Teatro Goiânia passa por reformas e recebe auxílio da sociedade

Local conta com mais de 700 lugares e vem recebendo ajuda de empresários para contornar a crise. Teatro é considerado um ícone cultural de Goiânia

Postado em: 24-11-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Local conta com mais de 700 lugares e vem recebendo ajuda de empresários para contornar a crise. Teatro é considerado um ícone cultural de Goiânia

O Teatro Goiânia, um dos mais importantes pontos de expressão cultural de Goiânia, passa por pequenas reformas e recebe auxílio da sociedade civil para contornar a falta de recursos. O local já recebeu parte de pintura interna e trocou a iluminação da sala com ajuda de empresários locais.

Durante a última reforma, realizada em 2011, o prédio recebeu pintura interna e externa de acordo com as cores originais da construção, ou seja, em três tonalidades de cinza. As poltronas, o piso e as vestimentas do palco foram substituídas e os banheiros para cadeirantes, além da acessibilidade total para a plateia fizeram parte das mudanças estruturais. Apesar disso, o local já sofre com a ação do tempo, apresentando falhas na pintura interna e externa, além de ferrugem nas portas.

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De acordo com a coordenadora do espaço, Sônia Maria Araujo, o Teatro recebe constantes investimentos da iniciativa privada. “O Estado tem um papel fundamental, mas recebemos ajuda também de empresários e iniciativa privada, principalmente quando é algo menor como uma parte da pintura ou a compra de lâmpadas”, conta.

O local tem passado por adequações que visam seguir orientações do Corpo de Bombeiros. “Qualquer alteração tem de ser mínima, devido o prédio ser tombado. Por exemplo, o Corpo de bombeiros pediu a fixação de barras de segurança nos dois lados das escadas e um sistema de detecção de incêndios, nós colocamos, mas tivemos de obedecer à uma escolha de materiais o mais parecido possível com o original”, completa.

Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ainda em 2003, o teatro possui hoje cerca de 1.500 metros quadrados e uma capacidade para 718 pessoas. Para o atual superintendente de ação cultural da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte (Seduce), Nasr Chaul, o local é a expressão de um dos mais importantes momentos de Goiânia. “O que é icônico no Teatro Goiânia é que ele, junto com os três prédios da Praça Cívica, forma historicamente uma expressão do estado novista. Era uma época extremamente centralizadora politicamente, com Stalin, Hitler e o próprio Getúlio Vargas. Aqui temos as principais avenidas convergindo para o poder político e o teatro nasce como um ícone cultural da criação da Capital”, afirma.

Outra preocupação da gestão do local é a segurança. O teatro contava com videomonitoramento, que deixou de ser realizado devido à falta de pagamento da empresa contratada. Hoje, segundo a coordenadora, apenas dois seguranças fazem rondas alternadas. “Tenho dois guardas, um para cada período que fazem a segurança de toda a área”, completa.

História

Criado como Cine-Teatro Goiânia, o local foi inaugurado em julho de 1942 como o ponto de batismo cultural da cidade. Inicialmente funcionou mais como cinema do que teatro, devido às dimensões do palco que não suportava espetáculos de grande porte. “Como sala exibidora de filmes que o Cine-Teatro Goiânia atingiu sua fase áurea na década de 40. Além de contar com moderna aparelhagem cinematográfica (equipamentos importados, o que havia de mais sofisticados na época), acomodações confortáveis, o espaço que passou a ser conhecido apenas como Cine Goiânia mantinha programação de filmes nacionais e estrangeiros em sintonia com o eixo Rio-São Paulo”, afirma a Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte (Seduce).

Após os anos de 1950, quando Goiânia chegou a ter mais de 20 salas específicas para a apresentação de filmes, o número de espectadores caiu e o cinema passou por um processo de abandono. Segundo os pesquisadores Beto Leão e Eduardo Benfica, no livro Goiás no Século do Cinema, o fechamento das salas em todo o país teve uma relação direta com a chegada da televisão. “É sintomático que o princípio da decadência dos cinemas brasileiros tenha se dado justamente a partir da década de 1960, quando a televisão começou sua consolidação, uma vez que a TV passou a proporcionar aos brasileiros um entretenimento mais barato, e geralmente de alta qualidade técnica, no conforto de suas casas”, completam.

O espaço, até então utilizado como ponto de encontro por intelectuais, artistas e personalidades políticas, foi deixado de lado e o edifício sofreu com rachaduras, encanamento comprometido, cortinas, poltronas, carpetes destruídos e equipamentos estragados, incluindo camarins e banheiros.

Em 1976 o local foi fechado para reforma. Os engenheiros Aldo Calvo e Igor Iresnewsky foram os responsáveis pelas obras e a preocupação era adaptar o prédio para abrigar espetáculos teatrais. Na época foram trocados o telhado, a tubulação, o calçamento, as luminárias internas, com as paredes recebendo tratamento especial dos restauradores que fizeram um criterioso trabalho de prospecção para chegar à pintura original. Além disso, as cortinas, os carpetes e as poltronas foram substituídas, o piso do palco foi trocado e novos equipamentos cenotécnicos foram adquiridos. A obra do Teatro Goiânia custou R$ 817.257,00 com boa parte do valor proveniente da iniciativa privada. 

Patrimônio histórico

Além do Teatro Goiânia, a capital possui edifícios e uma região tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O Museu Professor Zoroastro Artiaga, construído em 1942 pelo engenheiro polonês Kazimiers Bartoszevsky para sediar o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), o conjunto Arquitetônico e Urbanístico Art Déco do centro da cidade e o Centro Cultural Oscar Niemeyer são apenas alguns. A prefeitura também possui locais tombados como patrimônio histórico e cultural, são casos da Antiga sede do Fórum e da Prefeitura Municipal de Campinas e do antigo Palace Hotel.

Um dos edifícios históricos mais emblemáticos da capital é a antiga Estação de Trem, que está localizada próxima à rodoviária de Goiânia e está passando por um processo de reforma total. O local foi inaugurado em 1950 e funcionou até a década de 1980, recebendo trens de cargas e passageiros da Estrada de Ferro Goyaz. Ela é um dos mais importantes edifícios representativos do Acervo arquitetônico e urbanístico Art Déco de Goiânia, tombado pelo Iphan desde 2002.  O pavimento central do edifício possui dois relevantes afrescos de autoria de Frei Nazareno Confaloni, pintor e muralista, reconhecido como pioneiro da arte moderna em Goiás. Tombado em 2003, o Acervo Arquitetônico e Urbanístico Art Déco de Goiânia é um dos mais importantes e representativos do mundo. O conjunto possui 22 edifícios e monumentos públicos, concentrados no centro da cidade. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian).

 

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