Mesmo com reajuste da ANS, usuários preferem manter planos de saúde 

Os planos de saúde individuais e familiares podem ficar até 6,91% mais caros em 2024, segundo o reajuste anunciado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar

Postado em: 06-06-2024 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
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No dia 1º de maio, a família do Gustavo Ramos celebrou o nascimento de Arthur, um momento de alegria que também trouxe desafios logísticos | Foto: Leandro Braz/O HOJE

O reajuste dos planos de saúde, anunciado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) nesta semana, tem sido tema de preocupação para muitos brasileiros, especialmente em um cenário econômico desafiador.

De acordo com a decisão, os planos de saúde individuais e familiares podem ficar até 6,91% mais caros em 2024. Quase 8 milhões de beneficiários terão seus contratos impactados pela medida, o que representa 15,6% dos 51 milhões de consumidores de planos de assistência médica no País.

Enquanto o debate sobre a acessibilidade aos serviços de saúde continua, famílias como a de Gustavo Ramos, jornalista esportivo de 28 anos, enfrentam dilemas sobre como equilibrar a proteção da saúde com as pressões financeiras do dia a dia.

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Ao jornal O Hoje, Gustavo compartilha sua história de altos e baixos com o sistema de saúde brasileiro, onde os planos de saúde desempenham um papel crucial. Em sua casa, composta por ele, sua esposa Giovanna Micheleti, 21, e o pequeno recém-nascido Arthur, a gestão dos planos de saúde tornou-se uma parte significativa da rotina familiar.

No último dia 1º de maio, a família celebrou o nascimento de Arthur, um momento de alegria que também trouxe desafios logísticos. Atualmente, são beneficiários da Unimed, uma cooperativa de saúde operando no regime de co-participação. O valor mensal fixo do plano é de 333 reais, mas varia de acordo com a utilização dos serviços. Em meses de maior demanda, a mensalidade chegou a atingir 760 reais, enquanto em períodos de menor necessidade, permaneceu em 333 reais.

Com a chegada de Arthur, a Unimed ofereceu à família a possibilidade de incluí-lo no plano de Giovanna, transformando-o em um plano familiar. Esta transição implicará um acréscimo de 189 reais à mensalidade, oferecendo, no entanto, uma vantagem crucial: carência zero para Arthur. Isso significa que todas as necessidades médicas relacionadas ao novo membro da família serão atendidas imediatamente, sem esperas.

No entanto, a história de Gustavo com planos de saúde não é apenas sobre alegrias familiares. Anteriormente, ele e Giovanna eram segurados pelo plano de saúde HapVida, anteriormente conhecido como América Plano de Saúde. Infelizmente, essa experiência foi marcada por uma tragédia pessoal: o falecimento de sua filha Ágata. “Durante o período de pré-natal e parto, o plano deixou muito a desejar em termos de atendimento e suporte médico”, resultando em um desfecho devastador.

“A gente adquiriu o plano de saúde em novembro de 2021. O parto aconteceu em setembro de 2022, e a carência do plano de saúde já não era mais um impedimento para fazermos o parto naquela época, de acordo com o plano contratado”, lembra Gustavo ao falar do descaso do serviço no parto da sua primogênita que perdeu a vida ainda no processo de nascimento.

Os pais resolveram processar o Hapvida em novembro de 2022. “O processo foi iniciado em fevereiro de 2023, logo após a liberação do laudo de necrópsia de Ágata. Em outubro de 2023, passamos pela audiência de instrução e agora estamos aguardando a data da primeira audiência em juízo cível”, compartilha.

Diante dessa situação, Gustavo e Giovana optaram por migrar para a Unimed e iniciaram um processo legal contra a Hapvida e o diretor do Hospital América, buscando justiça e responsabilização pelos acontecimentos que levaram à perda precoce da filha. Atualmente, aguardam a audiência judicial para obter uma resolução sobre o caso.

“Ainda é melhor ter cobertura de plano de saúde”

Em meio ao recente anúncio de reajuste dos planos de saúde pela ANS, Gustavo Ramos, lamenta o impacto financeiro que essa medida acarreta ao seu orçamento familiar. No entanto, ele ressalta a importância de manter uma cobertura de saúde privada, mesmo diante das dificuldades financeiras.

“Mesmo com um reajuste que compromete nosso orçamento mensal, porque tudo aumenta no Brasil, menos o salário, ainda é melhor ter uma cobertura de plano de saúde do que não ter”, afirma Ramos. Ele destaca a preocupação especial com a saúde do filho recém-nascido afirmando que “todo cuidado é pouco” nessa fase crucial do desenvolvimento infantil.

Gustavo Ramos enfatiza que cancelar ou trocar de plano de saúde não é uma opção viável para sua família, dada a atual situação. Desde o nascimento de seu filho Arthur, garantir uma cobertura de saúde adequada foi uma prioridade. Ele ressalta a confiabilidade da Unimed, cooperativa da qual é conveniado, destacando que nunca enfrentaram problemas e sempre receberam os serviços conforme contratado.

“No entanto, se os aumentos persistirem, com certeza a gente fica sem saída”, observa Ramos, ao falar sobre o seu limite financeiro e a necessidade de buscar alternativas caso os custos dos serviços continuem a subir. “A partir do momento que não dá mais, a gente tem que ver o que faz”, conclui.

Mudança

Apesar do aumento, o teto de reajuste para este ano, ainda  ficou abaixo do fixado em 2023, quando o percentual foi de 9,63%. Em 2022, o reajuste foi ainda maior, ficando em 15,5%, sendo o maior em 22 anos.

O diretor-presidente da ANS, Paulo Rebello, disse ao portal Uol de notícias, que “ o índice definido pela ANS para 2024 reflete a variação das despesas assistenciais ocorridas em 2023 em comparação com as despesas assistenciais de 2022 dos beneficiários de planos de saúde individuais e familiares”. 

Ainda de acordo com a ANS, o reajuste pode ser aplicado no mês em que o plano foi contratado. No caso daqueles planos que foram contratados em maio e junho, a cobrança deverá ser iniciada em julho ou, no máximo, em agosto.

Por meio de nota enviada ao jornal O HOJE, a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) disse que o reajuste dos planos de saúde individuais e familiares determinado pela ANS é estipulado com base em uma “fórmula transparente e replicável prevista em norma e que utiliza dados públicos e auditados no cálculo”. Tal fórmula não prevê a recomposição do aumento do custo médico hospitalar, gerando índice de reajuste inferior por conta de mudanças no perfil dos planos contratados e dos descontos pelo fator de eficiência e faixa etária.

Segundo a Abramge, o índice de reajuste de 6,91% estipulado pela ANS não atende às reais necessidades do setor, e sua insuficiência coloca em risco o atendimento a milhões de brasileiros. Esta preocupação é agravada pelo fato de que pelo menos 89 operadoras, responsáveis pela cobertura de 1,8 milhão de beneficiários, enfrentam sérias dificuldades financeiras devido à sinistralidade acima de 100% nos planos individuais.

A Associação disse ainda que o reajuste não prevê a recomposição do aumento do custo médico hospitalar, resultando em um índice inferior à variação das despesas identificadas pela ANS, que foi de 10,16%. Isso cria um desequilíbrio significativo entre as operadoras de planos de saúde de diferentes perfis e portes, comprometendo ainda mais a oferta do produto.

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