“Sangue Dourado”: saiba tudo do tipo sanguíneo mais raro do mundo

No Brasil, há apenas três pessoas cadastradas com esse tipo sanguíneo

Postado em: 29-04-2024 às 09h47
Por: Ronilma Pinheiro
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Devido à raridade desses tipos sanguíneos, pessoas com esse tipo de sangue enfrentam desafios para encontrar doadores compatíveis em caso de necessidade de transfusão | Foto: Pressmaster

Considerado o “santo graal” dos tipos sanguíneos, o sangue dourado, também conhecido como RH nulo, é uma raridade que desafia as estatísticas médicas. A hematologista Érika Paiva revela que menos de 50 pessoas por ano são identificadas como portadoras desse tipo sanguíneo em todo o mundo, tornando-o uma das condições mais incomuns já registradas.

No Brasil, essa raridade não é exceção. Segundo o Cadastro Nacional de Sangue Raro (CNSR), do Ministério da Saúde do Brasil, há apenas três pessoas cadastradas no país com esse tipo sanguíneo, destacando a importância de entender e abordar essa peculiaridade sanguínea.

Paiva explica que os portadores de sangue dourado enfrentam desafios únicos devido à vida média reduzida de suas hemácias, resultando em um certo grau de anemia. Esses indivíduos só podem doar sangue para outros com o mesmo fenótipo, e, da mesma forma, só podem receber sangue desse grupo específico. Essa restrição, decorrente da raridade do tipo sanguíneo, não apenas limita as opções de doação, mas também representa um risco significativo à vida caso seja necessária uma transfusão.

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A hematologista destaca a complexidade dos tipos sanguíneos, que são determinados pela presença de antígenos nas células vermelhas do sangue. Com 44 sistemas de grupos sanguíneos reconhecidos e mais de 300 antígenos identificados até o momento, a classificação sanguínea desempenha um papel crucial na segurança das transfusões. A compatibilidade sanguínea é essencial para garantir que os pacientes recebam os tipos corretos de sangue durante procedimentos médicos, evitando complicações graves.

Diante desse cenário, o estudo e a conscientização sobre os tipos sanguíneos, especialmente os raros como o sangue dourado, são fundamentais para garantir o acesso a transfusões seguras e eficazes. Os avanços na medicina transfusional continuam a desvendar os mistérios do sangue humano, oferecendo esperança e oportunidades para aqueles que dependem dessa vital fonte de vida.

Érika Paiva destaca a importância dos exames imunohematológicos tradicionais na detecção de tipos sanguíneos raros, como o sangue dourado. Paiva explica que o diagnóstico dessas condições é realizado através da observação da ausência de antígenos na membrana das células vermelhas, conhecidas como eritrócitos.

Devido à raridade desses tipos sanguíneos, Paiva ressalta o desafio de encontrar doadores compatíveis em caso de necessidade de transfusão para pacientes portadores dessas condições. Essa dificuldade adicional pode complicar ainda mais o tratamento médico desses indivíduos.

A especialista enfatiza a importância crítica da detecção precisa do tipo sanguíneo durante as transfusões. “A transfusão de sangue incompatível pode desencadear uma reação imunológica grave, pois o receptor pode produzir anticorpos contra as células do sangue do doador”, explica, ao destacar que esse cenário pode resultar em reações transfusionais adversas, com consequências potencialmente fatais.

Com base nessa lógica, Paiva destaca o papel dos portadores de sangue do tipo O negativo como doadores universais. “Esses indivíduos são considerados seguros para doar sangue para qualquer pessoa, pois suas células vermelhas não apresentam os antígenos A, B e RHD, tornando-as compatíveis com uma ampla gama de receptores”, salienta.

A médica chama atenção para a conscientização sobre a importância da identificação precisa dos tipos sanguíneos, especialmente os raros, que é fundamental para garantir transfusões seguras e eficazes, preservando a saúde e a vida dos pacientes.

Desafios e Importância da Doação de Sangue

A hematologista enfatiza ainda os desafios enfrentados por pacientes com tipos sanguíneos raros, como o RH nulo, destacando a dificuldade de encontrar doadores compatíveis em caso de necessidade de transfusão. Paiva reitera que, uma vez que esses pacientes só podem receber sangue de indivíduos com o mesmo tipo sanguíneo extremamente raro, enfrentam um grande obstáculo devido à escassez de doadores.

Além da questão da compatibilidade, Paiva também ressalta as dificuldades logísticas associadas ao transporte de sangue entre países e estados. “A falta de disponibilidade desse tipo de sangue em diferentes regiões pode complicar ainda mais o tratamento médico desses pacientes, tornando urgente a conscientização sobre a importância da doação de sangue”, alerta.

Paiva salienta que a doação de sangue é uma ação solidária crucial para salvar vidas. “Uma única doação pode beneficiar até quatro pessoas, e não há substituto para o sangue humano”. A falta de estoques adequados pode resultar na perda de vidas, especialmente em situações de emergência, como acidentes, cirurgias e queimaduras, além de pacientes com condições crônicas que requerem transfusões periódicas como parte de seu tratamento.

Assim, a especialista destaca a importância dos doadores com tipos sanguíneos RH negativo, como os O negativos e A negativos, que são considerados doadores universais e são vitais em situações de emergência, quando não há tempo para realizar a tipagem sanguínea do paciente. Apenas 9% da população brasileira possui esses tipos sanguíneos, tornando essas doações ainda mais essenciais.

Paiva também menciona que pacientes com RH nulo podem optar por armazenar seu próprio sangue como reserva para uso futuro, destacando a importância da conscientização e da ação contínua para garantir o suprimento adequado de sangue para todos que necessitam.

“Com a chegada do outono e inverno, períodos em que as infecções respiratórias aumentam, as doações de sangue tendem a diminuir, tornando ainda mais urgente o estímulo à doação durante todo o ano”, finaliza.

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