Mais de 1400 animais foram atendidos pelo Cetas Goiânia em 2024

Mais de 50% dos animais resgatados são reabilitado a e soltos no habitat

Postado em: 15-05-2024 às 11h00
Por: Redação
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Veterinário Lucas Marçal faz tratamento de um Annu-Preto que colidiu com uma janela em Senador Canedo | Foto: Leandro Braz/O Hoje

João Reynol e Alexandre Paes 

Os acidentes são fontes comuns de internações em Goiás, como foi divulgado com exclusividade pelo jornal O HOJE no dia 1º de março, só nos primeiros dois meses de 2024 foram mais de 400 internações por acidentes de atropelamento. Contudo, o mesmo pode ser dito, sobre os casos com vítimas de animais silvestres no Estado. Muitos destes bichos são socorridos também por atropelamentos nas rodovias e cidades e acidentes dentro das casas.

Um exemplo disso ocorreu nesta segunda-feira (13) quando uma ave Annu-Preto colidiu com janela de uma residência em Senador Canedo, na Região Metropolitana de Goiânia. De acordo com Lucas Marçal, o médico veterinário, a ave chegou ao consultório dele com uma de suas asas quebradas e com sinais de hipotermia pela ferida, temperatura baixa. “Primeiro a gente aqueceu o paciente e posteriormente fizemos a medicação para dor do indivíduo. Depois que conseguimos estabilizar a ave nós fizemos uma bandagem para que a ferida possa se recuperar”, afirma o veterinário.

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Apesar disso, o quadro da Annu-preto já é considerado estável e mais simples pela equipe veterinária. Além disso, há a previsão da soltura da ave uma vez que receba alta do hospital. Contudo, não são muitos os animais que recebem essa oportunidade de retorno ou uma melhora completa. Como diz Lucas à equipe de reportagem, já recebeu um tamanduá atropelado em uma avenida goiana e que apresentou complicações que prolongaram o tratamento. 

“A gente teve um tamanduás que foi atropelado com um trauma crânico-encefálico, a gente teve que fazer uma operação para diminuir a pressão intracraniana dele. Depois de um tempo, descobrimos uma fratura e tivemos que fazer cirurgia ortopédica, ele começou a não manter a pressão sanguínea dele, então a gente também teve que tratar isso com soro”, afirma o veterinário. 

Este tamanduá que recusou a morrer conseguiu ter uma boa recuperação, contudo, não deve ser solta tão cedo, mesmo se locomovendo e se alimentando independentemente. Segundo o veterinário, o animal possui pinos ortopédicos nas patas fraturadas pelo atropelamento. Para que seja solto, comenta que será necessário a remoção dos pinos e futuros tratamentos com fisioterapia animal.

Como foi apurado com exclusividade pela equipe de reportagem do jornal O HOJE com dados cedidos pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres de Goiânia (Cetas-Go), houveram 1421 resgates de animais nos primeiros cinco meses de 2024. Deste número: 252 foram apreendidos pelo órgão, 110 animais foram entregues voluntariamente para o resgate, 52 foram socorridos pela própria instituição e 1007 foram resgatados profissionais da área como o Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBMGO). Este número de 2024 representa cerca de um quinto do total de todos animais resgatados todos os anos nos últimos quatro anos.

De acordo com Leonardo Caetano, Analista Ambiental do Cetas-Go e servidor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis em Goiás (Ibama-GO), grande parte destes animais resgatados chegam à instituição com ferimentos graves que precisam de tratamentos hospitalares extensivos. E aponta que o motivo disso é a interferência entre os habitats humanos e os naturais. “Hoje temos um conflito da fauna com o ser humano e a maioria das ações do homem causam um impacto que refletem nos animais. Esses bichos acabam chegando aqui, e a gente tem que lembrar que a maioria ainda morre por causa disso”, 

Conforme diz Leonardo, grande parte da entrada destes animais no centro de triagem é por conta de acidentes como atropelamentos, queimaduras, acidentes com janelas e portas de vidros. Diz que, em média, são 10 admissões por dia, com um montante de 4 mil internações médicas por ano. “Muitos desses animais resgatados nas cidades acabam parando aqui nos setas. A maioria morre, na verdade. Esses que chegam aqui entram já com estado crítico. Mas, a gente consegue reverter e salvar uma grande parte”.

Os animais sobreviventes que foram reabilitados pelo Cetas-GO

Apesar de uma possível grande chance da mortalidade destes animais com o motivo da ferida, os especialistas veterinários do Cetas-Go fazem o possível para que os bichos sejam tratados e futuramente reabilitados de volta ao habitat natural. Com meta de aumentar essas chances, a superintendência do Ibama-GO firmou uma parceria com a Organização Não Governamental Floresta Cheia que tem como objetivo o auxílio no atendimento, resgate e reabilitação dos bichos

Para Matheus Felipe Freire, biólogo do instituto, ao jornal O HOJE, o tratamento dos animais não é apenas na normalização da saúde, mas também como em oferecer ao bicho a vida que tinha antes do trauma. A partir de um acordo de cooperação técnica, membros da instituição conseguem acompanhar todos os animais que passam pelo Cetas-GO até o momento de sua soltura. “Atuamos dentro do Cetas-GO para oferecer subsídio de todo o processo de recebimento, reabilitação, tratamento, soltura e monitoramento dos animais. Esses animais passam por todo um processo de classificação para avaliar se estão aptos para voltar para o habitat”.

A partir desta avaliação, conseguem identificar qual método de soltura é mais indicado ao bicho. Segundo Matheus, existem dois métodos para que os animais consigam voltar ao habitat: a soltura direta e a branda. A soltura direta ocorre quando o animal apresenta uma melhora veterinária e pode ser encaminhado para um local cadastrado junto ao Ibama. A soltura branda acontece quando o animal tem de ficar de repouso em um local de aclimatação por alguma complicação médica, neste tempo terá o retorno lentamente ao contato com a natureza.

Além disso, as equipes da instituição Floresta Cheia instalam coleiras-rádio nos animais reabilitados para acompanhar pós-soltura em conseguem monitorar o local dos animais de Goiânia.

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