Campanha do HMI faz aumentar doação de leite materno

Entre janeiro e outubro deste ano ocorreu um aumento de mais de 100 litros de material coletado em relação a 2017

Postado em: 19-11-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Entre janeiro e outubro deste ano ocorreu um aumento de mais de 100 litros de material coletado em relação a 2017

Apesar da maior quantidade de atendimento e de leite materno coletado, o número de doadoras caiu

Felipe André*

As campanhas de conscientização do Hospital Materno Infantil (HMI) seguem dando resultados positivos. Em uma pesquisa divulgada pela Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH Brasil), o período de janeiro até outubro deste ano resultou em 1.501,3 litros de leite materno coletados no HMI, contra 1378,3 litros do mesmo período de tempo em 2017.

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Uma das encarregadas e motivadores dessa crescente é Ilze dos Santos de Sousa, nascida em Brasília, mas mora em Goiânia há 5 anos. Mãe de dois filhos, Mariana de 4 anos e o mais novo Rafael que ainda não completou 1 mês, sempre teve vontade de doar sangue, porém tinha problemas para chegar ao peso recomendado.

Com a morte de seu irmão Ítalo quando ainda morava em Brasília, oito anos atrás, Ilze e seu pai José Antônio decidiram doar os órgãos e pegaram gosto em ajudar o próximo. “Meu pai que me deu a dica de começar a doar leite, quando cheguei a Goiânia procurei e então encontrei o Hospital Materno Infantil, o pessoal sempre foi muito atencioso comigo”, revelou ela, que destina cerca de cinco vidros de leite por semana para a doação.

A mãe recebe um kit contendo os frascos esterilizados, uma touca e a máscara, além das orientações sobre os cuidados e higienização da mama. O leite materno coletado deve ser armazenado no congelador, sem estar próximo a outros alimentos. A doadora precisa ser saudável e ter os exames laboratoriais em dia, caso não tenha, esses procedimentos são solicitados e realizados.

Após ser coletado, o leite é analisado e pasteurizado para que fique em condições sanitárias para o consumo. O leite é então congelado, podendo ficar armazenado por seis meses. O HMI conta com o apoio do Corpo de Bombeiros Militares de Goiás que disponibiliza veículo e profissionais de apoio para coleta do material.

Para a coordenadora do Banco de Leite Humano (BLH) no Hospital Materno Infantil, Renata Machado Leles, a campanha foi fundamental. “Acreditamos que foi por causa da campanha [o aumento de leite coletado], o índice tem aumentado e consequentemente a doação. Temos mais mães doadoras, mas também o que incentiva é a educação, cursos de gestantes que fazemos, o pré-natal, tudo que gire em torno da conscientização, veiculação na mídia, estratégias do Ministério da Saúde, entre outros”.

Renata mencionou que o principal aumento em relação aos últimos anos tem sido no período de férias, já que as mães não têm deixado de doar. “Precisamos sempre [de doação], ela tem que ser constante. Estamos em uma época boa, a situação está estável, suprimos a necessidade nas unidades públicas, mas não atingimos as UTIs particulares, as neonatais”.

Apesar de estar em uma situação estável nas unidades públicas, a dificuldade segundo a coordenadora do BLH fica por conta das unidades particulares. “Os hospitais particulares não têm estrutura para receber o leite materno, por isso não enviamos. Teoricamente o correto seria fornecer também para as unidades particulares, mas eles não têm estrutura ou um lactário adequado. Acaba que não enviamos o leite para eles, que acabam retirando da própria mãe o leite cru, ou na ausência usam a fórmula, que é o leite artificial”.

O lactário é uma unidade obrigatória em todos os hospitais que mantêm leitos para crianças e berços para recém-nascidos.

Como ser doadora?

Para ser doadora de leite materno basta entrar em contato com a equipe do Banco de Leite do Hospital Materno Infantil pelo telefone 3956-2900. Todos os procedimentos necessários serão explicados e o alimento é coletado na casa da doadora.

Bebês prematuros

Na última semana, o Hospital Materno Infantil realizou a “Semana da Prematuridade” que buscou esclarecer os cuidados que devem ser tomados para evitar que bebês nasçam de forma prematura. O objetivo da marcação no calendário da saúde foi chamar a atenção de um problema que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge em média 15 milhões de crianças todos os anos ao redor do mundo. Desses, 340 mil apenas no Brasil, fazendo com o que o país ocupe a 10ª posição na categoria de nascimentos prematuros, duas vezes maior que a média nos países europeus. 

Com a temática “Somos Super Amigos: Equipe + Bebê Prematuro + Família”, o hospital que é especializado no atendimento a casos de média e alta complexidade para o bebê, vai expor a realidade da prematuridade, com depoimentos de profissionais que vivenciam diretamente a atenção e o cuidado intensivo ao recém-nascido prematuro.  

Também aumenta atendimentos às mães 

O Hospital Materno Infantil (HMI), além do leite materno coletado, também contou com um acréscimo em relação aos atendimentos realizados. Em uma pesquisa divulgada pela Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH Brasil), o período de janeiro até outubro deste ano resultou em 10.920 atendimentos individuais e grupais, no mesmo intervalo de tempo em 2017, 6.504 atendimentos foram feitos. Em doze meses a diferença foi de 4.416 atendimentos apenas no HMI. 

Os atendimentos feitos na casa das doadoras é realizado por bombeiras, devido a parceria juntamente do HMI com o Corpo de Bombeiros Militares de Goiás. Já o suporte presencial conta com a própria equipe do hospital, além 167 leitos cujo 25 são de UTI (5 UTIs maternas, 10 UTIs pediátricas e 10 UTIs neonatais).

Entretanto, o fato curioso fica por conta das doadoras. Apesar da maior quantidade de atendimento e de leite materno coletado, o número de doadoras caiu. 1.655 mães doaram leite ao Hospital Materno Infantil neste ano entre os meses de janeiro a outubro. Em 2017, 2.030 pessoas se dispuseram a ajudar e a doar.

Se aumentou as doadoras, aumentou também as receptoras. No último ano 1.384 mães solicitaram leite materno ao HMI. Neste ano o número subiu para 1.439 mulheres. A mãe que deseja receber leite materno, pois não consegue produzir leite por algum motivo, precisa procurar um Banco de Leite Materno (BLH) mais próximo para conseguir atendimento e então solicitar o leite.

Amamentação cruzada

Muitas mulheres com leite excedente optam por doar diretamente para outro bebê, cuja mãe apresente alguma dificuldade com a amamentação. No entanto, essa prática não é recomendada, já que é contraindicado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a amamentação cruzada, como é conhecida a prática, traz diversos riscos ao bebê, podendo transmitir doenças infectocontagiosas, sendo a mais grave o HIV/Aids.

Não é recomendável que se peça para uma irmã, mãe, tia, prima ou qualquer outra pessoa que amamente o seu bebê diretamente, realizando assim o que é chamado de “amamentação cruzada”. Mesmo que a pessoa esteja com os exames em dia, ela pode estar em uma janela imunológica. Dessa forma, o bebê corre risco de contrair alguma doença. Além da possibilidade de acontecer o contrário e o bebê passar alguma doença para esta doadora.

Os BLHs também oferecem consultas, orientação e apoio a lactantes e podem auxiliá-las, inclusive, a retomar a amamentação, caso tenha sido interrompida. A diferença fundamental para a amamentação cruzada é que, no banco de leite humano, o leite doado passará por um processo de seleção e classificação, sendo pasteurizado e, por fim, sofrerá um controle de qualidade microbiológico. Deste modo, garante a isenção de qualquer possibilidade de transmissão de doenças e oferece ao bebê receptor um leite de qualidade certificada e segurança alimentar e nutricional. (Felipe André é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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