Professor de redação tira nota mil e afirma que ChatGPT atrapalha na produção textual

O professor de redação do ensino médio, Murilo Antônio, fez a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por quatro anos para provar um argumento, que é possível tirar nota mil na redação. Conseguiu fazer exatamente isso na prova de 2023 dentro do tema “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”, para ter tal resultado, os dois corretores da avaliação concordaram em dar nota máxima. 

Depois de muito treinamento, Murilo finalmente mostrou aos seus alunos do Colégio WR o seu feito com grande empolgação de que também podem fazer o mesmo que ele com o foco e comprometimento. O feedback dos alunos foi positivo, de acordo com o professor, e já conseguiu motivar momentaneamente os alunos para a próxima avaliação da prova em novembro de 2024.

Contudo, afirma um problema inédito de como a inovação das Inteligência Artificiais Geradoras de Textos, como Chat GPT, diminuem a qualidade textual e empobrecem a linguagem e a escrita do aluno. De acordo com o professor, observa como muitos de seus estudantes têm usado a ferramenta de forma irresponsável, como diz, e se prendem à máquina de forma que os prejudicam futuramente na prova do Enem. “É uma auto sabotagem”, diz Murilo.

Nascido e crescido em Goiânia há 30 anos, Murilo conta que escolheu a carreira de professor após se encantar com a língua portuguesa através de outro professor de letras quando ainda era adolecente. Atualmente, espera surtir o mesmo efeito nos seus atuais alunos com uma didática interdisciplinar. 

“O meu antigo professor de línguas Marcos Baiano era apaixonado em português, suas aulas eram muito especiais para mim porque abordava temas de uma forma dinâmica. Meu sonho é um ex-aluno me falar que sentiu o mesmo através das minhas aulas. Meu sonho é ser que nem ele”, diz Murilo. 

Contudo, Murilo fala que o efeito já pode ter alcançado certas pessoas e mudado a vida delas, mesmo que não tenha resultado em mudança de carreira. Segundo o professor, uma ex-aluna sua de Anápolis do Colégio Galileu, também tirou nota mil em 2019 e até o presente momento a aluna estuda medicina na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). 

“Tenho uma ex-aluna chamada Isabela Cardoso que alcançou a nota máxima de redação e por causa disso o colégio que trabalho ficou em primeiro lugar na média do centro oeste por um tempo”, diz o professor. 

Para Murilo, a regularidade na escrita é uma das questões mais importantes para quem almeja uma nota alta na redação do Enem, além da interdisciplinaridade dos temas da redação. Um tipo de erro comum que ele observa nas redações dos estudantes é um foco estreito nos assuntos dos textos sem um devido aprofundamento necessário para uma harmonização do conhecimento.

“Vejo que muitas pessoas não usam os conhecimentos dos estudos de outras matérias como biologia, literatura e geografia nos seus textos, e por causa disso ficam superficiais por não terem conceitos que dialogam com o tema. Um bom treinamento para isso é ter uma regularidade na escrita, ou seja, toda semana o aluno produzir texto diferente”. 

Já para a professora de português Cintia Aparecida da escola Colégio Militar Vasco dos Reis e Educandário Vila Boa, uma dica própria para o enriquecimento na redação é a criação do hábito de leitura, seja de livros, jornais e revistas, para dialogar com “repertório sociocultural”. Além disso, comenta a importância da gramática na redação do Enem.

“As pessoas devem ficar atentos, dominarem se possível na 3ª série do Ensino médio a parte linguística, ou seja, as regras de gramática como acentuação, pontuação,  concordância verbal e nominal, regência e etc para fecharem a 1ª competência. E a parte de coesão, melhorar vocabulário, usar diversificados elementos coesivos”, diz a professora. 

Também comenta a importância da produção regular de textos dissertativos argumentativos de diversos assuntos. “Ler, ler bastante e produzir sobre diversos temas da sociedade sem preconceitos temáticos e bons argumentos para validar o ponto de vista a ser tratado”.