Goiás confirma 984 casos de dengue em gestantes e puérperas

Ao todo, Estado tem mais de 31 mil casos confirmados da dengue e mais de 75 mil notificações, de acordo com o último Boletim divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO)

Postado em: 05-03-2024 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Goiás confirma 984 casos de dengue em gestantes e puérperas
Uma vez infectadas, as gestantes têm maiores chances de apresentar desfechos desfavoráveis em comparação com as não gestantes, de acordo com o Ministério da Saúde | Foto: Divulgação

O aumento no número de mulheres grávidas infectadas pelo vírus da dengue em todo o país, causa preocupações, segundo alerta o Ministério da Saúde. Em Goiás somente nos primeiros dois meses de 2024, já foram notificados 984 casos de dengue em gestantes, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO). Em 2023, o total de casos foi de 986.

A ginecologista e obstetra do Hospital Estadual da Mulher (Hemu), Elaine Assis, destaca que as grávidas, normalmente, possuem uma alteração fisiológica e do sistema de coagulação. “É como se elas fossem ‘diluídas’, podemos pensar assim”, compara.

Desse modo, quando uma mulher grávida é contaminada pelo vírus da dengue, ela corre sérios riscos, uma vez que uma das características da dengue é a perda de plaquetas e na gestante isso se agrava ainda mais, podendo ocorrer queda de pressão arterial. Esses efeitos causados pela doença comprometem a saúde da gestante e do feto. “Então essa mulher pode acabar perdendo o bebê”, alerta a médica.

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O quadro pode ser agravado em casos de dengue hemorrágica. Além disso, as chances de uma mulher grávida com dengue evoluir para um quadro de dengue hemorrágica é maior do que na população em geral, devido às alterações fisiológicas da gestação.

Em Goiás já são 36 mortes por dengue confirmadas pelo Comitê Estadual de Investigação de Óbito Suspeito por Arboviroses, em Goiás.  Outros 57 óbitos suspeitos estão sob investigação. Ao todo, o Estado tem 31.710 casos confirmados da doença e 75.683 casos notificados, de acordo com o último Boletim divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO). Sobre a prevalência do tipo da dengue em Goiás, 62% é do sorotipo 1 e 37% do sorotipo 2.

Tratamentos e manejos clínicos

O tratamento, bem como o manejo clínico com as gestantes devem ser feitos de acordo com o estadiamento clínico da dengue e necessitam de vigilância, independentemente da gravidade de cada caso. “O médico deve atentar-se aos riscos para a mãe e feto”, orienta a médica ginecologista e obstetra do Hospital Estadual e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, Isana Carolina França Junqueira. 

Junqueira reitera, que em relação à mãe infectada, os riscos estão principalmente relacionados ao aumento de sangramentos de origem obstétrica e às alterações fisiológicas da gravidez, que podem interferir nas manifestações clínicas da doença. “Gestantes com sangramento, independentemente do período gestacional, devem ser questionadas quanto à presença de febre ou ao histórico de febre nos últimos sete dias”, salienta.

Diante da problemática, as grávidas devem redobrar os cuidados com o mosquito, como utilizar telas de proteção em janelas, usar roupas de mangas compridas, com finalidade de não deixar áreas do corpo expostas para ocorrer a picada do mosquito e aplicar repelente, segundo orienta Junqueira.

Ministério da Saúde lança Manual de Prevenção, Diagnóstico 

Para divulgar informações sobre o assunto e promover a prevenção, o Ministério da Saúde lançou o Manual de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento da Dengue na Gestão e no Puerpério. O material traz orientações para os profissionais de saúde sobre as melhores práticas que devem ser realizadas no cuidado dessas mulheres, com foco na redução dos potenciais riscos à saúde materna e perinatal. O guia foi elaborado pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), em parceria com a pasta.

O Ministério da Saúde adverte que, uma vez infectadas, as gestantes têm maiores chances de apresentar desfechos desfavoráveis em comparação com as não gestantes. Assim, a publicação, elaborada com base no manual ‘Dengue: diagnóstico e manejo clínico: adulto e criança’ do órgão, serve como diretriz para a prevenção, tratamento e diagnóstico da doença, podendo ainda contribuir significativamente para a segurança e o bem-estar das gestantes e puérperas.

“Este é um manual de alta qualidade e, com ele, poderemos salvar muitas vidas de mulheres e crianças. É um trabalho em conjunto com o COE Dengue, a Febrasgo e mais uma ação de resposta rápida ao enfrentamento da doença no Brasil”, observa Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente,  ao se mostrar satisfeita com o guia e frisar que ele traz grande contribuição na prevenção de óbitos.

A presidente da federação, Maria Celeste Osório Wender, destacou a preocupação da instituição com a dengue no período gestacional e disse que a prioridade da pasta é garantir a saúde da gestante e do bebê. “Por isso atuamos para orientar e capacitar os ginecologistas e obstetras de todo o país. Este guia de orientações é de extrema importância para a saúde pública”.

O MS informou que está em constante monitoramento e alerta quanto ao cenário epidemiológico no país. Além disso, o órgão coordena uma série de iniciativas para o enfrentamento das arboviroses em todo o Brasil. Entre as ações estratégicas coordenadas pela pasta está a ampliação para R$ 1,5 bilhão os recursos para emergências, como o enfrentamento da dengue, a incorporação no SUS da vacina contra a dengue e instalação de um Centro de Operações de Emergência – COE Dengue, em atuação coordenada com estados e municípios.

Os casos de dengue em gestantes têm aumentado, segundo revelam dados epidemiológicos do Ministério da Saúde. Em 2023, foram registrados 1.530.940 casos prováveis no país, com um coeficiente de incidência de 753,9 casos por 100 mil habitantes, o que representa um aumento de 16,5% em comparação com o ano anterior. Números de 2024 também indicam um aumento significativo da incidência, com um crescimento antecipado dos casos.

Quando comparadas as semanas epidemiológicas de 1 a 6 do ano passado com o mesmo período de 2024, é observado uma alta de 345,2% no quantitativo de casos da doença em gestantes. O aumento, segundo o órgão, representa um quadro preocupante de saúde pública, considerando o risco elevado de complicações graves, tanto para elas quanto para os bebês.

Formas graves da doença, como choque, hemorragias e óbito representam riscos para as gestantes, enquanto as complicações perinatais incluem prematuridade, restrição de crescimento intrauterino e morte fetal.

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