Mulher que quase foi morta e queimada pelo ex-marido luta contra violência doméstica

Em uma narrativa franca e tocante, ela detalha os eventos que a levaram à beira da morte e sua busca por justiça e recuperação

Postado em: 13-05-2024 às 10h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Mulher que quase foi morta e queimada pelo ex-marido luta contra violência doméstica
Enicléia Morais é mestre em Desenvolvimento Regional, atuou como Coordenadora Regional de Educação de Goiânia | Foto: Leandro Braz / O Hoje

Enicléia Morais é uma mulher forte e empoderada. Ela é mestre em Desenvolvimento Regional, atuou como Coordenadora Regional de Educação de Goiânia, é professora de Língua Portuguesa e atua na rede estadual de ensino há 25 anos. Como se não bastasse, Enicléia também é ativista na causa da mulher e Idealizadora do Projeto de Escuta Ativa nas Escolas Estaduais, onde desenvolve trabalhos voltados para a prevenção da  violência contra esse gênero.

Mas nem sempre foi assim. Em um relato que mescla coragem, determinação e a dolorosa realidade da violência doméstica, Enicleia Morais compartilhou com a reportagem do jornal O HOJE, sua jornada de sobrevivência após ser vítima de uma tentativa de feminicídio perpetrada por seu ex-companheiro em 2018. Em uma narrativa franca e tocante, ela detalha os eventos que a levaram à beira da morte e sua busca por justiça e recuperação.

A história de Enicleia começa em um momento de aparente tranquilidade em sua própria casa, onde ela foi surpreendida pela presença de seu ex-companheiro armado com um revólver, um garrafão de gasolina e uma caixa de fósforos. O relato minucioso da mulher é capaz de transportar quem a ouve para dentro daquele momento de terror, onde a vida dela estava por um fio.

Continua após a publicidade

Diante da iminência do perigo, Enicleia descreve os sentimentos conflitantes que a dominaram: o medo paralisante, a incerteza sobre como agir e a esperança de sobreviver. Em meio às ameaças de morte proferidas por seu agressor, ela busca desesperadamente encontrar uma saída, negociando com ele e tentando acalmar seus ânimos para evitar uma tragédia ainda maior.

Naquela noite, 9 de janeiro de 2018, após conversas e tentativas de convencimento por parte da vítima de que ainda havia esperança para a relação, finalmente, Enicléia conseguiu convencer o agressor de que eles ainda poderiam ser felizes como um casal.

No entanto, mesmo após sobreviver ao episódio traumático, Enicleia enfrentou uma longa jornada de recuperação física e emocional. Ela revela como as sequelas da violência se manifestaram em sua saúde, levando-a a enfrentar problemas graves que exigiram intervenções médicas drásticas, como a retirada de seu útero.

“A perda de meu útero representou não apenas uma intervenção cirúrgica dolorosa, mas também uma perda simbólica de minha feminilidade e da capacidade de ter filhos”, confessa Enicleia, ao lembrar que naquela noite foi estuprada pelo ex-marido e falar do profundo impacto emocional que a violência teve em sua vida.

Apesar dos desafios, Enicleia encontrou forças para buscar justiça e proteção, denunciando seu agressor às autoridades e procurando apoio junto à rede de assistência a vítimas de violência doméstica. O homem ficou preso por pouco tempo e logo foi solto enquanto o processo corria na justiça. Ao saber da liberdade do agressor, o medo tomou conta da mulher.

Ela lembra de quando procurou a promotora de Justiça Rúbian Corrêa Coutinho, desesperada, para saber o que poderia ser feito naquela situação. Na época, a solução foi o “botão do pânico’, ferramenta que complementa o sistema de segurança, pois possibilita que uma pessoa agredida, ameaçada ou furtada encontre socorro sem se colocar em risco. Apesar disso, Enicleia só pode respirar aliviada, quando o ex-companheiro foi condenado a nove anos de prisão.

Atualmente,  Enicleia compartilha com outras pessoas, sua trajetória de sobrevivência, de resiliência e determinação. Ela se torna um exemplo inspirador para outras vítimas de violência doméstica, mostrando que é possível superar adversidades e encontrar esperança mesmo nos momentos mais sombrios.

Ao compartilhar sua história, Enicleia não apenas busca justiça para si mesma, mas também levanta a voz em solidariedade a todas as mulheres que enfrentam a violência doméstica. Sua coragem e determinação são um lembrete poderoso da importância de se unir em apoio mútuo na luta contra o abuso e a opressão.

Enicleia encerra seu relato com uma mensagem de esperança, lembrando a todas as vítimas de violência doméstica que elas não estão sozinhas e que há ajuda disponível. Sua voz ressoa como um chamado à ação, instando a sociedade a se mobilizar e a tomar medidas concretas para proteger e empoderar as mulheres, garantindo-lhes o direito fundamental à vida e à dignidade.

Em entrevista exclusiva, a Promotora de Justiça Rúbian Corrêa Coutinho, da cidade de Goiânia, compartilhou esforços sobre as medidas adotadas pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) para amparar mulheres vítimas de violência doméstica.

Coutinho ressaltou a amplitude do problema da violência doméstica e familiar contra a mulher e enfatizou o compromisso do MP em oferecer apoio e proteção às vítimas. Ela explicou que, ao procurarem ajuda, as mulheres podem contar com medidas como a solicitação de medidas protetivas, orientações jurídicas e até mesmo ações mais drásticas, como a prisão preventiva em casos extremos.

Além das medidas jurídicas, Coutinho destacou a importância do encaminhamento das vítimas para serviços de assistência social, saúde e jurídica, visando garantir não apenas a proteção imediata, mas também o suporte necessário para romper o ciclo da violência.

O MP-GO conta também com a colaboração de outras instituições, como a Guarda Civil Metropolitana e o Batalhão Maria da Penha da Polícia Militar, que trabalham em conjunto para garantir a segurança das vítimas e o cumprimento das medidas protetivas.

O Ministério Público recebe denúncias e oferece apoio através de diversos canais de comunicação, incluindo a Ouvidoria da Mulher, telefones institucionais e de forma presencial. (Especial para O Hoje)

Veja Também