Bebês lutam para sobreviver em UTIs em meio à crise de doenças respiratórias

Devido à alta demanda, o Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), bem como as unidades de saúde dos municípios estão com superlotação

Postado em: 04-05-2024 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Bebês lutam para sobreviver em UTIs em meio à crise de doenças respiratórias
Adriela conta que os sintomas do Heitor surgiram de uma gripe que logo se agravou para um quadro mais grave | Foto: Leandro Braz/O Hoje

As doenças respiratórias em crianças têm sobrecarregado o Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiás nesse período de sazonalidade, onde aumenta a circulação de vírus causadores desses problemas de saúde, como é o caso do vírus Sincicial Respiratório. Devido à alta demanda, o Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), bem como as unidades de saúde dos municípios estão com superlotação.

Enquanto aguardam por atendimentos, as crianças enfrentam diferentes dificuldades. O pequeno Heitor tem 1 mês e 21 dias de vida apenas, mas enfrenta batalhas para sobreviver desde os primeiros 15 dias de vida. De acordo com a mãe, Adriela Cristina da Silva, 18 anos, os sintomas surgiram a partir de uma gripe que logo se agravou para um quadro mais grave.

O bebê foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Anápolis, onde a família mora. Lá, Heitor passou por lavagens e retornou para casa, quando outros sintomas começaram a aparecer. “Ele começou a ficar cansado e quando retornamos ao médico, foi constatado que ele já estava com a saturação baixa”, lembra a mãe.

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O quadro de saúde do pequeno, diagnosticado com bronquiolite e com o vírus Sincicial Respiratório, continuou se agravando até que ele precisou ser entubado ainda em Anápolis. Posteriormente, o bebê foi encaminhado para o Hecad, em Goiânia, onde está internado na Unidade de Terapia Intensiva, mas já passou pela extubação.

Assim como Heitor, a pequena Ayla Gabriela, de apenas 43 dias de vida, também luta contra a bronquiolite na UTI do Hecad. Paulo Junior Francisco Santos, 23 anos, pai da menina que luta para sobreviver, contou à reportagem do jornal O HOJE, que a filha deu entrada no hospital de Anápolis com insuficiência respiratória.

O pai lembra que desde que a filha nasceu, ele e a mãe a levava periodicamente ao pediatra, que sempre falou que a menina estava bem e que o problema de saúde poderia ser apenas uma rinite. Porém, os sintomas continuaram. Ayla começou a ficar cansada e ter dificuldades para respirar. Depois disso, não havia mais dúvida, a pequena estava com bronquiolite.

Com agravamentos no pulmão, a bebê foi entubada, após ter duas paradas cardiorrespiratórias. Nesta sexta-feira (03), fez 23 dias que Ayla está internada na UTI. Atualmente, a menina está entubada, devido a instabilidade causada pelas lesões no cérebro em decorrência das paradas cardiorrespiratórias que sofreu.

“A minha filha só está viva por um milagre de Deus”, comenta Paulo Junior, enquanto lembra do quão foi difícil achar uma vaga de UTI para a filha no Hecad, devido à superlotação.

A pequena Ana Vitória, de apenas um mês de idade, também se encontra no centro da batalha contra a condição grave. Maria Aparecida, mãe da bebê, compartilhou sua jornada de preocupação e esperança enquanto sua filha enfrenta os desafios da bronquiolite e suas consequências.

Os primeiros sinais de alerta surgiram há cerca de 20 dias, quando a menina começou a apresentar sintomas como corrimento nasal e dificuldade respiratória. Maria, então, a levou ao Cais de Campinas, onde foi informada de que se tratava apenas de uma virose leve e foi recomendado lavar o narizinho da bebê.

No entanto, a situação se deteriorou rapidamente e, uma semana depois, Ana Vitória foi levada novamente ao hospital com sintomas mais graves. Após alguns exames, o médico revelou que ela estava sofrendo de bronquiolite, uma condição respiratória que, em seu caso, evoluiu para pneumonia.

O estado de Ana Vitória se agravou ainda mais, levando-a a sofrer uma parada cardíaca e uma série de complicações respiratórias. Ela foi entubada e passou por um processo de luta pela vida que durou três dias. Apesar dos esforços da equipe médica, sua garganta inflamada exigiu que ela fosse entubada novamente.

Maria compartilhou sua angústia enquanto sua filha passava por duas paradas cardíacas, uma parada respiratória, hipoxemia e convulsões. Ela destacou a gravidade da situação, enfatizando que várias crianças já perderam suas vidas devido à bronquiolite.

Atualmente, Ana Vitória está internada no Hecad e apesar dos desafios enfrentados, a mãe expressou sua gratidão por ainda ter sua filha lutando pela vida, ressaltando a estabilidade recente de Ana Vitória e os cuidados de ‘qualidade’ recebidos da equipe médica.

Enquanto o pai e as mães cuidam dos bebês na UTI, em casa, a família aguarda ansiosamente o dia em que os pequenos poderão finalmente retornar para casa.

57% da UTI possui bebês em tratamento de bronquiolite 

O pediatra e diretor técnico do Hecad, André Resende, alerta para os sintomas iniciais da bronquiolite, uma condição respiratória comum em crianças menores de 2 anos. Ele explica que os sinais começam como um resfriado comum, com secreção nasal, tosse e febre, mas podem evoluir para complicações como dor de cabeça, dor de ouvido, dificuldade respiratória e persistência da febre.

O diagnóstico da bronquiolite é predominantemente clínico, baseado na história do paciente e no exame físico, incluindo ausculta dos pulmões e avaliação da saturação de oxigênio do sangue. Exames adicionais, como radiografia de tórax e testes para identificar o agente causador, são solicitados em casos de suspeita de complicações.

Resende destaca a falta de um medicamento específico para tratar a bronquiolite, sendo o tratamento baseado em terapia de suporte, como fornecimento de oxigênio, fisioterapia respiratória, lavagem nasal e medicamentos para controle da febre e da dor. A lavagem das mãos, evitar contato com crianças doentes e ambientes fechados são medidas preventivas importantes.

O desconforto respiratório é uma das principais preocupações na bronquiolite, podendo requerer suplementação de oxigênio, desde métodos simples, como o cateter nasal, até ventilação mecânica em casos graves. A condição é autolimitada, geralmente durando entre 7 e 14 dias, e crianças com histórico de bronquiolite devem ter acompanhamento pediátrico regular.

O médico ressalta que os sinais de alerta incluem febre persistente por mais de 72 horas, desconforto respiratório e incapacidade de ingestão de líquidos, indicando possíveis complicações como pneumonia e desidratação.

“A consulta regular com o pediatra é essencial para orientação e acompanhamento da saúde infantil, incluindo hábitos de higiene e estilo de vida saudáveis”, orienta o especialista, ao destacar que em casos complexos, encaminhamentos para especialistas podem ser necessários.

O Hospital informou que neste momento 57% dos nossos leitos de UTI estão ocupados com crianças com síndromes respiratórias graves. O Hecad atendeu nos últimos dois meses mais de 4 mil crianças com doenças respiratórias no Pronto Socorro.

O Hecad orienta que a população busque os primeiros atendimentos nas unidades de saúde dos municípios, para evitar superlotação no hospital estadual que lida com casos mais graves de saúde.

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