Padrasto preso e ossada encontrada: a triste história de Pedro Lucas

Amiga de 10 anos de Pedro foi essencial às investigações, diz PC

Postado em: 10-01-2024 às 08h00
Por: João Victor Reynol de Andrade
Imagem Ilustrando a Notícia: Padrasto preso e ossada encontrada: a triste história de Pedro Lucas
Rastros de sangue foram encontrados em “vários” cantos da casa em que menino morava com a família | Foto: Polícia Civil

A polícia goiana não descansou até, pelo que parece, responder à pergunta que estava no imaginário de todos por mais de dois meses: o que aconteceu com Pedro Lucas, de 9 anos, o menino que nunca mais foi visto após deixar o irmão mais novo na escola. 

Em 24 horas, a 8ª Delegacia Regional de Rio Verde divulgou que uma ossada, que pode ser do menino Pedro Lucas, foi encontrada, além de o principal suspeito por trás do homicídio e do desaparecimento, o padrasto da criança, José Domingos, de 22 anos, ter sido preso. Em coletiva de imprensa, a PC ainda contou que o depoimento de uma menina de apenas dez anos, amiga de Pedro Lucas, foi fundamental para entender a relação conturbada entre o menino e o marido da mãe. 

O caso teria oficialmente começado no dia 5 de novembro de 2023, de acordo com a Polícia Civil, quatro dias após o sumiço de Pedro, quando um amigo da família teria feito uma denúncia anônima para o Conselho Tutelar pela criança ter desaparecido. Agentes da entidade se deslocaram para a residência dos familiares onde não teriam encontrado a criança no local, e levado os pais para prestar boletim de ocorrência do desaparecimento na delegacia.

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Logo após, policiais fizeram questionamentos para os pais sobre os possíveis motivos do sumiço do garoto, de acordo com eles, ambos a mãe e o padrasto falaram histórias divergentes. “Na primeira versão das interrogações a família relatou que não procuraram a polícia por acreditar que o menino estava com a avó. Mas essa versão é duvidosa porque até a roupa que falaram que Pedro usava estava errada”, diz Adelson Candeo, delegado responsável pelas investigações. 

“Eles conseguem induzir ao erro e até mudaram a roupa que o menino estava usando, primeiro falavam que o menino usava camisa preta e um shorts jeans, mas nas imagens que temos mostram ele usava um shorts verde e uma camisa azul”, diz o delegado.

De início o comportamento dos pais era suspeito, de acordo com Adelson a atitude era de quem não quisesse que a polícia soubesse do desaparecimento. “Se não fosse a ação do conselho tutelar, até hoje não teria sido registrado um boletim de desaparecimento, e isso já é um indicativo de que a família não queria que a polícia ficasse sabendo do desaparecimento do garoto”.

Outro fator que colaborou com a suspeita dos pais do homicídio foi uma suposta relação violenta entre José e o enteado, relatada por uma amiga do garoto com quem ele ficava mais tempo conversando, segundo policiais. “O padrasto odiava Pedro e ele ficava chorando sozinho no quarto, a mãe e o padrasto batiam nele de cinto e eu via as marcas de cicatrizes nas costas do menino”, de acordo com agentes da polícia, nenhum outro familiar teria relatado a relação de violência na casa..

Em uma entrevista exclusiva para o jornal O Hoje ainda em novembro de 2023, o delegado Adelson Candeo afirmou que já era possível apontar um suspeito principal pelo crime. “A única coisa que não foi revelada é onde está o corpo, só vamos descobrir por coincidência do destino, então não podemos prever o desfecho. Mas é possível identificar em breve alguém responsável por isso”, diz o delegado.

Além disso, confirmou previamente a divergência entre os relatos dos pais com os fatos apurados pelas polícias. Segundo ele, foram observadas várias contradições e discordâncias nas declarações da mãe da criança. Ele afirma que, ao todo, foram registradas 13 declarações do padrasto e 13 declarações da mãe. 

Após este fato inicial, foi feito um exame de luminol na residência da criança no dia 18 de dezembro, reagente quimioluminescente usado pela polícia científica, em que encontraram rastros de sangue em “vários cantos da casa”. “Encontramos muito sangue perto da cama do garoto, em vários pontos no chão da casa, e no tanque do lavabo. Nos mostrando que alguém tentou lavar o sangue do chão para esconder evidências”. De acordo com Adelson, o padrasto se comportou de maneira agressiva com os policiais após a descoberta do sangue.

Com isso, parte de uma ossada humana de pequeno porte foi encontrada dentro de uma mala em uma zona rural nas margens do córrego Abóbora nesta segunda (8), no município de Rio Verde. Contudo, os polícia informam que estão sendo feitas as análises da Polícia Científica para confirmar a identidade dos restos mortais. “Estamos aguardando a perícia confirma primeiro que a ossada seja humana, se for, iremos solicitar DNA”, diz delegado Danilo Fabiano.

De acordo com os delegados, uma suposta data e horário aproximado da morte foram divulgados coincidindo com o horário em que José volta do trabalho e busca Davi na escola, irmão mais novo de Pedro, entre as 16:40 horas e 17:40 minutos do dia 1 de novembro. “Foram 45 minutos em que não temos nenhuma informação de nada, então supomos que nesse dia e hora foi a morte de Pedro”, informa Adelson.

Além disso, informam que a professora de Davi relutou em entregar o menino ao padrasto pois era sempre o menino Pedro que buscava seu irmão. “O padrasto de Pedro nunca foi à escola de Davi, essa foi a primeira vez. Então nem a professora de Davi quis entregar o menino porque não conhecia José”.

Em nota, a equipe jurídica de José Domingo informa que ainda não teve acesso ao processo e às provas colhidas. O advogado ressalta que o cliente sempre negou o “cometimento de quaisquer crimes contra seu enteado”, e que colaborou com a investigação. O advogado do suspeito conta ainda que o padrasto forneceu material genético de forma espontânea, além de permitir também acesso irrestrito ao seu telefone.

Mãe é vítima, diz delegado que investiga Caso Pedro Lucas

Em entrevista concedida ao jornal O Hoje, Adelson Candeo, delegado encarregado do caso do menino Pedro Lucas, afirmou que um contato foi estabelecido por uma promotora, com o objetivo de buscar a viabilização de uma ação contra a mãe da criança.  

De acordo com ele, a medida pode ser proposta pelo Conselho Tutelar juntamente com o Ministério Público. Porém, ele afirma que a mulher não deve sofrer essa consequência nesse momento. “Entretanto, como ela (a mãe) não tem nenhum envolvimento com o crime, e possui uma certa submissão em relação ao padrasto, está mais perto de ser vítima do que de autora”, revelou Candeo. 

O delegado pontuou que medida só deve ser adotada caso, o padrasto de Pedro Lucas seja liberado e haja entendimento por parte do Ministério Público quanto à necessidade de remover as crianças da residência. “Obviamente vai ser diferente a situação, mas por enquanto não, essa medida de retirada dos filhos novamente não deve acontecer por enquanto”, afirmou. 

O delegado relatou também que a mãe do Pedro, teve os filhos acolhidos em julho do ano passado, quando a mulher  foi vítima de uma violência doméstica praticada pelo padrasto do Pedro Lucas. 

Na ocasião, o homem teria ameaçado ela com uma arma branca e os vizinhos acionaram a polícia militar, em meio à tumultuada situação entre a mãe de Pedro Lucas e o padrasto, a filha do casal acabou se ferindo. “A filhinha deles, de um ano e nove meses, caiu e machucou a testa”, pontuou.

O Conselho Tutelar foi acionado e fez o acolhimento das duas crianças naquela ocasião. As crianças ficaram trinta dias morando na casa de abrigo temporário, sem contato com a mãe e com o padrasto.

Segundo as informações, as crianças foram resgatadas de um ambiente onde sofriam com falta de cuidados apropriados.. “Um ambiente absolutamente insalubre, mal cuidado, crianças muito mal cuidadas”, Relatou Adelson. 

O delegado revelou também que, durante esse tempo, o Pedro Lucas não permaneceu na casa de amparo temporário, pois ele não estava na residência da mãe do padrasto durante a ocorrência da confusão. Na verdade, o menino estava sob os cuidados da avó, caso contrário, teria sido levado para o abrigo juntamente com os irmãos também.

De acordo com a professora ouvida nas investigações,  durante o período que os irmãos foram levados ao abrigo, Pedro Lucas costumava se reunir com Davi, seu irmão mais novo,  durante as aulas, sendo o ambiente escolar o único local onde compartilhavam esses encontros, pois estudavam juntos à época. “Segundo a professora, foi um momento de muita tristeza e o Davi chorava o tempo inteiro que queria ficar perto do irmão”, finalizou Canedo.

Colaborou Rauena Zerra**

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