Hugol atende 32 crianças por mês vítimas de queimaduras em Goiânia

Cerca de metade dos internos da pediatria de trauma do Hugol são por conta de queimaduras

Postado em: 13-05-2024 às 11h00
Por: João Victor Reynol de Andrade
Imagem Ilustrando a Notícia: Hugol atende 32 crianças por mês vítimas de queimaduras em Goiânia
Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) é referência estadual no tratamento, recebendo pacientes de outros estados | Foto: Divulgação

Um tipo de acidente comum, que é evitável, e que tem grandes chances de ser fatal, leva dezenas de crianças todos os meses para unidades de saúde em Goiânia. Atualmente, os acidentes com queimaduras são uma fonte recorrente de internações hospitalares na área da pediatria. Esses pequenos que, por vez, podem ficar meses nos hospitais da Capital seguindo tratamentos extensivos e dolorosos das equipes médicas dependendo do tipo da ferida. Além disso, ocorre um padrão de aumento de casos desse tipo de internação nos primeiros meses do ano.

Como foi apurado com exclusividade pela equipe de reportagem do jornal O HOJE com dados cedidos pelo Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), nos primeiros quatro meses de 2024 foram, ao todo, 126 crianças hospitalizadas com uma média de 32 casos por mês. Sobre isso, houve um aumento percentual de 31% se comparado com o mesmo período do ano de 2023, com foram 96 internações com uma média por mês de 24 casos. 

Para a médica e coordenadora da área pediátrica do Hugol, Teresa Saddhi, em entrevista para o jornal O HOJE, este aumento de casos pode ser motivado pelo cotidiano cada vez mais acelerado juntamente com a acessibilidade do mundo digital que leva a uma diminuição do foco parental. Por outro lado, comenta como ocorre uma sobrecarga doméstica dos cuidados com as crianças. 

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“Estamos vivendo cada vez mais em uma era acelerada, com falta de foco, principalmente com o uso excessivo de celulares. Além disso, nos deparamos muito com famílias composta apenas por uma mãe e várias crianças, sem suporte familiar de outro adulto, que leva o esgotamento emocional e a falta de atenção”, diz a especialista.

Essa combinação favorece um cenário cada vez mais provável de acidentes dentro de casa. Como comenta, cerca de metade das crianças admitidas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hugol são por decorrência de casos de queimaduras. Sobre isso, fala como grande parte dessas entradas são queimaduras extensas por escaldadura, ou seja, o derramamento de água fervendo no pequeno. Esses casos graves correspondem a cerca de um terço dos internos no hospital, cerca de 10 a cada 20 ocorrências mensais, mas fala que a equipe atende todo tipo de queimadura.

“Internamos muitos bebês abaixo de 2 anos que  esbarram ou puxam os cabos das panelas no fogão e acabam se queimando. Também é bem frequente as queimaduras por álcool, como em tentar acender uma churrasqueira ou fogueira”.

Por causa do organismo das crianças estar em fase de desenvolvimento, fala como há uma maior chance de fatalidade e de sequelas associadas a queimaduras mais graves. Contudo, diz como o trauma psicológico pode também afetar o desenvolvimento dos pequenos. “As sequelas  psicológicas são muito mais impactantes devido a internação prolongada, uso de analgésicos para amenizar a dor e o trauma do próprio acidente. Inclusive influenciam a longo prazo e causam até déficit cognitivo e depressão”, fala como em casos mais graves pode haver a internação de até 45 dias do paciente.

 Esta grande presença de casos em crianças também ocorre em outras instituições médicas na Capital. De acordo com a médica intensivista do Pronto Socorro de Queimados em Goiânia, Mônica Piccolo, para O HOJE, cerca de 40% dos pacientes da instituição também são crianças. Assim como Teresa, Mônica relata como grande parte das admissões que recebe tiveram origem na cozinha pela falta de atenção dos pais na área. 

Para ela, esta parte da casa deveria ser proibida para os menores pela grande quantidade de materiais que podem machucar as crianças. Conforme diz, a superfície proporcional das crianças é maior que a dos adultos e pode causar mais danos no corpo dela. Em outras palavras, a mesma quantidade de água que queima uma parte da mão do adulto pode queimar a mão inteira do menor. 

Outro alerta que diz é com o álcool dentro de casa, de acordo com ela, é preferível a sua ausência com crianças nas casas. “A pandemia do Covid-19 de 2020 normalizou a gente ter álcool dentro de casa. Mas isso não pode acontecer, é um material muito flamejante, até uma pequena quantidade pode causar queimaduras sérias na pessoa”.

Correlata

Uma ação em prol da mudança e segurança 

Além de intensivista, Mônica Piccolo é professora de Cirurgia Plástica da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pelos últimos seis anos fez campanhas de prevenção de queimaduras em várias instituições de ensino de Goiânia como parte de um projeto de extensão da faculdade. Como objetivo, faz um alerta aos alunos da rede pública e particular dos perigos de feridas por queimaduras neste mês de maio que antecede o Dia Nacional de Luta contra Queimaduras do Ministério da Saúde, no dia 6 de junho. Como diz Mônica, a única cura para a queimadura é a prevenção, para que não ocorra.

A última ação ocorreu nesta quinta-feira (9) no Colégio Fundamental Arena, com palestras e atividades para os alunos do 8º ano. Segundo o professor de biologia da instituição que acompanhou Mônica, Renato Oliveira, foram cinco salas atendidas com aulas expositivas. Foram, em média, 170 alunos que acompanharam as ações naquele dia. 

De acordo com o professor, esta foi a primeira atividade deste tipo na escola e os alunos que acompanharam se mostraram interessados na aula, abrindo uma oportunidade de continuação do projeto para futuros. “A ação pedagógica tem como intuito mostrar o quanto esses acidentes são comuns na população e busca evitar algumas situações de risco à população em geral”, diz o professor. (Especial para O Hoje)

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