Relatório da Câmara Municipal indica possível colapso no serviço de saúde 

Falta de insumos básicos, medicamentos, equipamentos e profissionais são os principais problemas apontados

Postado em: 20-05-2024 às 10h30
Por: João Victor Reynol de Andrade
Imagem Ilustrando a Notícia: Relatório da Câmara Municipal indica possível colapso no serviço de saúde 
Equipe de reportagem averiguou superlotação no Cais Chácara do Governador nesta sexta-feira (17) | Fotos: Alexandre Paes/O HOJE

Márcia Correia é uma mãe que está na espera há oito dias por uma vaga de internação para o seu filho Wesley com pneumonia e um derrame pleural. Ela, que aguarda na Os Centros de Atenção Integrada à Saúde (Cais) Chácara do Governador, relata para a equipe de reportagem uma cena de desespero quanto a saúde do seu filho. “Nós que dependemos da saúde pública sentimos uma sensação de descaso, porque com quem que podemos contar? Pelo que parece não há vagas, não há remédios, não tem nada”.

Do outro lado do quarto, na mesma sala da unidade de saúde, Messias Santos, um filho, que igualmente sofre, esperou por quase um mês para conseguir uma biópsia da unidade de saúde pública para seu pai, João Evangelista. Após este tempo de espera, conseguiu ser transferido para a Santa Casa de Misericórdia após acionar o Ministério Público. Ele, que já tem mais de 80 anos, possui dores constantes no corpo por causa de um tumor nas vias biliares. “A saúde é uma coisa fundamental para a gente. Então passar mais de 24 dias sem nenhuma resposta e sem nenhuma esperança é algo desumano”. 

Estes dois casos, e muitos outros que se repetiram nestes últimos meses, foram constatados em visitas técnicas da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Goiânia, do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) e do Conselho Municipal de Saúde. O objetivo das visitações era diagnosticar os problemas enfrentados no serviço de saúde municipal oferecidos em Cais e Unidades de Pronto Atendimento da Goiânia (UPAs). 

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O que foi deparado pela equipe é um colapso do serviço em grandes unidades da Capital e em zonas de grandes demandas de setores periféricos como Setor Vila Nova, Setor Campinas e Setor Cândida de Morais. No Cais Cândida de Morais, por exemplo, a equipe relatou que o estabelecimento só tinha 10 leitos de internações, mas havia 17 pessoas internadas, e muitas delas em macas pela superlotação. Um dos fatores que foi apontado por causa disso é o descompasso entre a comunicação da regulação do município com a regulação do Estado. Em outras palavras, há uma demora acima do normal nas transferências de pacientes de cais que necessitam de tratamento especializado.

De acordo com a presidente da Comissão, vereadora Kátia Maria (PT), em nota, foi encontrado uma deficiência não apenas de profissionais de saúde, mas como de insumos hospitalares básicos. De acordo com a equipe da comissão da parlamentar, uma servidora do Cais Chácara do Governador teve de usar o álcool de limpeza para aplicação de injeção em um paciente pela falta do álcool hospitalar. “Faltam insumos básicos como álcool, algodão e medicamentos, e isso é um absurdo. [Além disso] vimos  uma gravidade muito grande na superlotação desses locais”, diz a parlamentar.

Também um outro caso compartilhado a equipe de redação que algumas unidades não possuem equipamentos e aparelhos médicos básicos na maior parte do tempo. De acordo com vídeo compartilhado com a equipe de reportagem do jornal O HOJE, funcionários reclamam da falta de cateter intravenosos específicos para as veias de crianças, obrigando pais e responsáveis a desembolsar pelo produto para o paciente receber ajuda como no uso de soro intravenoso. “Falta material e a gente fica sem poder atender a população. Aí xingam a gente, mas a culpa não é nossa”, relato compartilhado de uma servidora. 

De acordo com a vereadora, essas e outras distorções estão em desacordo com regras e leis estipuladas pelo Ministério da Saúde e pela Agência Sanitária. Contudo, alega que a Prefeitura de Goiânia nega o cenário de colapso e diz estar de acordo com as regras estipuladas pelo governo federal.

De acordo com a vereadora em uma coletiva de imprensa, todas as informações coletadas serão organizadas em um relatório e enviadas para a Prefeitura de Goiânia e o Ministério Público de Goiás (MP-GO). Além disso, no mesmo dia também será feita uma reunião do corpo investigativo junto a prefeitura da Capital e com o MP-GO a fim de reverter a situação da saúde municipal.

Segundo informou a Secretaria Municipal de Saúde, em nota, alegam que todas as unidades de saúde estão com profissionais e que não há falta de insumos. 

Nota da secretaria na íntegra

“A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) esclarece que todas as unidades visitadas pela vereadora no dia 17/5, estão com quadro completo de médicos e não existe a falta dos insumos citados. A UPA Dr Paulo de Siqueira Garcia, no setor Chácara do Governador recebeu, na tarde do dia 16/5, um total de 80 litros de álcool e 20 rolos de algodão, cada um com 250 gramas, ou seja, cinco quilos de algodão. Graças ao quadro completo de médicos, apesar da grande procura por atendimento, o tempo médio de espera dos pacientes é de menos de uma hora”. (Especial para O Hoje)

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