Como é a vida da pessoa com bexiga hiperativa

A síndrome afeta prevalentemente homens e mulheres a partir dos 40 anos

Postado em: 22-04-2024 às 12h10
Por: Ronilma Pinheiro
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O urologista e especialista em transplante renal, Rodrigo Rosa de Lima, afirma que o atraso na busca por tratamento é comum, o que piora o quadro | Foto: Arquivo pessoal

Na busca pela compreensão de condições médicas menos compreendidas, a bexiga hiperativa é uma que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. A experiência de lidar com isso no cotidiano pode ser desafiadora e, muitas vezes, mal compreendida. Ednalva Maria Silva, costureira de 49 anos, uma pessoa que vive com bexiga hiperativa desde jovem, conversou com a reportagem do jornal O Hoje, e falou sobre o processo de entender melhor sua jornada, desafios e o que ela aprendeu ao longo do caminho.

Os sintomas podem variar, mas incluem uma forte urgência de urinar, muitas vezes acompanhada de incontinência urinária. “Assim que eu tomo água, passa em torno de 10 a 15 minutos, e eu sinto vontade de ir ao banheiro”, explica ela. “E se eu não respeitar essa vontade de ir, aí eu começo a fazer xixi na roupa”, acrescenta.

O desafio de controlar a micção é uma experiência comum para pessoas que vivem com bexiga hiperativa. Ednalva compartilhou que o volume de urina é influenciado pela quantidade de líquido que consome. “Se eu beber muito, sai bastante, posso te dizer que sai tudo. Se eu beber pouco, sai pouco, mas independente da quantidade que eu beba, passa de 10 a 15 minutos, e eu já sinto vontade de ir ao banheiro”.

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Ao falar sobre os desafios cotidianos que enfrenta, a mulher afirmou que não tem controle da urina quando a bexiga está cheia. “Não, eu não tenho controle. Se eu ultrapassar o limite, se eu começar a segurar muito, aí eu faço xixi na roupa, não consigo segurar. Isso acontece em qualquer lugar que eu esteja. Aí eu sou obrigada a tirar a roupa e fazer onde estiver, porque se não, faço na roupa”, compartilha.

Esses desafios podem ser constrangedores e difíceis de administrar, afetando a autoestima e a qualidade de vida das pessoas que vivem com essa condição. Assim, Ednalva passou a buscar por respostas médicas. “O médico fala que é normal, que eu tenho que agradecer porque meus rins funcionam normalmente. E aí diz que não tem nada para fazer”, comenta a mulher, ao afirmar que já passou por exames mas nenhum problema foi detectado.

A Bexiga Hiperativa (BH) é uma síndrome que afeta prevalentemente homens e mulheres a partir dos 40 anos. Caracterizada por sintomas de urgência urinária, com ou sem incontinência, a BH se manifesta por meio do aumento da frequência miccional, da necessidade urgente de urinar e também da noctúria, termo usado quando a pessoa acorda no meio da noite para urinar.

O incômodo provocado pela síndrome não diz respeito apenas à frequência de ir ao banheiro. Seus sintomas levam muitas das pessoas que passam pelo problema a se isolarem socialmente, contribuindo inclusive para casos de depressão.

De acordo com o urologista e especialista em transplante renal, Rodrigo Rosa de Lima, o atraso na busca por tratamento é comum, o que piora o quadro. “Quase dois terços dos pacientes têm sintomas por mais de dois anos quando resolvem procurar ajuda. Mas, quanto antes o tratamento tem início, melhores são os resultados”, comenta.

O especialista destaca que a BH pode ter várias causas, inclusive de ordem neurológica, e seu diagnóstico é clínico, feito com base nos sintomas apresentados pelo paciente. Usa-se como parâmetro a necessidade de urinar muitas vezes de dia ou de noite, com ou sem urgência e/ou incontinência.

Assim, o especialista salienta que a conscientização sobre a BH é crucial para uma busca precoce por tratamento, melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes afetados por essa síndrome.

Existem diferenças significativas entre homens e mulheres. No caso dos homens, a bexiga hiperativa se torna mais prevalente após os 50 anos de idade, quando o aumento da próstata, comum nessa faixa etária, começa a impactar o órgão. Já em mulheres, a maior parte dos casos é idiopática, o que significa que não possui uma causa definida.

Além disso, nos homens, a síndrome costuma se apresentar de forma seca, ou seja, sem perda de urina na maioria dos casos, ao contrário do que acontece com as mulheres, mais afetadas pela chamada bexiga hiperativa úmida.

Tratamento urinário varia de acordo com o paciente

Entre as opções de tratamento, o especialista explica que o primeiro passo é a mudança comportamental. Se a pessoa acorda muitas vezes durante a noite para urinar, é orientado ao paciente que pare de ingerir líquidos pelo menos uma hora antes de dormir. Também é necessário evitar comidas e bebidas como café, refrigerante de cola, pimenta, chocolate, sucos cítricos, chá preto e chá verde, além do álcool e do cigarro, que são substâncias que aceleram o funcionamento da bexiga.

Se as mudanças comportamentais não promoverem as melhorias desejadas, o passo seguinte é o acompanhamento com fisioterapeuta, podendo ser antes do uso de medicamentos ou associado a eles desde o início. Por fim, se as etapas anteriores não funcionarem, o último estágio é a aplicação da toxina botulínica, a mesma substância utilizada no Botox.

“O mecanismo do tratamento é provocar a paralisia muscular localizada, sem afetar outros músculos ou órgãos vizinhos”, explica o urologista. “Isso promove o melhor controle urinário, o aumento da capacidade de armazenamento da bexiga e a diminuição de casos de urgência ou incontinência urinária”, explica.

No entanto, segundo o especialista, o efeito da toxina botulínica é transitório. Questões como o intervalo entre as aplicações e a quantidade a ser injetada devem ser avaliadas caso a caso. Além disso, o uso acarreta risco de retenção de urina em cerca de 5% dos pacientes, o que requer que seja feito cateterismo enquanto a substância estiver presente no organismo.

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