Contrastes da metrópole goiana

A capital do Planalto Central goianense completa 85 anos e conta com mudanças na sua estrutura sociocultural, passando de um pequeno município para um grande centro urbano

Postado em: 24-10-2018 às 08h30
Por: Sheyla Sousa
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A capital do Planalto Central goianense completa 85 anos e conta com mudanças na sua estrutura sociocultural, passando de um pequeno município para um grande centro urbano

Gabriel Araújo*

Criada a partir de uma luta centenária pela mudança do centro administrativo estadual, Goiânia completa hoje 85 anos de existência, apresentando mudanças socioculturais e estruturais que redefinem a cidade. A Capital foi fundada em 1933 pelo interventor federal Pedro Ludovico Teixeira e foi projetada para se tornar um grande centro político-econômico, ajudando a desenvolver o Estado de Goiás.

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Iniciada como um dos projetos de desenvolvimento do Centro-Oeste encabeçados pelo então presidente Getúlio Vargas durante os anos de 1930, Goiânia foi projetada para englobar apenas três regiões: o Centro e o Setor Sul e a cidade de Campinas, hoje bairro na Capital. A ideia inicial do arquiteto urbanista Attilio Corrêa Lima e de Pedro Ludovico apresentava uma cidade moderna construída para apenas 50 mil habitantes, com vias amplas e bastante arborização. 

O crescimento econômico e social de Goiânia fez a população passar de 53 mil pessoas em 1950 para quase um milhão e meio este ano e afetou a forma como o planejamento urbano funciona em toda a cidade. Casas residências deram lugar à prédios e grandes empreendimentos, o que alterou a estrutura física da cidade completamente durante estes 85 anos.

Ao observar pontos históricos da cidade é possível encontrar diferentes tipos de arquitetura, como o famoso conjunto Arquitetônico e Urbanístico Art Déco do Centro da cidade, que representa os anos iniciais de Goiânia, e edifícios como o Órion Business & Health Complex, que mostra a imponência dos novos empreendimentos. Se caminharmos pela Rua Senador Morais Filho, logo na esquina com a Avenida Sergipe, encontraremos uma residência particular que mantém a arquitetura inicial de Campinas, região mais antiga da Capital. Além disso, ao observarmos diversos bairros que surgiram nos últimos 50 anos por meio de imagens aéreas fornecidas pelo fotógrafo Rafael Ferreira, da Drone Like, poderemos encontrar edifícios residenciais que contam com a mais alta tecnologia.

Além da mudança estrutural, encontramos mudanças socioculturais na forma de ser e viver em Goiânia. Moradores mais antigos afirmam que a cidade calma que um dia existiu já não apresenta as mesmas características. De acordo com moradora da Capital Orsanta Cândida Pereira, de 90 anos, moradora antiga da região de Campinas, a cidade evoluiu com o tempo e hoje apresenta mudanças positivas e negativas. “Estamos aqui em Capinas há mais de 100 anos, nossa família cresceu aqui  e tem coisa boa e ruim. O asfalto aqui na região veio pra ajudar, já que a gente não tinha isso por muito tempo”, afirmou ao jornal O Hoje. “Eu gostava mais antigamente, naquela época eu podia sair e hoje está muito perigoso. Antigamente a gente fechava a rua do Cine Campinas e tinham festas”, completa sua filha, Nerça Cândida Pereira, de 74 anos.

Monumentos destacam arquitetura única 

A cidade de Goiânia possui uma série de edifícios e uma região inteira tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como patrimônio histórico nacional. A cidade é considerada a capital mundial da Art Déco e possui locais como o Museu Professor Zoroastro Artiaga, construído em 1942 pelo engenheiro polonês Kazimiers Bartoszevsky para sediar o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), o Centro Cultural Oscar Niemeyer, suas avenidas e, claro, o conjunto Arquitetônico e Urbanístico Art Déco do centro da cidade que são apenas alguns dos monumentos que representam a história da cidade. Além disso, a prefeitura também possui locais tombados como patrimônio histórico e cultural, como a antiga sede do Fórum e da Prefeitura Municipal de Campinas e do antigo Palace Hotel.

Um dos edifícios históricos mais emblemáticos da Capital é a antiga Estação de Trem, que está localizada próxima à rodoviária de Goiânia e está passando por um processo de reforma total. O local foi inaugurado em 1950 e funcionou até a década de 1980, recebendo trens de cargas e passageiros da Estrada de Ferro Goyaz. Ela é um dos mais importantes edifícios representativos do acervo arquitetônico e urbanístico Art Déco de Goiânia, tombado pelo Iphan desde 2002. O pavimento central do edifício possui dois relevantes afrescos de autoria de Frei Nazareno Confaloni, pintor e muralista, reconhecido como pioneiro da arte moderna em Goiás.

A atual restauração é realizada a partir de três linhas de atuação. Primeiramente foram realizadas as análises que levaram as definições do projeto inicial e, com isso, foram iniciados os trabalhos de restauro artístico, no caso a primeira etapa da restauração dos dois murais pintados pelo Frei Confaloni. “Essas obras sofreram bastante com a infiltração e com o musgo causado pela água, precisando de uma intervenção dos restauradores e, agora, só precisamos definir a saturação das obras”, afirmou a coordenadora técnica do Iphan, Beatriz Otto Santana.

Outra linha de atuação é a restauração do próprio edifício, que ainda está sendo estudado para a definição das formas de trabalho. O local estava abandonado e tem como principal problema a infiltração da água acumulada nas lajes, o que chegou a afetar as estruturas de concreto. “As calhas estavam entupidas e isso gerou o acúmulo de água, já fizemos um tratamento químico para por um fim a oxidação e agora vamos reforçar a estrutura”, completou a Beatriz, que é arquiteta.

A última etapa da obra é a requalificação do entorno, que também faz parte do projeto. Neste caso, primeiro foi realizado um estudo arqueológico do local. “É praxe em obras do Iphan os levantamentos e estudos. Aqui na Estação fizemos uma análise arqueológica para entender melhor alguns pontos da própria história do local, além de estudar o próprio prédio para descobrir quais foram as cores originais e os tipos de materiais utilizados”, conta

Tombado em 2003, o Acervo Arquitetônico e Urbanístico Art Déco de Goiânia é um dos mais importantes e representativos do mundo, o conjunto de 22 edifícios e monumentos públicos, concentrados no Centro da cidade revela a parte histórico-social do município e contam como a cidade se desenvolveu.  (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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