Carros sucateados abandonados pela cidade de Goiânia

Sucatas espalhadas pelas vias públicas de Goiânia são esconderijos para criminosos e atrapalham o fluxo de veículos na capital goiana

Postado em: 17-10-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Sucatas espalhadas pelas vias públicas de Goiânia são esconderijos para criminosos e atrapalham o fluxo de veículos na capital goiana

Neste ano, a Seplanh recebeu 100 solicitações para retirada de veículos abandonados nas ruas de Goiânia, só 70 foram removidos (Foto: Wesley Costa)

Thiago Costa

Era tarde da noite, por volta das 23 horas, quando Max Xavier chagava da faculdade e se dirigia para a casa de um amigo que mora na rua 1045, no setor Pedro Ludovico, nas proximidades do Terminal Isidória, em Goiânia. Max foi surpreendido por um assaltante armado que estava escondido por trás de um caminhão sucata, que fica em frente uma empresa do ramo automobilístico. 

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No caminhão, uma placa de “Vende-se ou troca-se por carro”, mas no jovem o sentimento de descuido por não ter visto o criminoso o surpreender por trás da sucata e levar seu smartfone, que havia pegado emprestado da sua mãe, justamente por ter sido assaltado em outro local da Capita, poucos meses antes.

De acordo com o jovem, o aparelho celular ter sido levado pelo criminoso foi o de menos. O que o deixou mais preocupado foi o fato que ele sempre precisa trafegar a pé pelo local tarde da noite e já ter tentado denunciar o caso para a Secretaria Municipal de Trânsito (SMT), mas foi informado que o órgão só poderia intervir caso a sucata estivesse na porta de alguma garagem. 

Max garante que seria mais difícil para o assaltante surpreende-lo se na rua não tivesse a sucata, que ofusca a visão de qualquer um, limitando saber quem está do outro lado da rua, caso a pessoa esteja na calçada. “O melhor jeito para conseguir ver quem está na rua, e ainda nem é 100%, é andar no meio da dela, que normalmente não tem movimento algum após as 22 horas. Mas daí tem o problema de ser surpreendido por um carro ou moto”, pondera. 

No Centro da Capital, próximo ao Colégio mais antigo de Goiânia, o Colégio Lyceu, na rua 20, também há sucata disfarçada de veículo estacionado na rua. Um agravante é que esse tipo de problema afeta também um público bem mais vulnerável, as crianças e adolescentes, durante a ida e volta de casa para a escola. 

Jaqueline Reis é empresária e mora na Vila Mauá. A jovem diz que sua rotina para sair ou chegar em casa foi totalmente mudada desde quando ela o e esposo se mudaram para a Vila Mauá, em Goiânia. No bairro que o casal mora atualmente, além das ruas serem estreitas, o que já impossibilita a passagem de até mesmo de carros de passeio, e por na região ter muitos depósitos e desmanches de carros para retiradas de peças, as sucatas ficam expostas nas ruas e calçadas, atrapalhando o tráfego de veículos e pedestres. 

“Fora a questão de trânsito mesmo, a segurança fica muito complicada. A gente não sabe se pode ter alguém escondido em baixo de carros ou atrás de carros. Durante a noite é impossível transitar nas ruas com esses veículos [sucatas]”, reclama Jaqueline, moradora de uma região conhecida por vender peças para carros. 

Em nota, a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh) informa que, conforme a legislação municipal o veículo é considerado carcaça quando encontra-se subutilizado ou não tenha condições de tráfego. “Caso seja possível a identificação do proprietário, a Seplanh realiza a notificação do mesmo para que proceda a remoção em tempo específico e, caso o mesmo não a realize, os auditores da pasta realizam a lavratura de auto de apreensão do mesmo, que é recolhido ao Depósito Público Municipal”, diz a nota.

Preocupação

Maurício é gerente de uma mecânica na 3ª Radial, setor Pedro Ludovico, e diz que essas sucatas nas ruas geram muito vandalismo nos veículos, um dos principais motivos pelo qual a empresa que ele trabalha optou por não deixar essas peças nas ruas, além de toda a preocupação com as pessoas que passam pelo local. O gerente destaca também que essas sucatas são propícias para moradores de ruas e usuários de drogas que se escondem nestes ambientes para guardar alguma coisa que possa ser usada contra a própria sociedade.

O gerente também fala da poluição visual, que é aspecto negativo para a imagem da empresa. “Eles [criminosos] abrem o carro para sucata durante a noite, dormem lá dentro ou faz de tudo que quer para crime e no outro dia fecha tudo direitinho. Muitas vezes a empresa nem percebe que essa pessoa entrou e fez o que fez. Tem que observar muito bem para perceber que pessoas estranhas estiveram presentes no interior do veículo durante a noite”, comenta. 

Victor é gerente de outra mecânica, que fica no bairro Jardim Santo Antônio. Ele se preocupa com o tráfego nas vias públicas e, principalmente, com as pessoas que moram e passam próximo à empresa. Para o gerente, é mais apropriado ter um lugar e espaço para trabalhar. A empresa que Victor é gerente faz todos os seus trabalhos em um galpão próprio, tirando o contato direto com a vizinhança e quem passa pelo local. 

“Tudo que envolve pintura e lanternagem joga resíduos no meio ambiente. Muito pó químico. Existe aqui na nossa empresa máquinas que distribuem o pó prejudicial à saúde para um container e uma empresa terceirizada é responsável por recolher esses resíduos e descartar de maneira que seja responsável para o meio ambiente”, informa o gerente da empresa de mecânica.  

Reclamações percorrem uma ‘via sacra’ sem sucesso 

Muitas vezes a população procura solucionar algum problema com a administração pública e o primeiro problema são as várias ligações que o denunciante precisa fazer até chegar ao órgão que realmente seja o responsável pelo assunto, o que o faz desistir no meio do caminho. Max Xavier, o jovem que teve destaque por ter sido assaltado a mão armada e teve seu relato contato na primeira matéria deste caso é apenas um exemplo de que é preciso mais informação sobre os locais para denúncias. Quando ligou, Max não teve a orientação da SMT para ligar em outro órgão, apenas ouviu dizer que o órgão não seria o responsável pelo assunto. 

A Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia (AMA), um dos órgãos que é frequentemente procurado para solucionar o problema, já que as pessoas acreditam tratar de poluição visual, informou, por meio de assessoria de comunicação, que esse tipo de denúncia de sucatas nas vias públicas deve ser feita diretamente para a Superintendência Municipal de Trânsito (SMT). 

Já a assessoria de comunicação da SMT pondera, dizendo, por telefone para a reportagem, que a responsabilidade de receber e solucionar esses impasses do município é da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh). 

Em nota, a Seplanh diz realiza ações cotidianas de fiscalização visando combater o descarte irregular de veículos subutilizados na Capital, ou seja, aqueles sem condições de tráfego, comumente chamados de carcaças. Somente neste ano de 2018 a pasta recebeu cerca de 100 denúncias do gênero, tendo removido cerca de 70 veículos depositados em vias públicas, passeios e locais impróprios, além da expedição de aproximadamente 50 notificações para que os proprietários procedessem a remoção dos mesmos.

Ainda de acordo com a nota, a Seplanh afirma que “faz-se necessário esclarecer que não existe impedimento na legislação de trânsito para que veículos em condições de uso fiquem por longos períodos estacionados em um mesmo local. Desta forma tanto a Seplanh Goiânia como a Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMT) só realiza a retirada de veículos considerados carcaças ou que estejam estacionados em locais proibidos”.

As denúncias de veículos ou carcaças abandonadas podem ser encaminhadas a Seplanh Goiânia através da página da Prefeitura de Goiânia na internet, em www.goiania.go.gov.br, pelo email [email protected] ou nas lojas Atende Fácil, localizadas no Paço Municipal e no Shopping Cidade Jardim. 

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