Temidos, escorpiões têm um lado que pode salvar vidas

Veneno produzido pelo animal é usado para o desenvolvimento de novos medicamentos e tratamentos para doenças crônicas

Postado em: 31-01-2024 às 12h30
Por: Luan Monteiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Temidos, escorpiões têm um lado que pode salvar vidas
O veneno do escorpião abre portas para pesquisas científicas promissoras, levantando especulações sobre o desenvolvimento de novos medicamentos e tratamentos para condições como o Alzheimer | Foto: SES-GO

Poucos sabem, mas o escorpião, aracnídeo temido pelos humanos, desempenha papel importante no equilíbrio do ecossistema natural ao agir em níveis elevados da cadeia alimentar, controlando outras espécies. Desafiando a reputação negativa, no último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde, foram registrados mais de 154 mil acidentes por picada de escorpião no Brasil, com 88 vítimas fatais.

Para além da imagem como “vilão”, o veneno desse animal peçonhento abre portas para pesquisas científicas promissoras, levantando especulações sobre o desenvolvimento de novos medicamentos e tratamentos para condições como o Alzheimer. O professor de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Fabrício Escarlate, cita curiosidades sobre a dualidade e o poder do veneno dos escorpiões. 

“Os escorpiões não são exatamente predadores de topo de cadeia, mas ocupam níveis tróficos elevados”, afirma Escarlate, que complementa: “Embora os escorpiões sejam uma preocupação em termos de saúde pública, eles fornecem um serviço valioso, controlando organismos problemáticos, como as baratas e lacraias, que representam riscos de acidentes e outros problemas”. Confira a entrevista a seguir:

Continua após a publicidade

Existem adaptações específicas que tornam os escorpiões bem-sucedidos em diferentes ambientes?

FE: Os escorpiões são artrópodes, assim como as baratas, lacraias, centopeias, besouros, cigarras, caranguejos, lagostas, entre outros. O que torna esse grupo notável é a presença de um exoesqueleto rígido de quitina, funcionando como uma armadura. Esse exoesqueleto possui camadas contendo pigmentos e proteínas, o tornando capazes de reter água e enfrentar ambientes desafiadores, como os desertos áridos.

Existem espécies de escorpiões mais peçonhentas do que outras?

FE: Ao lidar com animais peçonhentos, como os escorpiões, a preocupação principal está relacionada à inoculação da toxina através do aguilhão, estrutura localizada na ponta da cauda. A toxicidade varia entre as espécies. Algumas podem ter toxinas mais reativas, causando problemas e lesões mais significativas. No entanto, existem espécies – muitas vezes encontradas em ambientes rurais e semi-preservados – que não representam risco iminente para os seres humanos.

Quais são os perigos mais comuns associados à presença de escorpiões em ambientes urbanos?

FE: A lógica é simples: mais recursos resultam em maior proliferação. No ambiente urbano, a oferta de recursos para escorpiões é maior, favorecendo sua sobrevivência e proliferação. Acúmulo de entulho, matéria orgânica e resíduos são propícios para a proliferação de espécies de escorpiões, especialmente o escorpião amarelo, que se adaptou bem a esses locais. Portanto, a manutenção e limpeza desses ambientes são medidas importantes para prevenir a presença excessiva desses aracnídeos e reduzir os riscos associados a suas picadas.

Quais são os sintomas de uma picada de escorpião e como as pessoas devem reagir em caso de picada?

FE: Os sintomas geralmente se manifestam no local, com sensação intensa de ardência e dor no local afetado. O grau de dor varia de pessoa para pessoa, algumas relatam dores insuportáveis e outras apenas uma dor intensa, porém suportável. Além da dor, é comum ocorrer inchaço, vermelhidão e coceira na área afetada. Em casos mais graves, a reação pode evoluir, levando a sintomas como febre e, em situações extremas, até mesmo choque anafilático. A gravidade da reação depende de fatores individuais, como idade, saúde geral e presença de outras condições médicas.

Veja Também