Indústrias e empresas de vidros se preparam para novas metas de reciclagem

Índice de reciclagem do material é de apenas 11%, o menor de todos

Postado em: 01-06-2024 às 05h00
Por: João Victor Reynol de Andrade
Imagem Ilustrando a Notícia: Indústrias e empresas de vidros se preparam para novas metas de reciclagem
Amontoados de cacos de vidros coletados para o transporte e revenda do material | Foto: Divulgação/Cooper Rama

Dentre os materiais recicláveis que fazem parte da coleta seletiva como plástico, matéria orgânica, metal e papel, o vidro é o que é menos reciclado, e ainda assim, é dos que menos podem causar danos ao meio ambiente. Como diz a última pesquisa do Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir) em 2019, apenas 11% do material é reciclado no território brasileiro. Com isso, é o que possui a menor taxa de recuperação se comparado aos outros materiais que compõem a coleta seletiva como papel e papelão (39%), plástico (24%), e metal (12%).

A nível estadual em 2019, pela mesma pesquisa do Sinir, de todos os materiais recuperados o vidro integrava cerca de 4% desta parcela, cerca de 450 toneladas de embalagens de vidro. Vale lembrar também que o estado possui duas grandes indústrias de cervejarias que transportam o material no mercado para os diversos bares e restaurantes do Estado.

Além disso, a pesquisa concluiu que apenas 70,37% dos Estados possuíam Planos Estaduais para Resíduos Sólidos sobre a reciclagem do vidro e que apenas 2.487 municípios possuem um Plano Municipal sobre o tema, cerca de 44,65% dos locais pesquisados. Em Goiás, ainda não há uma política pública específica neste âmbito. Porém, no ano de 2023 foi instituído uma lei de logística reversa de embalagens em Goiás que prevê que todas as empresas que vendem ou comercializam essas embalagens, inclusive de vidro, tem que custear a reciclagem de 22% de toda essa mercadoria.

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O grande desafio para Goiás, como conta o diretor executivo da Associação Brasileira Gestora da Logística Reversa de Embalagens de Vidro (Circula Vidro), Fabio Ferreira, ao jornal O Hoje, é que muitas fábricas de reciclagem se concentram nas regiões litorâneas do País. Essa falta na cadeia da reciclagem, culminado com o baixo valor agregado do vidro se comparado com outros materiais, criou um ambiente por muitos anos de baixa busca na logística reversa do material.

Contudo, em 2022 foi publicado o Decreto Federal No 11300/2022 que instituiu um sistema de logística reversa de embalagens de vidro para toda a nação. Como uma das metas da lei, foi previsto um objetivo nacional de reciclagem de cerca de 30% para o ano de 2023. Contudo, assim como a meta inicial de 2014 do fim dos lixões pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos, teve de ser adiado para uma maior adequação ao projeto.

Agora, as indústrias e empresas que lidam com embalagens de vidros necessitam se reorganizar para adequar as novas metas. Isso significa um maior investimento na logística reversa, como um maior interesse na reutilização dos vidros nas próprias fábricas. “Um dos efeitos deste projeto é que aumentou a demanda e a coleta desse vidro por toda a cadeia produtiva”. De acordo com Fábio, a associação gestora funciona por ser a ponte de comunicação entre as diferentes etapas da cadeia e visam uma nova pesquisa da cadeia do vidro para obter dados atualizados da situação do material a nível nacional.

Para Dulce Vale, presidente da Cooperativa de catadores Cooper Rama, esse decreto também significou um aumento no valor da revenda do material para as fábricas. Segundo ela, o valor do produto em Goiás era R$ 0,4 por quilo, mas hoje em dia é vendido R$ 0,18 pela mesma quantidade. Como diz, atualmente Goiás possui duas empresas que compram o material das cooperativas e empresas de coleta seletiva, por causa disso, há muita competitividade no mercado em Goiás. Como exemplo, cita que existem 52 empresas de coleta seletiva só na Região Metropolitana de Goiânia.

Apesar disso, Dulce fala como o aumento do valor da revenda não resultou no aumento do valor agregado do material, uma vez que os impostos e a taxa do transporte sobre a revenda do vidro coletado podem retirar fatias do lucro da cooperativa de um produto com valor já reduzido. “Hoje em dia tá difícil vender o vidro porque é a gente que paga o transporte do material para as empresas, depois tem que pagar cerca de 19% do valor em imposto, e se for para outro estado tem que pagar o ICMS também”.

Para ajudar a tornar o processo de revenda mais viável, comenta como a parceria da Universidade Federal de Goiás (UFG) através do novo Polo de Tecnologias Sociais e Sustentabilidade (PTSS) já pode dar frutos. Segundo ela, o primeiro projeto do PTSS visa reformular o transporte do material das cooperativas para as empresas que compram vidro, aumentando o volume e o peso do material transferido e assim o lucro e a reciclagem do material.

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