139 mil pessoas estão sequeladas por acidentes de trânsito

As vítimas encontram-se sem seguro, já que o Dpvat foi suspenso por falta de fundos para pagamentos. Um novo projeto (Dpvat) está em fase de votação

Postado em: 15-05-2024 às 08h00
Por: Redação
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Emilia Costa perdeu o movimento das pernas após se envolver em um grave acidente de trânsito provocado por um motorista embriagado | Foto: Leandro Braz/O Hoje

Thais Teixeira

Uma dolorosa realidade assola o Brasil: 139 mil pessoas estão enfrentando sequelas permanentes devido a acidentes de trânsito, revela um recente levantamento estatístico do Detran Goiás. Em 2023, cerca de 253 pessoas morreram em acidentes ocorridos em Goiânia. No total foram registradas 32.447 colisões, com 48.899 veículos envolvidos e 49.207 ferido-ilesos. 

Maria Clara entrou para a estática de pessoas acidentadas recentemente, ela conta que estava na garupa da moto e devido ao mato alto o condutor do carro não conseguiu enxergar a motocicleta. “Estávamos em um cruzamento e pelo mato alto  o carro não nos viu e então houve uma colisão direta com o pára-choque do carro e minha perna, minha perna foi amputada pois não teria como recuperar.”

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A designer de sobrancelhas ficou mais de 28 dias no hospital, e atualmente está se recuperando para começar a usar a prótese. “Minha rotina está voltando ao normal aos poucos e estou me acostumando com essa nova rotina, está sendo desafiador porém muito gratificante”, relata Maria.

Essas 139 mil pessoas que tiveram sequelas em decorrência de colisões automobilísticas foram contabilizadas nos últimos três anos. Desse total, 70% dos acidentes aconteceram com motociclistas, e outros 30% com veículos de passeio, ciclistas e pedestres.

A vida do Eduardo Cordeiro também virou do avesso devido a um acidente de trânsito em 2015. Ele explica que estava em uma motocicleta, como garupa, e ficou paraplégico após ser atingido em cheio na batida. Atualmente, o jovem joga basquete, e o que era uma válvula de escape no início da readaptação, tornou-se crucial na reabilitação de Eduardo.

“Tenho 27 anos de idade, e há 9 anos, fiquei paraplégico devido um acidente de trânsito no qual eu estava em uma motocicleta de garupa e fomos atingido por um carro ,desde então tive que me adaptar como uma pessoa com mobilidade reduzida, utilizando cadeira de rodas”, exemplificou Eduardo, mostrando como o trânsito é agressivo e perigoso.  

“Hoje graças a Deus minha vida continuou, tive a oportunidade conhecer o basquete em cadeira de rodas no mesmo ano em que me lesionei , por um convite feito por um ex atleta que me viu na cadeira de rodas fazendo reabilitação no crer, a princípio era pra mim uma válvula de escape, foi crucial no minha reabilitação pessoal e social”, diz o jovem. 

Eduardo pontuou ainda que o esporte paralímpico, além de trazer autonomia à pessoa com deficiência, também ajuda em questões como confiança e também abre portas. “O esporte paralímpico trás para pessoa com deficiência aquela autonomia de novo, aquela confiança que talvez lhe faltava em algumas circunstâncias devido sua condição atual,onde o esporte além de reabilitar te abre inúmeras portas que talvez você não conhecesse antes de sofrer uma lesão”, conta.

“Com tudo hoje só tenho a agradecer a Deus por tudo feito em minha vida porque nada acontece se não for da vontade dele , hoje tenho minha carteira assinada. Levo o basquete como esporte de alto rendimento que já me fez conseguir chegar até a seleção paralímpica da modalidade que é o ápice dela”, completou Eduardo. 

Ana Caroline de Araújo, de 25 anos, também tornou-se parte das estatísticas de vítimas sequeladas pelo trânsito. Ela ficou paraplégica após um acidente de carro em agosto de 2022. “Eu havia concluído minha graduação em direito, e minha família veio de mudança para o interior de Goiás, e vim meses depois. Fui para São Miguel do Araguaia, onde era o combinado que iria residir, já que estava inscrita para fazer a prova da OAB em outubro, no mesmo ano do meu acidente”.

“No dia 03 de setembro de 2022 minha vida mudará da água pro vinho, queriam me levar para acampar e conhecer o rio Araguaia, os parentes do meu padrasto estavam muito animados com isso, organizamos tudo, e pegamos a estrada, eram dois carros um gol e um prisma, eu estava no prisma, junto com meu irmão no banco de trás e o casal de tios do meu padrasto que iam dirigindo e de copiloto”, relata a advogada.

“O tio do meu padrasto perdeu o controle do carro duas vezes, na segunda vez ele não conseguiu estabilizar e a carretinha lançou o carro em um poste de fio de alta tensão, que faiscaram e acometeu fogo em toda vegetação seca. Enquanto isso acontecia, eu estava dentro do carro presenciando o capotamento, lúcida e acordada, meu irmão estava no banco do meio do passageiro o cinto de segurança era apenas aquela faixa”, conta com detalhes do ocorrido.

“Capotamos em uma ribanceira de 3 metros, quando o carro parou minhas pernas já haviam parado, lesionou a medula nível T1, fiquei paraplégica, o tio do meu padrasto faleceu na hora, e meu irmão e a esposa do tio ficaram ilesos”, detalha Ana Caroline. 

A advogada conta que após o acidente percebeu o quanto é sério ter noções de trânsito, ser habilitado e seguir a legislação à risca. “Os meus sonhos não morreram, porém hoje me encontro em recuperação, sofro com muitas dores neuropáticas, mas isso não me impede de viver, sou muito grata ao maior dom que temos que é o da vida. Em um piscar de olhos tudo muda, por isso, tenha cuidado no trânsito”, conscientiza. 

Acidentados sem Dpvat

O Dpvat era um seguro obrigatório criado em 1974 com o intuito amparar e indenizar vítimas de acidentes de trânsito em todo o Brasil. O seguro indenizatório é fornecido em situações de morte, reembolso de despesas hospitalares e médicas, e por invalidez parcial ou total. 

A cobrança do seguro era feita anualmente de todos os condutores de veículos. Em 2021 anulada, já que, a Caixa Econômica Federal que assumiu a gestão dos pagamentos informou que havia um fundo excedente de 4,3 bilhões que permitia o pagamento de seguro das vítimas de acidentes.Porém, por falta de fundos para pagamento, o seguro foi suspenso em novembro de 2023. 

O novo projeto de reformulação, Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes  de Trânsito (Spvat)  já tinha sido aceito pela Câmara dos Deputados e nesta terça-feira (07) de maio foi aprovado por votação na CCJ do senado. Agora, a proposta vai ser votada pelo plenário da casa, se aprovada a cobrança do seguro será feita anualmente e poderá variar entre 50,00 e 60,00 reais. O não pagamento da taxa conta como infração grave.

O novo seguro vai cobrir despesas por morte e invalidez, reembolsar gastos por serviços funerários e reabilitação profissional de vítimas com invalidez parcial, cobertura de despesas médicas como próteses, fisioterapia e medicamentos.

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