Câncer de próstata poderá ser identificado com exame de urina

O MyProstateScore 2.0 (MPS2) é um teste de detecção de DNA na urina para análise de 18 genes que demonstra maior precisão diagnóstica para câncer de próstata de alto grau

Postado em: 31-05-2024 às 05h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Câncer de próstata poderá ser identificado com exame de urina
O teste possui alta sensibilidade para câncer de alto grau, sendo 95% para câncer de próstata de grau 2 | Foto: Freepik

Um estudo publicado pela JAMA Oncology – revista médica mensal revisada por pares e publicada pela American Medical Association -, apresentou um novo teste de urina, capaz de identificar o câncer de próstata. 

O MyProstateScore 2.0 (MPS2) é um teste de detecção de DNA na urina para análise de 18 genes que demonstrou maior precisão diagnóstica para câncer de próstata de alto grau em comparação com os testes de biomarcadores existentes.

De acordo com o estudo, o MPS2 mostrou uma sensibilidade de 95% para câncer de próstata de grau 2 ou maior, o que significa que ele pode evitar biópsias desnecessárias em 35% a 51% dos homens, com um valor preditivo negativo de 95% a 99%.

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Para entender melhor sobre o novo exame, convidamos o médico oncologista no Hemolabor, Uirá Resende, que trouxe informações contundentes a respeito do MPS2. O especialista explica que se trata de um teste relativamente simples e não invasivo. “Ele começa com a coleta de uma amostra de urina do paciente. A urina é então enviada para um laboratório especializado onde será analisada”, detalha.

No laboratório, a urina passa por um processo de sequenciamento de RNA que busca 18 genes específicos associados ao câncer de próstata de alto grau. Tais genes foram identificados como marcadores de cânceres mais agressivos e de alto risco pela medicina. Entre esses marcadores, estão os genes PCA3 e TMPRSS2, conhecidos por estarem associados ao câncer de próstata.

Na prática, os marcadores genéticos são combinados com informações clínicas, como os níveis de Antígeno Prostático Específico-PSA no sangue do paciente, para calcular a probabilidade de o paciente ter um câncer de próstata de alto grau. “Esse cálculo é feito através de um modelo que integra todos esses dados para fornecer um resultado preciso”, pontua o médico.

Caso haja uma baixa probabilidade de câncer de alto grau, pode-se evitar a realização de uma biópsia, o que é um grande benefício, segundo o oncologista, especialmente em contextos onde os recursos médicos são limitados, como em algumas regiões do Brasil. “Isso torna o processo de diagnóstico mais eficiente, menos invasivo e potencialmente mais acessível para os pacientes”, salienta Resende.

Quem pode fazer o teste?

Não há contraindicações específicas para a realização do teste de urina MPS2, ou seja, qualquer paciente pode fazer. No entanto, assim como os exames convencionais, ele deve ser interpretado no contexto clínico de cada paciente. “É importante que o médico responsável avalie todos os aspectos da saúde do paciente e outros fatores de risco antes de decidir pela realização do teste”.

Resende destaca também que o MPS2 pode não ser adequado para todos os casos, especialmente em pacientes com infecções urinárias ou outras condições que possam interferir nos resultados. “Por isso, é essencial o acompanhamento médico para garantir a melhor abordagem diagnóstica”, reitera.

Orientações

O resultado preciso do exame está associado aos processos a serem seguidos pelos pacientes. Assim, Resende lista uma série de recomendações que precisam ser seguidas para garantir a precisão do resultado.

Evitar atividade física intensa é recomendado, uma vez que as atividades intensas podem afetar os níveis de PSA e outros marcadores presentes na urina. A abstinência sexual também precisa ser evitada, já que a ejaculação pode influenciar os níveis de PSA na urina, potencialmente afetando os resultados do teste.

É importante manter o corpo hidratado antes da coleta da urina, já que beber água ajuda na obtenção de uma amostra de urina de boa qualidade e ajuda a prevenir a infecção urinária, fator que pode interferir nos resultados do teste.

Limitações e Capacidades do Teste

O  MPS2 foi projetado para detectar com alta precisão os cânceres classificados como grau 2 ou maior, o que inclui os estágios mais avançados e agressivos da doença. O teste possui alta sensibilidade para câncer de alto grau, sendo 95% para câncer de próstata de grau 2 ou maior e 99% para grau 3 ou maior. “Isso significa que ele é extremamente eficaz na detecção de cânceres mais agressivos, o que é crucial para a intervenção precoce e o tratamento eficaz”, afirma Resende.

Além disso, o estudo mostra que o exame possui baixa probabilidade de falsos negativos. O valor preditivo negativo (NPV) do teste é de 95% a 99%, o que indica que se o teste não detectar câncer, a probabilidade de o paciente ter um câncer de alto grau é muito baixa.

Apesar do teste ter sido projetado para detectar com alta precisão os cânceres classificados como grau 2 ou maior, o que inclui os estágios mais avançados e agressivos da doença, ele é menos sensível para detectar cânceres de próstata de grau 1, que são geralmente menos agressivos e menos propensos a metastatizar.

“Isso significa que alguns cânceres em estágio inicial podem não ser detectados pelo MPS2”, explica o oncologista, ao destacar que o MPS2 deve ser utilizado como uma ferramenta complementar ao PSA sérico e outras avaliações clínicas. “A combinação de diferentes métodos diagnósticos pode proporcionar uma avaliação mais abrangente da condição do paciente”, acrescenta.

O MPS2 está disponível no Brasil?

O teste de urina MyProstateScore 2.0 ainda não está amplamente disponível no Brasil. A introdução de novas tecnologias diagnósticas no país pode envolver várias etapas, incluindo aprovação regulatória, adaptação de infraestrutura laboratorial e treinamento de profissionais de saúde.

Para chegar em solo brasileito, o teste precisa passar pela aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), processo que demanda tempo, uma vez que envolve uma avaliação rigorosa de segurança, eficácia e qualidade.

Uirá Resende comenta que no contexto do sistema de saúde brasileiro, a alta sensibilidade do MPS2 para cânceres de alto grau é extremamente vantajosa. “Isso porque pode ajudar a priorizar recursos diagnósticos e terapêuticos para os casos mais graves, evitando biópsias desnecessárias e reduzindo o número de procedimentos invasivos para os pacientes”, finaliza.

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