Ceratocone: doença rara atinge principalmente jovens entre 10 e 25 anos

Mais de 150 mil brasileiros são afetados pela doença genética que provoca a degeneração da córnea todos os anos, segundo Ministério da Saúde

Postado em: 05-06-2024 às 06h00
Por: Ronilma Pinheiro
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Os pacientes com ceratocone geralmente apresentam sintomas como baixa visão, visão distorcida e dificuldade em obter uma visão clara | Fotos: Arquivo Pessoal/Gabriela Ventura

A ceratocone é uma condição oftalmológica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, apresentando desafios significativos para aqueles que vivenciam seus sintomas e complicações. Trata-se de uma doença genética rara, com uma maior incidência em pessoas com idades entre 10 e 25 anos. No Brasil, a enfermidade atinge cerca de 150 mil pessoas por ano, de acordo com o Ministério da Saúde (MS).

Para explicar sobre essa condição complexa e muitas vezes mal compreendida, conversamos com a médica oftalmologista e especialista em Ceratocone, Gabriela Ventura. A médica afirma que a ceratocone é uma degeneração da córnea que tem raízes tanto genéticas quanto ambientais.

Embora sua origem hereditária seja um fator determinante, a influência de fatores ambientais, como o hábito de coçar os olhos, pode precipitar e agravar a condição. Esta degeneração progressiva geralmente se manifesta na adolescência até o início da idade adulta, exigindo uma atenção precoce e contínua.

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Uma das características distintivas da ceratocone é a sua natureza bilateral e assimétrica. Embora afete ambos os olhos, é comum que um olho seja mais gravemente afetado do que o outro. Isso se deve às alterações na composição das camadas da córnea, incluindo o colágeno, que tornam a córnea mais propensa a deformações ao longo do tempo. 

Sintomas

Há casos de pessoas com história da doença na família que apresentam um quadro de ceratocone subclínico, ou seja, sem sintomas. Mas de modo geral,  os pacientes geralmente apresentam sintomas como baixa visão, visão distorcida e dificuldade em obter uma visão clara, mesmo com o uso de correção visual, como óculos ou lentes de contato.

Além desses, outros sintomas podem surgir, como a sensibilidade à luz (fotofobia); comprometimento da visão noturna; visão dupla (diplopia); formação de múltiplas imagens de um mesmo objeto (poliopia) ou de halos ao redor das fontes de luz.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico precoce é fundamental para gerenciar eficazmente a ceratocone. Exames especializados, como a tomografia de córnea, são frequentemente utilizados para identificar alterações na forma da córnea, que assume uma configuração cônica característica. No entanto, muitas vezes, a conscientização dos sintomas é o primeiro passo para buscar ajuda médica.

Quando se trata de tratamento, Ventura enfatiza a importância de prevenir o hábito de coçar os olhos. Este comportamento pode acelerar a progressão da doença, tornando essencial desencorajar os pacientes, especialmente aqueles com histórico familiar de ceratocone, de coçar os olhos.

Além disso, são adotadas abordagens que visam estabilizar e melhorar a visão, como o uso de medicamentos para alergias oculares e, em casos mais graves, procedimentos como o implante de anel corneano ou o crosslinking – procedimento cirúrgico, em que é depositada uma solução contendo riboflavina, ou seja, vitamina B2, na córnea do paciente com ceratocone, juntamente com a aplicação de um espectro de radiação ultravioleta (UVA) por cerca de 30 minutos.

O tratamento não se limita apenas à abordagem clínica, mas também envolve educar os pacientes sobre a importância da detecção precoce e do manejo adequado da condição, explica a oftalmologista. Consultas oftalmológicas regulares são recomendadas, com visitas anuais permitindo o monitoramento contínuo da condição e a adaptação do tratamento conforme necessário.

Desafio oftalmológico exige cuidados especiais e prevenção

Não é sabido pelos especialistas ainda como prevenir o aparecimento da doença ocular, uma vez que a ceratocone é uma doença de caráter genético e hereditário. Apesar disso, é possível controlar a evolução da enfermidade nas pessoas geneticamente predispostas.

Para Gabriela Ventura, a prevenção é igualmente crucial no enfrentamento da ceratocone. Além de evitar coçar os olhos, Ventura destaca a importância de promover uma cultura de cuidados oculares desde a infância. “Incentivar exames oftalmológicos regulares desde tenra idade pode ajudar a identificar precocemente quaisquer sinais de ceratocone, permitindo intervenções oportunas e melhorando o prognóstico dos pacientes”, orienta a médica.

Além de corrigir o hábito de coçar os olhos, também é importante tratar a rinite alérgica, as alergias dermatológicas e a asma, caso o paciente tenha alguma dessas alergias que podem causar a coceira. É importante, também, avaliar as condições de adaptação e higiene das lentes de contato, se for o caso.

O MS reforça que crianças e adolescentes devem consultar regularmente o oftalmologista, principalmente se existirem casos de ceratocone na família. O diagnóstico precoce é fundamental para controlar a progressão da doença e preservar a acuidade visual.

Por fim, a médica oftalmológica, Gabriela Ventura, destaca que a ceratocone é uma condição ocular desafiadora que exige uma abordagem multifacetada para diagnóstico, tratamento e prevenção. Porém, com conscientização, educação e cuidados adequados, é possível melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados por essa condição oftalmológica complexa.

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