Celíaca: conheça a doença que afeta cerca de dois milhões de pessoas

A condição é desencadeada pelo consumo de glúten, uma proteína encontrada no trigo, aveia, cevada, centeio, e seus derivados

Postado em: 16-05-2024 às 12h00
Por: Ronilma Pinheiro
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Antes de levar pra casa, pacientes que sofrem com a celíaca precisam ler os rótulos e ver a composição dos produtos | Foto: Freepik

A celíaca é uma doença crônica, sistêmica e autoimune. A condição é desencadeada pelo consumo de glúten, uma proteína encontrada no trigo, aveia, cevada, centeio, e seus derivados, como massas, pizzas, bolos, pães, biscoitos, cerveja, uísque, vodca e alguns doces. Provoca dificuldade ao organismo para absorver os nutrientes dos alimentos, vitaminas, sais minerais e água. A explicação é da nutricionista do Centro de Oncologia IHG, gastrônoma, Lays Serafim Ribeiro.

Lays Serafim foi diagnosticada com a doença celíaca e atualmente é membro do Grupo de Apoio aos Celíacos do Estado de Goiás. Ela destaca que a condição é considerada uma doença ‘camaleoa’, uma vez que seus sintomas e sinais são amplos e variados, sem apresentar padrões, podendo até ser assintomática ou se apresentar na forma de outras doenças.

Devido a isso, há uma estimativa de que apenas 15% dos pacientes celíacos tenham sido diagnosticados, ou seja, apenas 1% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde. São mais de 200 tipos de sintomas relatados como possíveis na doença, de acordo com a nutricionista. Os sintomas mais comuns são: diarreia ou prisão de ventre crônica; dor abdominal; inchaço na barriga; danos à parede intestinal; falta de apetite; baixa absorção de nutrientes; osteoporose; anemia; e perda de peso e desnutrição.

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A doença não tem cura, sendo assim, o único tratamento é a dieta isenta de glúten. Segundo o Ministério da Saúde (MS), quando a proteína é excluída da alimentação os sintomas desaparecem. Nesse caso, a maior dificuldade para os pacientes é conviver com as restrições impostas pelos novos hábitos alimentares.

O órgão reitera que o paciente deve seguir a dieta rigorosamente pelo resto da vida. Além disso, destaca que é importante que os celíacos fiquem atentos à possibilidade de desenvolver câncer de intestino e a ter problemas de infertilidade.

No Brasil não existe um estudo multicêntrico que aponte a prevalência da doença no país. Segundo Ribeiro, tais fatores apontam para um número muito maior de casos que o conhecido até então.

O diagnóstico é feito por exame clínico com médico especialista, responsável por fazer a análise dos sintomas. Exames como a Biópsia do intestino, endoscopia, exames de sangue ou dieta restritiva sem glúten também podem ser requeridos pelo especialista.

Sobre a contaminação cruzada, ela ocorre quando há transferência direta ou indireta de contaminantes físicos, químicos ou biológicos de um alimento, utensílio, vetor ou manipulador para alimentos que serão consumidos, podendo ocorrer nas diferentes etapas do processo de produção do alimento como o pré-preparo, tratamento, armazenamento, transporte e serviço. Além dessas, existem outras formas de contaminação, como as esponjas, panos de prato, colher de pau, óleo para fritura, dentre outros.

Devido à restrição dos celíacos que só podem ingerir alimentos feitos em cozinhas descontaminadas, foi criada a Lei nº 10.674/2003 que tornou obrigatório que todos os alimentos industrializados informem em seus rótulos a presença ou não de glúten, como forma de resguardar o direito à saúde das pessoas com doença celíaca.

Campanha Maio Verde

A campanha Maio Verde surgiu em 2018 com o intuito de conscientizar a sociedade a respeito da doença, seus impactos na vida dos celíacos, a necessidade de melhora nos fluxos diagnósticos e cumprimento de leis acerca de rotulagem de produtos alimentícios.

No entanto, mesmo após sete anos de existência, a campanha ainda é pouco conhecida, é o que afirma Lays Serafim. “Há um longo caminho a ser percorrido para trazer visibilidade à doença, propiciar diagnósticos efetivos, rotulagens corretas, comercialização de alimentos seguros e, sem dúvidas, falar sobre a doença celíaca e tornar o mês de maio realmente verde”, destaca.

Com o intuito de difundir informações e promover a conscientização, o Grupo de Apoio aos Celíacos de Goiás vai realizar no próximo sábado (18), um encontro em prol da campanha Maio Verde. O encontro acontecerá no Parque Flamboyant, ao lado da central administrativa do parque, a partir das 9h.

Na reunião, serão realizadas oficinas para crianças e adultos, além de degustação de produtos sem glúten visando integração de celíacos, amigos e familiares, e a divulgação de informações de saúde sobre a doença.

O Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Celíaca é comemorado no dia 16 de maio. Em Goiânia, a Semana, que leva o mesmo nome, tem como objetivo informar a população sobre o impacto da condição celíaca, caracterizada pela intolerância ao glúten, proteína encontrada no trigo, aveia, cevada, centeio e derivados.

De acordo com o MS, a doença celíaca foi descoberta em 1888, pelo pediatra britânico Samuel Gee, porém, apenas no decorrer da década de 1940 houve o reconhecimento de que o glúten é o causador do transtorno. Willem Karel Dicke, médico holandês, durante os períodos de escassez alimentar da guerra, notou que a falta de pães e de produtos à base de trigo reduziam o número de casos, e acabou relacionando a proteína à doença.

A primeira dieta livre de glúten para pacientes com doença celíaca – que permanece sendo o único tratamento disponível até hoje, foi criada ainda no começo de 1950 pelo médico. Desde então, estudos são desenvolvidos e alguns passos importantes foram dados para o controle da problemática. Entretanto, a doença permanece pouco conhecida. Sendo persistente e silenciosa, tem sido subdiagnosticada em muitos pacientes.

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