que acomete mulheres em idade reprodutiva e pode causar infertilidade, dor profunda na relação sexual, além de cólicas menstruais intensas com piora progressiva

Postado em: 08-01-2024 às 10h50
Por: Ronilma Pinheiro
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Endometriose é uma doença crônica e progressiva que acomete mulheres em idade reprodutiva e pode causar infertilidade, dor profunda na relação sexual, além de cólicas menstruais intensas com piora progressiva | Foto: Arquivo pessoal

Náusea, enjoo, perda de apetite, fraqueza, constipação, dor nas costas e nas pernas, esses são alguns sintomas que a maquiadora e produtora audiovisual Ana Isa Mamede, 26 anos, diagnosticada com endometriose,  começou a sentir no início de julho de 2023, quando ainda não havia descoberto a doença. “Eu sentia tudo, menos cólica menstrual, apenas outros sintomas e uma cólica razoável”, conta a maquiadora. Como os sintomas não paravam ou diminuíam, a mulher procurou uma unidade de saúde.

Os primeiros exames não identificaram o problema, que cada vez mais lhe causava dor e desconforto. “Não entendiam quando eu dizia que buscopan e dramin não estavam fazendo efeito”, comenta, ao falar sobre as indicações dos médicos que lhe atenderam em Goiás. Sem solução para o problema, Mamede procurou outro especialista, desta vez em Uberlândia (MG), cidade onde nasceu. Ainda no exame de toque, a endometriose foi constatada, segundo a produtora. 

A endometriose é uma doença crônica e progressiva, que acomete mulheres em idade reprodutiva e pode causar infertilidade, dor profunda na relação sexual e, principalmente cólicas menstruais intensas com piora progressiva. A explicação é da médica ginecologista e sexóloga Joice Lima. “Muitas dessas pacientes precisam ir todo mês ao pronto socorro para fazer medicações injetáveis”, salienta a especialista.

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A ginecologista Bárbara Alves Araújo acrescenta que a infertilidade ocorre devido ao implante do tecido endometrial – que fica dentro da região interna do útero – em outras regiões fora do útero, como as trompas, os ovários, intestino e a parede da bexiga. “Esse tecido pode se proliferar e causar obstrução de algumas regiões, como a própria tuba uterina, e causar infertilidade”, explica.

Nos casos mais avançados da doença, onde o implante do tecido endometrial já encontra na região do intestino, pode ocorrer sangramento e dor intensa na hora de evacuar, segundo Bárbara. Esse foi o caso da Ana, segundo ela, posteriormente ao exame de toque, no exame de ultrassom vaginal, foi identificado que o útero, intestino e reto estavam sendo afetados.

O tratamento da doença pode ser medicamentoso ou cirúrgico. O uso de medicamentos orais ou injetáveis visa a suspensão da menstruação, melhorando os sintomas e evitando a rápida progressão da doença. “Quadros mais avançados e com muita dor pélvica ou comprometimento intestinal, podem necessitar de cirurgia”, destaca Joice. O tratamento cirúrgico, por videolaparoscopia, permite a biópsia para confirmação diagnóstica e a remoção de implantes. Tal procedimento, pode melhorar o quadro de dor e facilitar a gravidez espontânea ou por tratamento.

O tratamento visa o controle da doença, já que não existe cura para a endometriose. “É uma doença dependente de hormônios e irá acompanhar essa mulher desde a menstruação até a menopausa, quando os hormônios mudam e  os focos de endometriose diminuem, já que não há mais o estímulo hormonal”, explica Joice.

Apesar do caso da maquiadora ser cirúrgico, devido à idade e à sua vontade de gerar filhos, ela optou por não fazer a cirurgia num primeiro momento. “Troquei meu anticoncepcional e tive que começar a controlar as dores durante o período menstrual com anti inflamatórios mais fortes”, relata a mulher, ao dizer que completa o ciclo menstrual de forma desregulada e desde setembro do ano passado e que o remédio também parou de fazer efeito. “Mantenho o anticoncepcional, mas não tomo mais remédios. Fico à base de salonpas para as dores nas costas, ombros e pernas, e bolsa térmica para cólica”, comenta.

Em novembro, quando voltou ao médico, foi sugerido o agendamento da cirurgia de remoção, mas Ana diz estar buscando outras opiniões. “Dei uma pesquisada e gostaria de tentar outros meios de tratamento antes de recorrer para a cirurgia”, finaliza.

Bárbara orienta que as pacientes que desejam engravidar, devem fazer um acompanhamento junto ao seu médico ginecologista especialista em endometriose e reprodução humana, para que esse especialista possa traçar a melhor estratégia de acordo com o grau da doenças, para que a gestação seja viabilizada “seja por meio de cirurgia ou por meio da fertilização in vitro [ tratamento de reprodução humana assistida que consiste em realizar a fecundação do óvulo com o espermatozóide em ambiente laboratorial, formando embriões que serão cultivados, selecionados e transferidos para o útero]”. 

Causas

De acordo com Joice, apesar de existir várias teorias para tentar explicar porque algumas mulheres desenvolvem endometriose e outras não, nenhuma delas consegue realmente dizer qual seria a causa da endometriose. “Não há uma causa bem definida”, afirma.

Bárbara explica que uma dessas teorias é que o refluxo da menstruação poderia contribuir para que essas células da parte interna do útero fossem para a pelve. “Então, a cada mês a gente poderia ter mais contato com essas células endometriais que poderiam se implantar na pelve [estrutura óssea complexa em forma de bacia que abriga e protege os órgãos da região pélvica e acaba se propagando”, explica. Além disso, outras teorias acreditam que as células indiferenciadas da pelve mesmo poderiam se transformar em células endometriais. A hereditariedade também pode estar associada.

Diagnóstico

De acordo com o Ministério da Saúde, a estimativa é de que uma a cada 10 mulheres sofram com os sintomas da doença e desconheçam a sua existência. Em 2021, mais de 26,4 mil atendimentos foram feitos no Sistema Único de Saúde (SUS), e oito mil internações registradas na rede pública de saúde. A partir dos dados, o órgão chama a atenção para o problema e informa os serviços direcionados para a mulher na Atenção Primária à Saúde.

Os atendimentos podem ser realizados nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), bem como exames de diagnóstico, para evitar o agravamento da doença e, caso haja a necessidade de cirurgia, a paciente é encaminhada para um hospital. Os tratamentos para a endometriose podem variar caso a caso, a partir da idade da paciente. Bárbara alerta para o diagnóstico precoce e para a necessidade de iniciar os tratamentos o mais rápido possível. “Então o ideal é que quando a pessoa já está diante de sintomas muito característicos, ela já pense nessa possibilidade da doença e já inicia o tratamento”, alerta.

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