Parado, trecho sul do BRT causa prejuízos aos comerciantes

Aproximadamente 15 empresas fecharam por conta das obras paralisadas no lado sul do BRT, segundo comerciantes da região

Postado em: 14-11-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Aproximadamente 15 empresas fecharam por conta das obras paralisadas no lado sul do BRT, segundo comerciantes da região

Thiago Costa 

As vendas dos comércios próximos às obras paradas da Bus Rapid Transit (BRT), lado sul, atrapalham a vida de clientes e comerciantes, que reclamam de perda de 50% do movimento nas empresas próximas à construção. O trecho a partir do Terminal Isidória, na Avenida Quarta Radial, parado desde julho do ano passado, não tem previsão de quando será retomado, visto que não está mais sob responsabilidade do Consórcio BRT. Será realizada uma nova licitação para definir a empresa que cuidará desta parte da construção.

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A obra teve início ainda no Governo Federal da ex-presidente da República Dilma Roussef, que à época assinou ordem de serviço para construção do BRT Norte-Sul, em Goiânia (GO) para melhorar a mobilidade na Capital.

A BRT em Goiânia foi orçada em R$ 192 milhões e o projeto total garantiria 21,8 quilômetros da obra que interligaria as regiões Norte e Sul da Capital goiana e facilitaria a locomoção urbana de milhares de usuários do transporte público do município. A média de pessoas atendidas diariamente após concluída a obra seria de 120 mil usuários, aproximadamente 15 mil apenas nos horários de pico.  148 bairros de Goiânia e Aparecida de Goiânia seriam beneficiados nas 39 plataformas de embarque e desembarque espalhados pelo trajeto, caso ele não estivesse totalmente parado atrapalhando o comércio local, já que com a ausência de estacionamento é um dos problemas enfrentados pelos comerciantes.

O comerciante Ramon Marinho tem uma empresa frente à obra do BRT, na região do terminal Isidória. De acordo com ele, antes da reforma, frente à empresa havia uma bela praça com árvores frutíferas, postes de iluminação e pista para ciclismo, estacionamento para os clientes, mas com o início da obra o que antes servia para atrair a clientela, se desfez. O trânsito ficou complicado, já que desmancharam a pista que antes dava mais espaço para os veículos circularem. “Por aqui, antes das obras que estão paradas há anos, o pessoal sentava na praça para descansar e conversar debaixo das árvores. O comércio agora está todo atrapalhado por conta da ausência do estacionamento. 

“Não tem como estacionar por aqui e quando você liga nos órgãos responsáveis para que seja feito um afastamento da calçada, tem que ter uma engenharia que não sabemos qual é para fazer o afastamento. Quando você consegue esse afastamento não tem quem corte a calçada, não tem material, não tem profissionais disponíveis. É complicado isso aqui para a gente”, reclama o comerciante. 

Ramon não reclama da obra que foi iniciada, mas pondera e diz que a administração deveria ter se preocupado em recuar a calçada para manter o estacionamento para os clientes. O comerciante culpa todo o impacto negativo que os empresários têm sentido porque agora os clientes já não conseguem parar seus carros nessas empresas graça ao grande fluxo de veículos entre as reduzidas ruas entre as obras paradas no local.

“Os clientes preferem comércios com estacionamentos e isso está diminuindo nossas vendas. Se eles [os clientes] estacionam na calçada, os guardas da Superintendência Municipal de Trânsito vêm cá e os multam com total falta de educação”, reclama Ramon. 

O comerciante que sente no bolso os prejuízos da obra parada frente ao seu comércio reclama ainda que, após a conclusão do projeto e com a instalação de semáforos no local, será mais impossível ainda os clientes estacionarem seus carros por ali. 

“No quarteirão de cima da minha empresa fecharam muitas lojas. Ao todo, fecharam aproximadamente 15 empresas que já abriram de novo e voltaram a fechar. A culpa disso tudo é da obra parada. Eram lojas com 7, 8 e 10 anos de funcionamento. Lojas de peças automobilística, farmácias, borracharias, mecânica e várias outras empresas que por hora eu nem consigo mais lembrar fecharam após a chegada da BRT”, lamenta o comerciante da região que viu suas vendas caírem em 50%. 

Luiza Nunes é comerciante no ramo da tecnologia e afirma uma perca de 50% das vendas após o início das obras. “Os clientes gostavam mais de vir pra cá porque tinham árvores, tinha sombra, ventava mais, tinha lugar para estacionar os carros e não tinham essas placas de cimento impedindo as pessoas de estacionar” afirma. De acordo com a empresária, nos períodos chuvosos, a água empoça no local onde a obra já deveria ter sido entregue a população e o local exala um cheiro forte para dentro dos comércios. “Eu já vi até focos de mosquitos de dengue e chamamos, à época, a reportagem para mostrar esse descaso”, conta Luiza.

“Em frente a minha loja não tem como o cliente parar como antes. Agora só pode parar caminhões para carga e descarga de mercadorias, pois ao lado da minha loja tem uma empresa de embalagens. Na minha loja, por exemplo, meus clientes têm que parar num beco mais ou menos perto, o que os faz desistirem de ir à minha loja e partem para procurar alguma outra loja que preste o mesmo serviço mais para frente, desde que tenha o estacionamento. Se eles pararem os carros na porta da loja, a Superintendência Municipal de Trânsito (SMT) multa, o trânsito para, as pessoas começam a buzinar e vira uma confusão o trânsito”, reclama Luiza Nunes. 

Empresários de outras regiões também reclamam de quedas nas vendas  

Há menos de um mês a reportagem do O Hoje conversou com comerciantes do outro lado da obra, próximo ao Terminal Recanto do Bosque. De acordo com empresários da região, a interdição das vias para a continuação da construção já fez as vendas caírem pela metade. As declarações mostram que por toda a construção, comerciantes sentem os reflexos negativos que a paralisação trouxe ao comércio nessas localidades. 

Para uma comerciante da região que preferiu não se identificar, a interdição da pista que dá acesso ao seu restaurante atrapalha a chegada dos clientes. “Aqui a gente já perdeu mais de 40% das vendas por causa do fechamento da rua. Já teve até uma cliente que caiu aqui na frente por causa da lama e da altura que ficou quando eles tiraram o asfalto”, conta.

Atualmente as obras se encontram em um trecho da Avenida Oriente, no Setor Morada do Sol e buscam criar a entrada e saída dos ônibus articulados no Terminal Recanto do Bosque. “Desde quando começaram a pararem o trânsito aqui as coisas pioraram, e ainda tem todo esse barro que desse a avenida a atrapalha todo mundo”, completa Ana Carolina.

Com o término das obras inicialmente previsto para o fim do primeiro semestre de 2017, os trabalhos do BRT ficaram paralisados por quase um ano devido a irregularidades na licitação e na própria obra. No último mês de março o atual prefeito de Goiânia, Iris Rezende (MDB), assinou o termo de serviço com as alterações previstas pelo Termo de Ajustamento de Conduta do Ministério Público Federal (MPF), o que previu a entrega final apenas para outubro de 2020, daqui a cerca de dois anos. 

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