Bebê sagui luta para sobreviver após choque enquanto buscava comida 

Reportagem do jornal O Hoje reconstrói a crônica do resgate de primata por duas mulheres; internada, filhote de primata precisa de cuidados em hospital veterinário privado

Postado em: 25-01-2024 às 11h09
Por: João Victor Reynol de Andrade
Imagem Ilustrando a Notícia: Bebê sagui luta para sobreviver após choque enquanto buscava comida 
Reportagem do jornal O Hoje reconstrói a crônica do resgate de primata por duas mulheres; internada, filhote de primata precisa de cuidados em hospital veterinário privado | Foto: : Leandro Braz/O HOJE

Uma família sagui, espécie de macaco muito comum nos parques de Goiânia não se acostumava, até o início da noite de terça-feira (24), com o desfecho de um dos filhotes do bando que terminou desacordado, com o corpo dentro de uma caixa de sapato, cercado por humanos. Por isso os saguis ficaram por ali, perto de onde a caçula havia sofrido o acidente. Adultos, um animalzinho daquele pode ter entre  14 e 16 centímetros, a metade da pequeninha que havia caído de três metros de altura após levar descarga elétrica no Setor Serrinha, em Goiânia. 

Ao cair, a sagui, uma fêmea de poucos meses, bateu o pequeno crânio no chão de concreto e não teve mais forças nem mesmo para grunhir o seu barulho de sagui. De longe, os pais, irmãos, os primos, os tios e avós, desesperadores, por outro lado, guincharam alguma coisa. Pareciam tentar alguma comunicação com a pequena parente.  

Por telefone, Socorro Pinheiro, de 67 anos, procurava, às pressas, uma forma de ajudar a primata que, com olhos semi fechados, parecia procurar os pequenos olhos alaranjados da mãe ou do pai, dos irmãos ou dos primos com quem estava acostumada a correr pelos arbustos do Morro do Serrinha, ou das mangueiras das casas vizinhas. E, ao que parece, dos fios das redondezas.

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Antes da tragédia, Socorro caminha, como faz todo dia, com a amiga Mônica quando avistou a sagui pela primeira vez ainda saudável e com os pais caminhando pelos fios, nas proximidades da feira da OVG, onde bandos de saguis aparecem todas as terças-feiras em busca de comida . Ao ver essa reunião familiar, Socorro lembra à equipe de reportagem de comentar para a sua amiga Mônica o “quão belo” é a natureza do bairro e o quanto a “surpreende” nestes momentos mais calmos. Contudo, ela diz que um pensamento veio à cabeça. “Nossa, será que eles vão levar choque de ficar tanto nos fios?”, disse, como premonição. 

Quando voltou da feira já com as compras nas mãos, Socorro passou pelo ponto em que, mais cedo, a família de saguis estava junto a fios de alta tensão, mas percebeu que um dos animais estava caído, imóvel, respirando com dificuldades e com formigas atacando por todos os lados. Diz inclusive se tratar da pequena filhote que havia avistado anteriormente pelo seu pequeno tamanho comparado aos outros.“Tentei dar água, limpei ela e a deitei numa caixa de sapato com um pano para ajudá-la”, conta a mulher que surgiu para socorrer o animal.

Enquanto tentava pedir ajuda a amigos e à filha por telefone, que atualmente mora em Brasília, Dilene Pedrosa, de 51 anos, que trabalha na Incorporadora Opus ali em frente, via com atenção a angustiante tentativa de salvar o bichinho ferido. Contudo, decidiu, sem temer pelo emprego, atravessar a rua e tentar fazer algo. 

Dilene fez uma busca rápida no Google e encontrou o endereço do Hospital Veterinário São Francisco de Assis, a menos de um quilômetro dali. Normalmente, o mais correto é comunicar à Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), mas um atendente disse que o órgão poderia buscar o animal ferido horas mais tarde. A vida do bichano exigia rapidez. 

Quando chegou ao hospital, a sagui foi levada às pressas para a sala de internação onde está internada. A reportagem foi ao leito de UTI onde o animal recebeu doses de analgésico intravenoso para aliviar a dor. 

Segundo o médico-veterinário plantonista Afonso Santana, de 29 anos, a sagui passa por quadro de traumatismo craniano encefálico devido a colisão da cabeça, além da constatação de uma alteração neurológica. Contudo, não será possível fazer cirurgia reparativa pelo pequeno porte da bichinha de espécie chamada Callithrix penicillata, popularmente conhecida como sagui-de-tufos-pretos. 

Com isso, Afonso constatou o fato de que ela não estava responsiva aos estímulos mesmo em um ambiente estranho, podendo estar em choque e com um quadro mais grave. De acordo com o médico, ela ficará internada até a estabilização dos sintomas, contudo, sem a previsão de um retorno ou se irá sofrer sequelas. 

Segundo ele, assim que receber alta médica, poderá ser destinada a Amma para o retorno a sua casa. “Ela vai ficar sob os nossos cuidados até estabilizarem os sintomas neurológicos e respiratórios para podermos destinar ela para os agentes da Amma. Entretanto, isso pode demorar dias ou até semanas para essa melhora”, diz o especialista.

Na tarde desta quarta-feira (24), Afonso diz que a sagui está evoluindo bem ao tratamento, contudo, ainda está desequilibrada após o acidente. “Ela está evoluindo bem, mas ainda está incoordenada, mas aceitou a alimentação forçada”. Com isso, pode haver uma chance da pequena voltar e ser recebida de volta com seu grupo.

O resgate

Apesar da história da primata ser complexa, o ferimento de um animal silvestre em ambiente urbano não é algo incomum, como ocorre, principalmente, com aves e pequenos mamíferos que entram no limite da cidade. Contudo, apesar da história de heroísmos de Socorro e Dilene, não é aconselhável pelas autoridades o manejo direto dos animais silvestres. 

Para o Capitão Henrique Oliveira do Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBM-GO), é necessário cuidado especial para qualquer bicho que possa achar estar em situação de perigo. “Em relação aos animais selvagens o civil a gente não orienta o manejo dele mesmo se for pequeno pode machucar a pessoa. Além disso, o animal pode estar debilitado por uma doença contagiosa”. 

Por causa disso, o militar indica o não manejo do bicho, em especial se for de grande porte, além do acionamento dos bombeiros. Contudo, existe a chance do encaminhamento para uma unidade do Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), caso seja um animal de pequeno porte que a pessoa tenha segurança de não ser peçonhento ou que se torne um perigo para a pessoa. “O Corpo de Bombeiros faz o resgate e encaminhamos pro Cetas, contudo, se for constatado que o bicho possa não oferecer risco a pessoa, ela pode fazer o encaminhamento pessoal ou deixar em um unidade do corpo de bombeiros”.

Com colaboração de Yago Sales

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