Paço fecha unidade de saúde referência no tratamento de HIV

Abandono e fechamento sofre há anos com sucateamento e finalização em atendimentos

Postado em: 12-11-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Abandono e fechamento sofre há anos com sucateamento e finalização em atendimentos

Gabriel Araújo*

A prefeitura de Goiânia fecha hoje (12) o Centro de Referência e Diagnóstico Terapêutico José Santiago de Moura (CRDT). O local, que funcionava até a última semana no Setor Norte Ferroviário, é referência no diagnóstico de doenças sexualmente transmissíveis como HIV/AIDS, e sofre há anos com a falta de insumos e transferência de serviços. 

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A unidade foi fundada em 1998 e realiza atendimentos em diversas áreas especializadas, como tubérculos, hanseníase e HIV. Conforme dados da própria Secretaria Municipal de Saúde (SMS), cerca de 200 funcionários trabalham no local realizando milhares de atendimentos, como o confirmatório de HIV, dengue, hormônio e testes rápidos de sífilis e hepatites virais todos os anos.

De acordo com funcionários da unidade, a ameaça de fechamento data do início de 2018, quando os próprios profissionais já denunciavam que os únicos serviços funcionando eram os que não dependiam da prefeitura de Goiânia. Na época, o Conselho Local de Saúde enviou um ofício à atual secretária de saúde, Fátima Mrué, para que a decisão do fechamento fosse repensada devido à importância da unidade no tratamento de pacientes de todo o estado. “Vimos por meio deste, em função do iminente fechamento e remoção de servidores do Laboratório do Centro de Referência em Diagnóstico e Terapêutica – CRDT, pedir que seja ponderada, antes de qualquer decisão, a importância que esta unidade representa para a comunidade usuária do SUS, na realização de exames laboratoriais”, afirma o oficio 001/2018.

Apesar dos problemas apresentados, como a falta de materiais para análises e equipamentos, o laboratório do CRDT realizava uma média de 60 atendimentos diários. “Os equipamentos que eram comodatos já foram retirados pela empresa por falta de pagamento. Hoje, o laboratório realiza apenas sorologia para dengue, testes rápidos e exames para diagnosticar doenças como tuberculose e hanseníase”, afirmou uma servidora que decidiu não ser identificada por temer represálias. 

Em visita realizada pela reportagem do O Hoje na tarde da última sexta-feira (9), servidores responsáveis pelo atendimento ao público informavam os pacientes sobre o fechamento da unidade. “Fomos pegos de surpresa, nem sabemos o que vai acontecer com a gente”, contou um dos servidores. Segundo eles, alguns serviços já foram encerrados e outros transferidos, como o atendimento odontológico que atendia mais de 900 pacientes por dia. “Já fomos referência no tratamento de patologias como tuberculose e hanseníase em todo Estado, mas tudo está acabado agora”, conta outro servidor.

Conforme informações apuradas pela vereadora Dr. Cristina, os equipamentos da unidade serão retirados hoje e os profissionais serão transferidos para diferentes regiões da Capital. Ainda segundo ela, a atual unidade será removida por pedido do Estado, proprietário do local. Anteriormente a parlamentar havia aprovado uma emenda impositiva no valor de R$ 50 mil para a adaptação da lavanderia do local. 

Usuário da unidade a cerca de um ano, o comerciante Geliston Vaz da Silva, 50, conta que ainda não sabe como deve proceder para a realização de exames. “Sempre vim aqui e o atendimento foi bom, agora eles não sabem como faz acontecer esse fechamento e não conseguem direcionar a gente pra lugar nenhum”, conta. “Só sei que aqui não tem mais atendimento, o resto nem o pessoal que trabalha aqui sabe”, finaliza.

Sobre o caso, a SMS afirmou que o atendimento foi remanejado e que uma nova unidade está preparada. “A Secretaria Municipal de Saúde esclarece que os pacientes do CRDT não ficarão sem atendimento, apenas terão o atendimento transferido para outro local. A mudança de endereço deve-se à solicitação de liberação da área pelo proprietário do terreno e permanece até que a nova sede do CRDT, localizada no setor Sul, seja concluída para receber todos os serviços prestados pelo CRDT”, afirmou o órgão por meio de nota.

Ainda segundo informado, a mudança é de forma provisória  para outras unidades da rede de saúde da SMS, mas o órgão não informou se o atendimento voltará a ser realizado em um único local. A reportagem do O Hoje tentou, ainda, contato com os conselhos municipais e locais de saúde para obter um posicionamento sobre o fechamento da unidade, mas até a finalização desta edição não teve suas ligações atendidas. A SMS também não indicou quando o atendimento será restabelecido no novo local. 

Saúde Municipal enfrenta obras paradas e falta de materiais 

A imprensa goiana já acompanha a situação do local há alguns meses. Conforme reportagem publicada em um portal online da capital em maio deste ano, o atendimento do Centro de Referência e Diagnóstico Terapêutico José Santiago de Moura (CRDT) já estava falho, com pacientes tendo de esperar mais de 60 dias para realizar o agendamento de um atendimento. 

Na época, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou por meio de nota que o prazo médio de espera por uma consulta com infectologista na rede municipal é de aproximadamente 45 dias. Segundo o órgão, o paciente diagnosticado com o vírus HIV é encaminhado para a consulta e o médico, de acordo com critérios clínicos, preencherá o formulário de dispensa que deverá ser apresentado na farmácia do CRDT para retirada dos medicamentos e início do tratamento.

Saúde precária

As unidades de atendimento enfrentam a falta de recursos e a má gestão por todo o estado. O Hoje vem acompanhando a situação em diversos locais e encontrou, cerca de três semanas atrás, uma situação crítica no Cais Amendoeiras, sendo vistos papeis ensanguentados jogados no chão, ao lado de pacientes que recebem medicação. 

Também foram vistas luvas cirúrgicas mal armazenadas e ampolas de remédios já utilizados jogados por cima da mesa, sem manuseio adequado. Há no Cais Amendoeiras uma pia, aparentemente para lavar as mãos, cheia de lodo. Na maca, lençóis manchados. No Cais Chácara do Governador encontramos até banco sem o assento para pacientes.

De acordo com um líder da comunidade, o local não conta com profissionais da pediatria, equipamentos de raio-x e sequer laboratório para atender a população na emergência. O líder pede que a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia tome atitudes urgentes para tratar com qualidade os moradores da região. Ainda nos relatos do líder, “estamos indo consultar em Senador Canedo, porque a saúde de lá está melhor que a daqui”. O homem informou que o Mutirão da Prefeitura foi no local e fez um “batom” na unidade há mais de um ano, mas que sequer médico pediatra atende na unidade de saúde. “Ginecologista, não tem. Dentista, não tem. Médicos de ambulatório não têm, só clinico geral”, finaliza indignado. 

Obra parada

A paralisação das obras de construção do Hospital e Maternidade Oeste, no Conjunto Vera Cruz, terminou no último mês de julho, mas os trabalhos não chegaram nem na metade. A obra é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) e é orçado em cerca de R$ 50 milhões, tendo ficado parado por cerca de 6 meses.

A obra é uma parceria com o Governo Federal, que divide os gastos com a prefeitura de Goiânia. Os repasses federais estavam suspensos devido à falta do pagamento da contrapartida municipal. A Elmo Engenharia, empresa responsável, e a Prefeitura de Goiânia chegaram a um acordo após assinar um Termo de Reinício no dia 29 de junho e o prazo para a entrega foi transferido para o segundo semestre de 2019.

A Maternidade Oeste, quando pronta, contará com 15 mil metros quadrados de área construída e atenderá moradores de toda Goiânia, em especial das regiões Oeste, Campinas, Sudoeste e Centro. O investimento é de mais de R$ 50 milhões. A obra é uma parceria com o Governo Federal, que divide os gastos com a Prefeitura de Goiânia. (Gabriel Araújo* é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian). 

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