Aparecida detecta 196 nascentes d’água degradadas por ações humanas

Como exemplo, grande parte das nascentes do município de Aparecida de Goiânia estão em risco pela grande degradação causada pelas ações humanas

Postado em: 06-05-2024 às 10h00
Por: João Victor Reynol de Andrade
Imagem Ilustrando a Notícia: Aparecida detecta 196 nascentes d’água degradadas por ações humanas
Das 305 nascentes do município, 196 estão com problemas no corpo hídrico e precisam de recuperação | Foto: Wesley Costa

As milhares de nascentes de água que existem em Goiás são partes importantes dos recursos hídricos do estado, como seu próprio nome já diz, são onde começam os cursos de muitos rios e lagos. Contudo, hoje muitos destes locais estão debaixo de grandes centros urbanos que colocam em risco a quantidade e a qualidade da área gerada destes locais, podendo arriscar o futuro da disponibilidade hídrica de muitas comunidades. 

Como exemplo, grande parte das nascentes do município de Aparecida de Goiânia estão em risco pela grande degradação causada pelas ações humanas. De acordo com um estudo de catalogamento e georreferenciamento elaborado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Aparecida (Semma), das 305 nascentes do município, 196 estão com problemas no corpo hídrico e precisam de trabalhos de recuperação. 

Esta grande quantidade de olhos d’ água degradadas também pode colocar em risco o futuro da reserva hídrica do próprio município. De acordo com a pasta, cerca de 40% do abastecimento do município vem da região da Serra das Areias, local repartido por terras particulares e zonas de área de proteção ambiental. Enquanto isso, os outros 60% são de córregos derivados da bacia do João Leite, como o córrego santo antônio, o lages e o pipa.

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De acordo com a titular da pasta, Valéria Pettersen, em entrevista para o jornal O HOJE, estas nascentes degradadas localizadas no município são em grande parte dentro de propriedades privadas, que dificultam a atuação mais incisiva do poder municipal. Por causa disso, contam que estão em fase inicial de uma operação de cunho educativo para os detentores de terras dessas nascentes para o maior controle e preservação destes locais. 

“Nós georefenciamos todas as nascentes do estado e determinamos as que necessitam de um trabalho. Mas, este esforço não deve surgir apenas da prefeitura, os particulares que possuem nascentes nas suas terras necessitam se empenhar”, disse a titular. 

Além disso, esta missão da prefeitura tem objetivo de divulgar a recuperação correta das nascentes bem como as áreas verdes da cidade. Conta que proprietários de terra têm utilizado materiais de construção civil perto de nascentes para proteger o curso da água, mas que isso está prejudicando essas áreas que já são frágeis por natureza. 

“Vamos alertar os proprietários de terras a fazer o trabalho da forma correta, de informar o que se deve fazer e o que não pode. Porque quando algo não é feito corretamente temos que penalizar com a multa e ninguém gosta disso”, afirma a secretária.

Mas não é todo caso negativo, como Valéria comenta, existem particulares com fontes hídricas que fazem a própria iniciativa privada com a recuperação nas suas próprias terras. Uma dessas pessoas é Paulo Roberto Brandão, jornalista, ambientalista e dono da Reserva Ambiental Santuário Ecológico Veiga Jardim, de acordo com ele, para o jornal O HOJE, já plantou mais de 35 mil árvores na sua área nos mais de 30 anos de trabalho, ao qual designou sua área como Área de Preservação Permanente Ambiental (APP). “Aqui na minha área tem umas sete nascentes e faço minha parte para protegê-las. Só ontem, por exemplo, eu plantei 60 palmeiras de espécie nativa aqui na região”.

Para Nathália Araújo, Engenheira Ambiental e Sanitária, a interferência das nascentes pelo desenvolvimento urbano é algo inevitável, por isso fala da necessidade de uma expansão em novos métodos urbanos sustentáveis com o meio ambiente e o desenvolvimento econômico. Caso isso não ocorra, diz que pode haver consequências graves para qualquer região afetada como: A redução do fluxo de água; A perda da qualidade da água comprometida; A perda de biodiversidade; A erosão do solo e principalmente as alterações no ciclo hidrológico (o que afeta os padrões de precipitação, escoamento e recarga de aquíferos, afetando diretamente nos efeitos climáticos).

Além disso, diz de técnicas modernas para a recuperação das nascentes afetadas para retornarem ao estágio que estavam anteriormente da interferência humana. “O mais importante é respeitar a distância mínima exigida por lei, em seguida o isolamento da área, a recuperação florestal por meio de plantio compensatório ou enriquecimento das espécies de flora, sendo necessário em alguns casos o desassoreamento das nascentes e até mesmo a contenção de erosões”, afirma a especialista.

Um esforço nacional da preservação de nascentes 

Apesar dos potenciais danos vistos nas nascentes de Aparecida, este problema não é algo recente e apenas do município. Como conta o Perito Ambiental do Ministério Público de Goiás (MP-GO) e professor de Engenharia Ambiental do Instituto Federal de Goiás (IFG) Viniciu Fagundes, todas as capitais do País sofrem com este problema que já é de cunho histórico. 

Apesar disso, fala que o Brasil possui um arcabouço legal do meio ambiente forte e de comparação com nações mais avançadas no cunho ambiental, forte o bastante para resolver parte do problema. Porém, o governo brasileiro ainda não possui uma força de trabalho o suficiente para executar o que está previsto nas leis. 

Como mencionado, já há projeto de cunho estadual para recuperar os rios e as nascentes de rios importantes, mas ainda são muitos poucos projetos nesse âmbito para reverter uma possível crise hídrica. “Muitas cidades na europa, por exemplo, já resolveram esse problema a décadas atrás. Mas aqui no nosso País só estamos começando por agora com projetos como a recuperação do Tietê, em São Paulo, e do rio Araguaia, aqui em Goiás”, afirma o especialista.
Para ele, afirma que este trabalho não deve vir apenas de uma iniciativa do poder público, mas da sociedade também, já existem Organizações Não Governamentais (ONGs) que executam projetos deste cunho, mas que ainda são muito limitados nas suas ações. Enquanto a educação ambiental é importante e um primeiro passo para a reversão do problema, diz que não é o bastante por agora por se tratar de uma questão de urgência para assegurar o futuro da disponibilidade e qualidade hídrica do Brasil. (Especial para O Hoje)

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