Acidentes por armas de fogo preocupa especialista goiano

Em menos de um mês, pelo menos três pessoas foram vítimas do descuido com arma de fogo

Postado em: 13-11-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Em menos de um mês, pelo menos três pessoas foram vítimas do descuido com arma de fogo

O proprietário da arma pode ser denunciado por homicídio tentado por dolo eventual

Thiago Costa 

Goiás registra mais um acidente envolvendo arma de fogo, 18 dias após o soldado de 3ª classe da Polícia Militar (PM), Flávio Farias de Oliveira, matar o amigo Matheus Oliveira de Castro, de 20 anos, e cometer suicídio após o acidente que ocorreu enquanto o soldado manuseava a arma dentro do carro.  No último sábado (11), por volta das 18 horas, Luís Felipe Rodrigues Ribeiro, de sete anos, levou um tiro de espingarda enquanto brincava com outras duas crianças, uma de 2 e outra de 10 anos em um dos quartos que guardava objetos velhos da casa do tio da vítima, que fica na zona rural de Carmo do Rio Verde. 

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O terceiro caso aconteceu em Anicuns, na região central do Estado, um adolescente de 16 anos foi morto ao brincar de “roleta russa”. João Pedro Leandro Ferreira Barros chegou a ser levado para o Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), porém teve morte cerebral dias depois e a família decidiu doar os órgãos do rapaz.

Até o fechamento desta reportagem, o estado de saúde de Luís Felipe era considerado grave e a criança respirava com a ajuda de aparelhos no Hugol. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Matheus Melo, a arma foi apreendida e será submetida à perícia para saber como se deu o disparo que atingiu o garoto. “Embora a espingarda estivesse em um quarto de dispensa não utilizado na propriedade, o proprietário da arma responderá por posse irregular da arma e omissão de guarda de arma de fogo, já que a espingarda estava sobre a mesa e as crianças tiveram livre acesso ao local porque não foram tomadas as cautelas necessárias”, comenta o delegado. 

Os advogados associados Monique Sousa e Humberto Tavares, da cidade de Goiatuba, afirmam ainda que cabe ao Ministério Público a possibilidade de denunciar o proprietário da arma por homicídio tentado por dolo eventual, pois ele assumiu o risco do acidente, que aconteceu ao manter o objeto ao alcance das crianças e de maneira acessível, mesmo que em um quarto isolado da casa. 

Orientação

Thiago Marques é instrutor e proprietário de uma academia de tiro no Setor Jardim América, em Goiânia. Para ele, “o maior defeito das pessoas é que elas já descobriram que podem possuir a arma de fogo em casa de forma legal, mas não se preparam para isso. A Polícia Federal garante a qualquer pessoa com idade superior a 25 anos, que tenha renda lícita, moradia fixa, apresentação de antecedentes criminais, laudo de avaliação psicológica e o laudo de capacidade técnica o direito de ter arma de fogo em casa”, comenta Thiago. 

Thiago acredita que a maioria das pessoas preenche os requisitos exigidos para ter uma arma de fogo, mas de acordo com o proprietário da academia de tiro, nem todos que preencham as exigências têm o preparo para manusear o instrumento.  Thiago lamenta ainda que as pessoas tenham levado para dentro de casa o equipamento sem ter os mínimos cuidados.

Durante o curso, o instrutor ensina aos alunos que é fundamental apresentar a arma de fogo à família desde o primeiro dia que o objeto é inserido no lar, a fim de reforçar os cuidados e orientar todos na casa que é primordial manter a arma apontada para uma direção segura e nunca colocar o dedo no gatilho. 

“Nossos alunos são orientados a não deixar o acesso ao equipamento a crianças e pessoas com problemas mentais. As pessoas adquirem armas de fogo e escondem da família, o que gera na criança uma curiosidade. Na primeira oportunidade que essa criança tiver, ela vai tentar conhecer o equipamento, o que pode causar esse tipo de acidente, muitas vezes até fatal”, finaliza o instrutor de tiro. 

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