Com a chegada da Quaresma, um período de reflexão e abstinência para muitos fiéis ao redor do mundo, uma mudança marcante é observada nos padrões de consumo alimentar. Durante esses 40 dias que antecedem a Páscoa, a carne vermelha é frequentemente substituída por alternativas como peixes, ovos e frango, impulsionando as vendas desses produtos em todo o mercado. 

Pelos próximos 40 dias há quem pratique a troca da carne nas segundas, quartas e sextas-feiras, no entanto, outros adotam o regime durante toda a Quaresma. No primeiro dia a procura foi grande na banca de peixes de supermercados, peixarias e também vendedores ambulantes. 

“Vim mais cedo porque sei que ocorre fila na hora do almoço, pessoal acordando mais tarde. Me surpreendi com os valores, pagando R$ 16,99 o quilo da sardinha. Mas, garanti três quilos porque era a mais em conta. Na minha casa todos são católicos e adotamos a troca da carne pelo peixe na Quaresma”, diz o sapateiro Osvaldo Gomes.

Comerciantes e consumidores compartilham suas perspectivas sobre esse fenômeno sazonal, que aumenta as vendas principalmente das peixarias, mas que pesa no bolso do consumidor. Em entrevista, Pedro Silva, proprietário de uma peixaria da região central, conta como é o aumento da demanda por peixes durante a Quaresma. 

“É impressionante ver como as pessoas se voltam para o peixe durante esse período. Nossas vendas aumentam significativamente, especialmente de espécies como bacalhau e tilápia. É uma tradição que perdura há gerações e estamos felizes em poder atender à crescente demanda”, relata o dono da peixaria.

Já a Maria Santos, dona de um mercado na região leste da capital, destaca a importância dos ovos durante a Quaresma. “Os ovos são um elemento essencial em muitas receitas durante esse período. Vemos um aumento nas vendas de ovos cozidos, ovos de codorna e até mesmo ovos de chocolate para celebrar a Páscoa. É uma oportunidade para os consumidores explorarem novas maneiras de incorporar ovos em suas refeições”.

Além disso, José Oliveira, gerente de um açougue, compartilhou sua experiência com a demanda por frango durante esses dias sem consumo de carne vermelha. “O frango é uma escolha popular para muitos consumidores durante esse período. É uma proteína versátil e acessível, o que a torna ideal para substituir a carne vermelha. Notamos um aumento nas vendas de cortes de frango durante a Quaresma, especialmente peito e coxa’, exemplifica.

Para os comerciantes, o comportamento da troca da carne vermelha pelo peixe reflete diretamente nas vendas, gerando o lucro tão esperado. “O nosso momento é agora porque a Quaresma representa a melhor data para quem vive do pescado. O lucro sobe mais de 50%, pode chegar muito além se souber entender o que o cliente quer e focar em produtos bons e baratos. Temos da sardinha até o bacalhau, fica a critério do freguês”, disse o gerente Renato Santos, que logo ao abrir a venda contabilizou 35 clientes no estabelecimento.

Os consumidores também expressam suas opiniões sobre a mudança de hábitos alimentares durante a Quaresma. A aposentada Ana Silva comenta que ‘essa é uma oportunidade de experimentar novos pratos e explorar alternativas mais saudáveis ​​à carne vermelha’. “Eu sempre faço questão de incluir peixes, ovos e frango em minha dieta durante esse período, cumprindo assim minha penitencia cristã”, relata a aposentada.

Entretanto, alguns desafios são enfrentados pelos comerciantes durante esse período de alta demanda. Carlos Rodrigues, piscicultor, conta que sempre precisa mudar a logística de produção para conseguir atender o fornecimento de peixes. “Com a demanda aumentando, é importante garantir que tenhamos estoque suficiente para atender aos pedidos. Isso pode ser um desafio, especialmente com as condições climáticas e as restrições de pesca”.

Apesar dos desafios, a Quaresma continua sendo uma época de oportunidades para os comerciantes de alimentos, que aproveitam a demanda crescente para impulsionar suas vendas e oferecer uma variedade de opções aos consumidores. Enquanto isso, os fiéis observam as tradições alimentares com reverência, encontrando significado espiritual e nutrição em peixes, ovos e frango durante esse período sagrado.

Aproveitar promoções é a melhor saída na quaresma 

A dona de casa Consuelo Almeida, gosta de levar as postas dos peixes e congelar para utilizar gradativamente ao longo da Quaresma. Porém, os valores limitaram sua iniciativa. “Pensei em levar mais do que o dinheiro deu, confesso. Está mais salgado o preço do filé de tilápia e filé de salmão. Comprei um pouco de sardinha e gastei ao todo R$ 90”, conta. Segundo preço nas peixarias da região, o filé de salmão pode ser encontrado, por exemplo, a R$ 73,90 o quilo e o filé de tilápia a R$ 45,99.

Dona Ana da Silva Santos, aposentada, fala da dificuldade de consumir o peixe, pois o preço do alimento está mais alto e a opção é comprar ovos. “Não sei como é que vai comer peixe não. Tem que ir para o ovo, que com certeza já deve aumentar o preço nas próximas semanas”, conta já preocupada com o orçamento dos próximos 40 dias de quaresma.

A analista de mercado de ovos, Juliana Ferraz, diz que o custo de produção é um dos fatores que fazem com que o preço do alimento suba. “O custo de produção tem crescido bastante ao longo dos últimos anos, principalmente os custos com milho e farelo de soja que são os principais componentes da ração animal. O que consequentemente está gerando agora uma menor oferta da proteína no mercado brasileiro”, explicou Juliana. 

Em algumas cidades, como em Goiânia (GO), os preços podem ser até 18% mais altos. No entanto, na média nacional, a alta é de 14%. Para os produtores de ovos, a situação tende a ser mais positiva que no ano passado. Nesta semana, o preço médio diário recebido na abertura da semana permaneceu estabilizado em R$141,00 por caixa de 30 dúzias, significando incremento de 18,6% sobre o mesmo período do ano passado.